Caro(a) leitor(a),
Esta é minha última newsletter “Os mercadores da noite” escrita antes de sete de setembro, data na qual estão previstas grandes manifestações bolsonaristas em várias cidades do país, com destaque para a de São Paulo, na qual o próprio presidente promete estar presente.
Não duvido que, por receio do início de uma grave crise institucional, que se seguiria ao grito da independência, versão 2021, o mercado de ações sofra uma queda defensiva na segunda-feira, dia 6.
O mercado de ações poderá exagerar nessa segunda, talvez oferecendo boas oportunidades de compra. É bom lembrar que, sendo um dia útil espremido entre um fim de semana e um feriado, a liquidez deverá ser baixa.
Não vejo como Bolsonaro possa mudar alguma coisa em sua administração, e no resultado das eleições de 2022, com essa participação nas passeatas, carreatas e motociatas previstas em lugar do tradicional e austero desfile militar (e escolar, nas cidades pequenas) com o qual a data costuma ser comemorada.
No momento, o Planalto está sem apoio no Congresso, no Supremo, no alto comando das Forças Armadas e na opinião pública.
É rara a sessão do Legislativo na qual não se rejeite, ou se deforme, projetos vindos do Executivo. Isso quando os parlamentares não derrubam vetos do presidente.
O Supremo Tribunal Federal é caso à parte. Até o julgamento do mensalão, a maioria das pessoas nem sabia no nome dos ministros.
Depois daquele episódio, veio o Petrolão. A essa altura, os integrantes da Alta Corte já eram figurinhas fáceis. Naquele julgamento da prisão após segunda instância, cujo resultado se deu por apenas um voto, muita gente virou a noite para testemunhar o veredicto.
Até poucos anos atrás, os presidentes da República costumavam dizer: “Decisão do Supremo não se discute. Cumpre-se.”
Antes, durante o regime militar, o governo editava atos institucionais, não apreciáveis pelo STF nem pelo Congresso. E nenhuma dessas instituições (Supremo, Câmara dos Deputados e Senado) se insurgiu de verdade.
Muito pelo contrário, o primeiro presidente militar, Humberto de Alencar Castelo Branco, foi eleito numa sessão conjunta do Congresso.
Agora, a situação de Jair Bolsonaro é muito mais difícil. Além de ser apenas capitão da reserva, a qualquer momento poderá ver suas ordens desobedecidas por algum oficial superior das Forças Armadas.
Sei que esta coluna tem como objetivo tratar do mercado. Mas, quando as Bolsas se ligam à questão política, não há como ignorá-la
Creio que se houvesse possibilidade de uma grave ruptura institucional ou, pior, se uma luta fratricida estivesse a caminho, o dólar não estaria sendo cotado pouco acima de cinco reais.
Estaria havendo fuga em massa de capitais.
Às vezes, é bom examinar a situação de um país como se fosse uma pessoa de fora, sem envolvimento emocional. Os estrangeiros estão comprando ações brasileiras, cujos preços em dólares estão muito baixos.
Com as perspectivas da economia crescer muito pouco em 2022, ou até mesmo não crescer nada, é bem possível que o BC se abstenha de uma política mais hawkish, apesar da inflação estar acima do teto da meta (5,25%) fixada pelo Conselho Monetário Nacional.
Segundo o último boletim Focus emitido pelo Banco Central, o IPCA de 2021 será de 7,27%.
Tudo indica que, mais por falta de alternativas, boa parte das aplicações continue indo (apesar do medo) para a renda variável.
A possibilidade do Brasil, mesmo se Lula for eleito, se tornar um país socialista, com estatização de empresas e restrições ao capital estrangeiro, é simplesmente nula. Ele não terá cacife político para isso.
Quando se lê as notícias nos jornais, a sensação é péssima. Mas acontece que o país tem empresas modelos, supercompetitivas, mesmo para padrões internacionais.
A maior parte delas está cotada na B3. É lá que estão as boas oportunidades. Não sem um certo sofrimento e roer de unhas.
Um forte abraço e um ótimo feriadão.
Ivan Sant´Anna