No dia 7 de março de 2017, o empresário Joesley Batista, um dos maiores caubóis da história empresarial brasileira, trabalhando em conjunto com o Procurador-Geral da República, gravou o presidente em exercício Michel Temer, dentro do Palácio do Jaburu. Nessa conversa, Temer concordou que o beato Eduardo Cunha continuasse, dentro da prisão, a receber mesada para não revelar o que sabia. Acabou ali o governo Temer.
Temer, um político experiente, que sempre caminhou bem pelos bastidores da política, estava a caminho de entrar para a história como um estadista na sua breve passagem pela presidência. Obviamente sem os atributos para ser eleito para tal cargo, uma sequência improvável de eventos acabou levando o velho político do PMDB para o posto mais importante da República. Seu tom conciliador conseguiu unir um Congresso em crise, ameaçado constantemente pela operação Lava Jato. Aprovou a PEC do teto de gastos, a reforma trabalhista e estava prestes a concluir a mais difícil de todas as reformas: a da Previdência. E exatamente na semana em que seu ministro da Fazenda, e postulante a sucessor, anunciava o final da recessão, o seu governo acabou.
Como ninguém sabe o que vai acontecer, não tentarei fazer previsões. Vou descer ao âmago da questão: a eleição de 2018 foi antecipada. A eleição seria um referendo das reformas de Temer. Obviamente, qualquer presidente eleito em 2018 teria a legitimidade para desfazer as reformas de um governo “golpista” ou confirmá-las. Todo o risco de 18 meses foi trazido a valor presente: circuit breaker!
Desfechos possíveis:
Transição rápida:
Temer renuncia. Rodrigo Maia assume e temos eleições indiretas em 90 dias. A interpretação negativa desse movimento é que Lula ainda seria um candidato “viável” e o caráter plebiscitário dessa eleição seria dramático. Mas a urgência da Lava Jato para ser simétrica em relação a todos os envolvidos vai colocar ainda mais pressão no ex-presidente Lula, que vai estar dividido na luta para ser eleito e não ser preso.
Transição lenta:
Temer não renuncia. Abre-se um processo de impeachment, que, com a base atual do PMDB, não acabaria antes de dezembro de 2017. Se Temer cair em 2018, as eleições são mantidas. Esse seria um inferno sem fim e teríamos um país parado à espera do pior: Lula.
Guia Rápido de Sobrevivência na Selva:
- Não faça nada que você não seja obrigado a fazer. Se você não está alavancado ou operando derivativos, não tente ser mais esperto (ou estúpido) que a turma do mercado. Se você não comprou empresa alavancada, fazendo “turn around” ou estatal, você vai sobreviver. As empresas vão sobreviver.
- Não leia jornal de economia; nem de política. Não leia jornal. Isso não vai te ajudar. E se não vai te ajudar, só pode atrapalhar.
- Não tente adivinhar o futuro: dias como hoje mostram que isso, além de impossível, é inútil. Não caia na tentação de pensar: “Vou vender agora e voltar quando tudo estiver mais claro”. Quando tudo estiver mais claro, não haverá oportunidades.
O pêndulo e o ciclo de alta
Não foi o PMDB que derrubou Dilma. Foi o povo nas ruas. Se dependesse de Brasília, nada teria mudado. O movimento que derrubou Dilma faz parte de um outro muito maior. Acredito que o pêndulo ideológico atingiu o ponto máximo à esquerda e começou a se mover na direção contrária. No Brasil, esse pêndulo atingiu o máximo à direita na década de 70, desde a redemocratização vem se movendo à esquerda e agora estamos vendo uma guinada. É um processo longo e estamos apenas no começo. Nos Estados Unidos, tivemos Reagan num extremo, Obama em outro. Na Inglaterra, Thatcher num extremo, Tony Blair de outro. O Brasil não está sozinho nesse movimento.
Por isso, essa crise pode ser a última grande oportunidade para investidores. Fazer as reformas necessárias com um governante eleito vai dar uma legitimidade infinitamente maior do que aquilo que o presidente Temer, com a melhor das intenções, está fazendo. Vai criar a base para um ciclo longo e virtuoso de melhoras, não somente da economia, mas das instituições e da máquina pública brasileira. Essas mudanças estão acontecendo nas pessoas e vão se refletir no nosso próximo governante.
Quanto ao risco Lula: acho que ele vai entender o que milhões de pessoas podem fazer quando, unidas por um ideal, trabalham e acreditam que essa é a forma de progredir – nesse caso, tirá-lo definitivamente do poder e colocá-lo na cadeia. Você que está lendo esta carta, lembra do seu envolvimento pessoal na política em 2002, 2006 e 2010? E em 2014? E qual vai ser o seu envolvimento em 2018 (ou 2017), caso tenha que lutar contra a volta de Lula ao poder? Um país é feito de pessoas. A bolsa é reflexo dos negócios, e negócios são pessoas. São as pessoas como você que estão fazendo essa mudança. Por isso continuo otimista.