Mercadores da Noite #193 - Touros, ursos, pombas e gaviões

19 de setembro de 2020
Veja como animais são utilizados como metáforas do mercado financeiro

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Nota do editor: Ivan Sant’Anna apresenta agora para você como ocorre a caracterização de acontecimentos do mercado financeiro através de animais. 

Caro leitor(a),

Antes de começar este texto propriamente dito, acho que é hora de fazer um pequeno glossário de termos que uso (não raro em inglês) em minhas crônicas, quase sempre sem a devida explicação dos sentidos de cada palavra, já que boa parte dos leitores os conhecem.

Touro – (bull, em inglês) – investidor ou especulador que aposta na alta. Isso porque os touros atacam movendo os chifres para cima. Bullish é quem está altista para determinado mercado.

Urso – (bear, em inglês) – quem joga na baixa, como fazem os ursos com as patas quando lutam contra um inimigo. Bearish são os que acham que algum ativo vai cair de preço. Mesmo quando estão falando em português. Exemplo: “estou bearish para o dólar”.

Dovish – Relativo a pombas (dove). Diz-se quando as autoridades monetárias de um país (do COPOM brasileiro ou do FOMC americano, por exemplo) estão propensas a adotar uma política expansionista para estimular a economia, geralmente através da redução ou manutenção de juros baixos.

Hawkish – Relativo a gaviões (hawk). Trata-se do contrário de dovish. É quando determinado banco central está praticando um movimento contracionista, seja elevando os juros, seja lançando títulos no mercado para enxugar dinheiro.

As Doves e os Bulls são altistas para o mercado de ações, já que as bolsas de valores gostam de juros reduzidos ou negativos. Os Hawks e os Bears são baixistas e provocam fuga das Bolsas para os títulos de renda fixa.

Na semana que termina hoje, tanto o FOMC (Federal Open Market Committee - Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve Bank – FED) quanto o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) assumiram posturas dovish.

A reunião do FOMC decidiu manter a taxa básica de juros entre 0% e 0,25% ao ano. Isso já era esperado pelos agentes econômicos. Mas o chairman do FED, Jerome Powell, em seu comunicado à imprensa, foi além em seu ponto de vista dovish. 

Falando em nome do colegiado, ele deu a entender que a Reserva Federal vai manter os juros quase zerados pelo menos até 2023, acrescentando que irá prolongar o programa de compra de ativos para sustentar “condições financeiras acomodatícias”.

Embora os mercados americanos de ações (medidos pelo Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) tenham caído no dia seguinte, isso pode ser mais atribuído ao preceito de Wall Street:

“Buy the rumor, sell the fact (compre o boato, venda o fato).”

Logo, e apesar das eleições presidenciais de 3 de novembro, e da renitência da Covid-19, as cotações nas Bolsas americanas deverão atingir novas máximas históricas.

Aqui no Brasil, o comunicado do COPOM vê espaço para manutenção dos juros em 2,00% ao ano (mínima histórica) por longo período.

Isso significa rentabilidade real negativa, ou quase negativa, nos fundos e papéis de renda fixa.

Sugiro que o prezado amigo assinante comece (ou continue) a aplicar em Bolsa, mas seja bem seletivo.

Com as queimadas no Pantanal e na Amazônia (tanto as naturais como as provocadas por pecuaristas) o Brasil tornou-se o pária do mundo.

O país poderá sofrer sanções comerciais.

Ao declarar, anteontem, que nós somos os maiores preservadores do meio ambiente do planeta, o presidente Jair Bolsonaro soltou mais um dos seus disparates.

Por essas razões, aconselho que as compras de ações brasileiras se destinem a empresas que exportam para a China, por sinal nosso maior parceiro comercial.

Chinês não é bullish, não é bearish, não é dovish, não é hawkish. É pragmático. Só liga para a poluição ambiental quando a situação torna-se insustentável em suas grandes cidades.

Para eles, animais silvestres são apenas uma iguaria.

A China vai continuar importando matérias-primas e produtos agrícolas (incluindo carnes) do Brasil enquanto isso for um bom negócio.

Há outras ações brasileiras que independem dos mercados ocidentais, mesmo que haja algum tipo de embargo ou sanção econômica, principalmente se Joe Biden vencer as eleições.

Finalmente, este ano está sendo pródigo em IPOs no Brasil. O que significa que nosso mercado está crescendo também para o lado, o que é ótimo.

Cada papel novo deve ser estudado com muita atenção para ver se depende apenas dos fundamentos econômicos internos (que estão se recuperando aos poucos) e de importações ou investimentos chineses.

Desculpem-me se o meu ânimo está bearish e hawkish ao mesmo tempo, uma vez que essa duplicidade não costuma fazer sentido.

Um forte abraço e um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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