Ideias do Paletta #28 - A China está comprando ouro, e você?

21 de setembro de 2020
Movimento secular de menor interdependência entre chineses e americanos joga a favor do ouro

Conteúdo também disponível em vídeo e áudio. Clique abaixo para acessar a plataforma:

Youtube Spotify Apple Google Deezer

Nota do editor: Felipe Paletta mostra agora para você como a interdependência entre China e EUA está reduzindo e quais serão os impactos disso para seus investimentos.

Olá leitor(a)!

Não é de hoje que tenho dito que estamos diante de um movimento de transição secular de hegemonia econômica – quiçá de influência geopolítica global – dos EUA para a China.

Discuti exaustivamente esse assunto por aqui e sempre reforço os desafios de longo prazo de concretização deste cenário, tendo em vista que os países ainda são altamente dependentes.

Os EUA é (e deve continuar sendo, por ora) um dos maiores importadores da China, assim como a China mantém a posição de segunda maior detentora da dívida pública norte-americana.

Mas essa ‘foto’ está mudando. Olhando em evolução é possível notar que a China tem buscado formas de diminuir essas amarras.

Há mais de um ano tenho advogado sobre a possibilidade da China começar um movimento de diminuição do total de suas reservas internacionais compradas em títulos públicos dos EUA, os famosos US Treasury bonds and notes, como forma de arrefecer essa interdependência.

E de fato isso tem acontecido.

Desde 2019, quando a China ainda figurava na primeira posição como maior detentora da dívida externa dos EUA (~17%), o montante das reservas alocadas em US$ caiu de 1.113 bilhões para 1.073 bilhões, registrados em junho de 2020.

Ou seja, o governo chinês se desfez de mais de US$ 40 bilhões de títulos norte-americanos e, de acordo com recentes declarações oficiais em veículos do governo chinês, em condições “normais” de temperatura e pressão, é natural que as reservas em Treasuries norte-americanos caiam para algo como US$ 800 bilhões.

Ou seja, poderiam vender mais de US$ 200 bilhões!!!

Reforçaram ainda, nesse último comunicado, que sob maiores estresses diplomáticos, o montante de vendas poderia ser substancialmente maior...

E o que isso significa?

Bem, uma venda dessa magnitude poderia gerar diversos impactos na economia global, tendo em vista que a conversão desses títulos flutuaria para outros ativos, como o próprio OURO, um dos veículos de alocação do volume de vendas recentes.

Afinal de contas, todo Banco Central busca alocar as reservas do seu país em moedas estáveis e conversíveis, com o ouro sendo uma alternativa viável há um punhado de séculos.

E melhor, sem fazer referência a nenhum país, o que o torna ainda mais eficiente. Razão essa pela qual as criptomoedas também surgem como uma alternativa cada vez mais palatável.

Fonte: World Gold Council. Dados: Central Banks, ICE e IMF.

Como você pode ver na imagem anterior, o percentual de ouro alocado em proporção das reservas chineses têm crescido substancialmente desde o segundo semestre de 2018, demonstrando que, tecnicamente, podemos continuar vendo uma pressão positiva sobre essa commodity nos próximos anos, já que a quantidade de ouro no mundo é finita.
 

E a ‘guerra comercial’?

Evito usar muito esse termo, justamente por acreditar que esse movimento de estresse tem muito mais a ver com o movimento natural de troca de bastões do que uma guerra que pode efetivamente ser combatida no curto prazo.

Como vimos avançar entre 2019/2020, os países progrediram sobre o que se convencionou chamar de “fase 1” do acordo comercial, que basicamente disciplina regras comerciais para promoção da negociação bilateral de commodities.

E a pandemia só veio para jogar mais lenha nessa fogueira...

Com juros em queda na China, como forma de estimular a economia doméstica no pós-pandemia, o que temos visto nos últimos meses é um movimento de valorização na ‘canetada’ da moeda chinesa, o Renminbi, contra o dólar, estimulando, assim, a importação de bens primários, que favorecem a montagem de estoques e dão maior margem à China para se posicionar diplomaticamente.

Fonte: Bloomberg e elaboração Inversa.

As consequências: o risco fiscal e a inflação

Reflexo de todos esses movimentos é que economias em desenvolvimento e muito dependentes de commodities, como é o caso do Brasil – que também tiveram de cortar suas taxas de juros – viram suas moedas perdendo valor contra o dólar norte-americano desde o início do ano em movimento de fuga para qualidade, contrastando com a perda de valor da moeda dos EUA.    

No sentido do que disse anteriormente, a necessidade sincronizada de dar estímulos coloca pressão especialmente sobre países em desenvolvimento e com menor espaço para aumentar os gastos públicos.    

É ai que entra a relevância do que falei na semana passada sobre a inflação.    

Em momentos de crise como o que estamos vivendo, essa conta acaba recaindo sobre os produtores, que é justamente quem importa insumos. 

Para você ter uma ideia, o IGP-M – mede a variação da inflação no atacado – apresentou variação de 4% no mês passado, quase o dobro do acumulado pelo IPCA – mede a cesta do consumidor – nos últimos 12 meses.

Porém, à medida que a economia vai se recuperando, é natural que essa conta comece a ser paga também pelo consumidor final, com esse equilíbrio sendo feito via aumento da inflação.

Pelo aspecto sincronizado e particular da crise recente, esse movimento tende a ser a realidade de grande parte dos países, o que torna esse feito ainda mais difuso. 
 

O que fazer diante desta situação?

Bom, claramente eu sugiro que você compre um pouco de ouro. 

Vejo assimetrias muito mais favoráveis para a compra de ouro como reserva de valor, por exemplo, do que na compra do dólar norte-americano. 

Compre entre 3 a 5% do seu patrimônio em Ouro por meio de fundos de investimento. Mais ou menos deve depender de quanto do seu patrimônio está em risco.

E se precisar de uma ajuda, você pode contar comigo, com a Dara Chapman e o Nícolas Merola para encontrar o melhor veículo para você, lá na série Fundos Expert.

Não seja teimoso(a)... faça o que os chineses estão fazendo, eles têm acertado muito mais do que errado nas últimas décadas!

Um abraço e uma ótima semana a todos!

Conheça o responsável por esta edição:

Felipe Paletta

Analista de Ações e Fundos de Investimento

Graduado em Ciências Econômicas pela FAAP e com Master in Financial Economics pela FGV-EESP, Paletta acumulou experiência atuando em corretoras de valores e casas de análise independente. Responsável pela estratégia de Dividendos da Inversa, assina quinzenalmente a newsletter "Ideias do Paletta".

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240