Ideias do Paletta #29 - Fazer dinheiro ou fazer previsões?

5 de outubro de 2020
Revolução quantitativa jogará a favor dos seus investimentos a partir desta quarta-feira

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Olá leitor(a)!

Por muito tempo fui resistente à aplicação de técnicas quantitativas e estatísticas no processo de seleção de bons investimentos na bolsa.

Por ter varado noites no começo da carreira lendo Benjamin Graham, Warren Buffett e Philip Fisher – pais do value investing (investimento em valor) – entendia que boas oportunidades de investimento surgiam a partir de um trabalho de análise árduo e minucioso, lapidando sempre um diamante de cada vez, como um artesão.

Era como se toda boa obra fosse precedida por uma silenciosa e imaculada tela em branco.

Para ganhar dinheiro no mercado, me parecia existir uma única saída: entender extremamente bem um negócio, quais executivos envolvidos na gestão, as perspectivas setoriais, os desafios jurídico-institucionais, entre outros fatores cruciais para construção de um negócio virtuoso.

Até conectá-los, claro, com tudo que acontece ao seu redor. Sempre do micro para o macro.

Não há nada errado em fazer isso, muito pelo contrário: fundamento todas minhas análises no uso deste processo. Faço isso de maneira muito mais macro do que micro – dos fatores externos à execução interna –, mas conheço muita gente boa no mercado que faz bastante dinheiro gastando sola de sapato.

O ponto é que por muito tempo ignorei a aplicação da tecnologia em favor da sistematização do que Ray Dalio, fundador da gestora norte-americana Bridgewater, brilhantemente chamou de Princípios.
 

Não evite a dor; busque-a

Dalio percebeu, pelas dores do tempo, que a melhor forma para obter bons resultados, não só na bolsa, mas na vida, era anotar cada um dos seus movimentos decisórios, como movimentos de um grande xadrez.

A sacada é: ao mapear os princípios e compará-los com eventos passados, é possível ter noção mais precisa do que pode acontecer adiante e entender de qual forma e por quais motivos a decisão foi tomada antes do fato concretizado. 

Evitando ser técnico aqui, vou dar um exemplo simples...

Imagine que um ambulante vende mercadorias na porta do metrô todos os dias. Em dias de sol, leva um carrinho de picolé. Em dias de chuva, leva capas de proteção.

Fazendo isso por muitos anos, ele acorda cedo, ouve a previsão do tempo no rádio, olha para o céu e toma sua decisão.

Nesse sistema de tomada de decisão, o seu tempo de experiência é fundamental para obter o melhor resultado, concorda?

Saber exatamente quanto levar de cada, para maximizar seus lucros, não é trivial.
 

Fazer Dinheiro x Fazer Previsões

Se esse ambulante tivesse anotado criteriosamente cada um de seus movimentos, logo no começo da carreira, poderia ter melhorando muito suas chances, diminuindo a dependência e frustração com as falhas previsões do tempo.

Poderia ter feito simples anotações diárias como essa:

“A previsão para o dia era de sol, com 10% de chance de chover. O céu estava limpo. Levei 90% da mercadoria em picolé e 10% em capa de chuva. No meio da tarde, as pessoas apareceram aos montes, mas o sol se escondeu. Vendi só metade dos picolés e nenhuma capa.”

Isso é mapear princípios.

Quando acontece tal coisa, faço X, quando o inverso acontece, faço Y. Resultado esperado = Z. E por aí vai.

Depois de alguns meses de anotações, o comerciante conseguiria sentar e entender os reflexos de cada movimento, tornando suas decisões muito mais precisas do que se estivesse somente fundamentado em previsões. Como escreveu Ray Dalio em 1987:

“Para falar a verdade, previsões não têm muito valor, e a maioria das pessoas que as fazem não ganham muito dinheiro no mercado financeiro... Isso acontece porque nada é garantido. Quando alguém analisa todas as probabilidade que afetam o futuro em busca de uma previsão, acaba tendo como resultado uma ampla gama de possibilidades afetadas por outras variáveis, não um resultado altamente provável... [...] Em outras palavras, em vez de prever mudanças no ambiente econômico e mudar posições em antecipação a elas, captamos essas mudanças enquanto estão ocorrendo e movimentamos nosso dinheiro para mantê-lo investido nos mercados com melhor desempenho nesse ambiente.”

No livro The Quants, Scott Patterson narra essa mesma conclusão, só que da boca do brilhante matemático Edward Thorp, que quebrou a banca nos cassinos de Las Vegas, se tornando também um dos primeiros a aplicar suas técnicas em Wall Street:

“Thorp compreendia bem os riscos que essa estratégia trazia. E isso significava que ele era capaz de calcular o quanto era provável que ele ganhasse ou perdesse em cada aposta. Daí, estipularia o quanto deveria apostar nessas transações utilizando sua velha fórmula de vinte-e-um, o critério de Kelly. Isso lhe permitia ser agressivo quando vislumbrava oportunidades, mas também impedia de apostar demais. Quando as chances eram boas, como um baralho cheio de figuras, Thorp enchia o barco e avançava. Mas quando as chances não estavam a seu favor, ele não se arriscava e se certificava de que tinha bastante dinheiro extra na mão, no caso de a operação se voltar contra ele.”

Por sorte, essa abordagem – conhecida hoje como QUANT – já existe nos EUA, com alguma relevância, desde a década de 1980.

Isso significa que temos muitos ambulantes de cabelo branco para mostrar qual o caminho das pedras, nos dando acesso a valiosos princípios que podem ser aplicados e adaptados para a nossa realidade.

No Brasil, esse é um assunto novo ainda, mas que deve crescer exponencialmente nos próximos anos. 

Meu colega Leonardo Pontes, um dos maiores conhecedores deste assunto no Brasil, está trabalhando em um projeto fantástico que dará acesso a todo potencial dessa indústria para investidores comuns.

Junto ao Antonyo Giannini, já escreveu o melhor e-book em português sobre QUANT e no próximo dia 07 de outubro (daqui dois dias) lançará oficialmente uma série especial sobre o assunto, que será imperdível.

Esse projeto já tem chamado atenção de grandes referências da indústria financeira e me sinto na obrigação de compartilhar isso com você que me acompanha por aqui.

Estou vendo as gravações e posso te dizer: está espetacular. 

De longe, o melhor conteúdo já feito sobre análise Quant no Brasil. Por isso não perca a oportunidade de se inscrever gratuitamente clicando aqui.

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Um abraço,

Conheça o responsável por esta edição:

Felipe Paletta

Analista de Ações e Fundos de Investimento

Graduado em Ciências Econômicas pela FAAP e com Master in Financial Economics pela FGV-EESP, Paletta acumulou experiência atuando em corretoras de valores e casas de análise independente. Responsável pela estratégia de Dividendos da Inversa, assina quinzenalmente a newsletter "Ideias do Paletta".

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