Mercadores da Noite #239: Weather Market

28 de agosto de 2021
Uma coisa é certa: teremos um Weather Market no Brasil neste segundo semestre de 2021.

Caro(a) leitor(a),

Weather Market (mercado meteorológico, numa tradução livre) é quando as cotações de algumas commodities são influenciadas por chuvas, ausência de chuvas, calor ou frio em excesso. Enfim, quando o tempo foge do padrão normal.

Nos Estados Unidos, as commodities mais afetadas pela meteorologia são os grãos e o petróleo.

Em 1988, por exemplo, ganhei uma nota preta apostando na alta da soja comprando contratos futuros na CboT – Chicago Board of Trade.

Eis como narro um bull market no Meio-Oeste americano na página 56 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa:

No quadrilátero entre os Grandes Lagos, ao norte, os montes Apalaches, a leste, os campos de Oklahoma, ao sul, e as montanhas Rochosas, a oeste, foram registrados os menores índices pluviométricos desde que os índices começaram a ser medidos.

Nos normalmente férteis campos de Iowa, Illinois, Indiana e Missouri, as plantações simplesmente não se desenvolviam. Os fazendeiros olhavam desolados para as vagens secas e esturricadas, procurando ao longe, no horizonte, alguma nuvem anunciando a chuva. Mas esta não chegava. Devido à primavera chuvosa, as raízes das plantas haviam se aprofundado pouco no solo. Não conseguiam, agora, absorver o pouco de umidade existente embaixo da terra.

Se não havia chuva, pior era o calor. Temperaturas só atingidas no Dust Bowl em 1934 eram registradas todos os dias. As nuvens de pó escondiam a paisagem desolada. A água foi racionada em Minneapolis, Saint Paul, Omaha, Kansas City e Saint Louis. As pessoas ficavam em casa, deitadas junto ao ventilador, sem ânimo para o trabalho. Em Chicago, à noite, a população levava suas cadeiras para as ruas, tentando refrescar-se com a brisa vinda do lago Michigan.”

Outro mercado que é muito influenciado pelo clima é o de óleo de aquecimento (heating oil), negociado na Nymex, em Nova York.

Mais importante do que o frio ser intenso, é ele começar cedo, por volta do final de setembro ou início de outubro. Uma vez que as pessoas ligam o aquecimento de suas casas e apartamentos, a tendência é que o sistema permaneça ligado até o final do inverno, mesmo que a primeira onda de frio seja seguida de um período de temperatura amena.

É como faço com os aparelhos de ar-condicionado daqui de casa, no Rio. Hoje é 28 de agosto, portanto ainda inverno, e eles já estão ligados, simplesmente porque o calor chegou cedo este ano.

Atualmente, jornais e telejornais brasileiros comentam todo dia a possibilidade de que falte energia e água no país. Em ambos os casos, isso causará recessão e afetará o mercado.

Chuvas, estiagem, as duas coisas afetam sobremaneira a economia, tal como acontece na Índia, Paquistão e Bangladesh.  Nesses três países, que formam o subcontinente asiático, a intensidade e a duração das monções (períodos de chuva) fazem a diferença entre abundância e escassez.

Se chove bastante, mesmo com inundações nos rios Ganges, Hindus e Padma, as águas trazem prosperidade. Monções pouco volumosas ou de pequena duração provocam recessão.

Curiosamente, as monções na Índia afetam até os mercados de ouro e prata, pois os indianos têm um hábito milenar de poupar comprando metais preciosos ou até mesmo joias.

No Centro-Oeste brasileiro, as pessoas costumam dizer que, se as chuvas não chegam até o Dia de Finados, isso é sinal inequívoco de que a seca se consumou.

Já em algumas partes do Nordeste, onde o padrão climático é diferente do resto do país, a crença é de que se não chove até o dia de São José (19 de março), o ano será de seca.

Aliás, o próprio conceito de verão e inverno é diferente no Norte e Nordeste do país. Nessas regiões, verão é o período em que não chove; inverno, época das águas.

Mais do que em qualquer outra época recente, as chuvas precisam ser abundantes este ano. Mais do que isso, é necessário que cheguem logo para encher as represas.

Caso contrário, a economia desandará trazendo em seu bojo mais inflação e prejudicando severamente as atividades agrícolas e pecuárias. Nesse caso, inevitavelmente, haverá um bear market na B3.

Uma coisa é certa: teremos um Weather Market no Brasil neste segundo semestre de 2021.

Um forte abraço e um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant´Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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