Gritty Investor #13 - Quer saber a minha alocação hoje?

4 de agosto de 2017
Se o vento é forte o suficiente, até vaca voa

Gritty Investor

Oi.    
           
Estou surpreso com a quantidade de comentários positivos que tenho recebido desde que comecei a escrever a minha newsletter. Imagino que ninguém perde tempo reclamando do que foi escrito, simplesmente para de ler. A única queixa ou pedido é que alguns leitores gostariam de mensagens mais claras de como alocar os seus recursos, o que comprar ou vender - não no futuro, mas agora.
             
Vou dizer o que estou fazendo hoje. Mas antes gostaria de contar uma história.

Quando saí do BBA, em 2001, e montei a gestora Skopos, entrevistei alguns candidatos para uma vaga de estágio. Excelentes currículos, mas minha escolha recaiu sobre um garoto especial. Perguntava a todos o que eles buscavam trabalhando em uma gestora (existiam poucas naquela época) recém-inaugurada. A maioria das respostas trazia o típico: aprender/explorar, blá-blá-blá...
      
Mas esse garoto, que já tinha sido estagiário do Rogério Xavier (da gestora SPX) no BBM, me deu uma resposta inusitada: “Eu não estou no mercado para ganhar dinheiro. Estou para entrar para a história”. Era um tomador de risco nato. Esse foi meu primeiro estagiário.
      
A vontade de tomar risco é muito individual. Por mais que se diga que existe um componente racional nas tomadas de decisões, somos seres humanos. Alguns se sentem mais confortáveis com a possibilidade de perder dinheiro para ganhar mais dinheiro. Outros simplesmente abominam a hipótese de perder dinheiro. Uma pessoa que tem um fluxo de renda mais estável (como um funcionário público), em tese, pode tomar mais riscos na sua carteira. Uma pessoa com uma renda mais volátil (um empreendedor) deveria, em tese, ser mais conservador.
       
Porém, na prática, o funcionário público tipicamente se encaixa no perfil conservador dos bancos, e o empreendedor, no agressivo. Quem está certo ou errado? Eu não sei responder. O que eu sei e o que eu faço para mim faz muito pouco sentido para a maioria das pessoas. 
      
Desde que fundei o fundo Skopos, cerca de 90-95 por cento da minha liquidez está investida nele. Houve períodos gloriosos de multiplicação de capital e algumas fases duras de perdas. Ou seja, minha carteira é a mesma dos meus clientes no fundo. Como o fundo fica em média 70 por cento alocado em ações, tenho em média 65 por cento do meu patrimônio em ações. Mas essa média não é estática. Atualmente, posso oscilar minha exposição entre 30 por cento e 130 por cento utilizando derivativos para proteger ou alavancar a carteira do fundo. É um veículo para investidores qualificados, e, como tenho poucos, eles sabem bem o que eu faço e estão confortáveis com isso.
        
Em um horizonte de médio prazo, estou otimista com o mercado. Acredito que entramos num ciclo de alta que começou em 2015 - e esses ciclos duram em média sete anos. Apesar de o Brasil ter perdido uma chance enorme de aprovar as reformas necessárias e ter deixado tudo pra ser decidido nas eleições de 2018, acredito que a simetria é favorável para as ações.
    
Porém, no curto prazo, estou bastante cauteloso e cético. Muito do desempenho atual do Ibovespa não é mérito do mercado brasileiro. Na verdade, a bolsa está subindo 10 por cento no ano mesmo tendo sido feita muita besteira no Brasil. Tudo está subindo no mundo: ações, bonds, imóveis, cryptocurrencies, etc. Estamos sendo levados pelo vento. E se o vento é forte o suficiente, até vaca voa.
           
Eu não sou meteorologista, mas sei que depois desse tipo de movimento o vento costuma parar e, muitas vezes, até mesmo mudar de direção. Se isso acontecer, vamos ser carregados juntos. Nessa hora vamos lamentar o fato de que, como país, nós não fizemos tudo que deveríamos ter feito para nos preparar para os dias ruins. Como investidores, nosso papel é nos ajustar para esses dias.
         
Por isso, atualmente, a exposição do fundo está ao redor de 40 por cento, muito próxima das mínimas. Mas meus instrumentos de hedge são extremamente líquidos e essa posição pode mudar rapidamente. Você não deve usá-la como guia. Mesmo pessimista, tenho 35 por cento do meu patrimônio em ações no Brasil, nível que a maioria das pessoas nunca atinge nem quando está muito otimista.
         
Minha alocação só serve para mim.  E, apesar de abominar clichês, vou repetir um aqui: meu objetivo é ensiná-lo a pescar, não lhe dar o peixe.
    
Só vou abrir exceções quando enxergar uma oportunidade especial. Infelizmente, elas não surgem todos os dias e geralmente estão fora do radar da maioria das pessoas. Elas só podem ser descobertas por quem tenta interpretar a realidade com um pensamento independente.
       
Meu desafio diário é tentar avaliar o mundo e suas implicações para o universo de investimento com uma mente aberta e uma análise própria, não como um produto de um modelo padrão usado pela maioria e amplamente reproduzido na mídia tradicional.
        
O desafio do leitor, por outro lado, é usar essas provocações travestidas de histórias e análises e adaptá-las a sua realidade. Independentemente do seu objetivo (preservar o capital, ficar rico ou entrar para história), espero ajudá-lo a tomar decisões mais inteligentes.

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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