Global Investor #85: Quem irá financiar os crescentes déficits gêmeos dos EUA?

4 de janeiro de 2023
No passado, foram os investidores estrangeiros que bancaram a "festa do consumo" norte-americana. Agora, com o estoque de dívida nas alturas, é possível que o cenário se torne cada vez mais desafiador para os Estados Unidos.

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Nos Estados Unidos, o déficit fiscal, o resultado da soma do quanto se arrecada mais do quanto se gasta, é crescente. E, o déficit de conta-corrente, aquele que reflete a balança comercial norte-americana, o saldo, também reflete o saldo da balança de serviços.

Diante disso, ao somarmos o déficit de fiscal mais o déficit de conta-corrente, entre 2015 e 2019, esse somatório representava um déficit total de 7,5% do PIB norte-americano, agora, esse déficit está caminhando para 10%. Entretanto, a dívida norte-americana é bem maior

Agora, para os Estados Unidos, há um grande desafio pela frente no que diz respeito a esse financiamento, pois existem algumas mudanças a ocorrer. Se antes os investidores estrangeiros estavam mais do que felizes em financiar o “oba-oba” do consumo nos Estados Unidos, agora, essa dinâmica está em profunda transformação.

Os efeitos da guerra entre a Rússia e Ucrânia, os efeitos da aproximação entre a China e a Rússia, os efeitos da atitude do G7 de congelar os bens de Oligarcas russos, são decisões que, certamente, em algum momento trariam ramificações. Caso os países como a China, a Arábia Saudita e outros grandes exportadores deixem ou reduzam o processo de reciclagem de dólares, deixando de comprar títulos nos Estados Unidos, interrompendo o fluxo, quais seriam as alternativas para os Estados Unidos?

Aqui, podemos falar de duas opções:

Num primeiro momento, o Tesouro dos Estados Unidos pode, de certa forma, ir consumindo o seu caixa, outra alternativa partiria do FED, embarcando o afrouxamento monetário, isso é; o próprio FED poderia comprar os títulos emitidos pelo próprio Tesouro dos Estados Unidos. 

Já outra alternativa tem a ver com os Bancos comerciais dos Estados Unidos realizando a compra de títulos emitidos pelo próprio país. 

Mas, é certo que toda ação tem uma reação, então... Quais seriam as consequências nestes dois casos? Bem, se o FED embarcar num QE — quantitative easing —, afrouxamento monetário, é possivel que o dólar fique bem mais fraco, afinal, se comparado com as moedas de países desenvolvidos, o dólar está muito caro.

Mas, e as consequências sob o cenário em que os Bancos compram os títulos emitidos pelo tesouro? Neste caso, o que veríamos seria o famoso ”crowding out effect”, um efeito que faria com o que dinheiro começasse a ficar mais caro e mais escasso para as empresas norte-americanas e a curva de juros americana ficaria ainda mais inclinada, próxima à parte mais longa da curva. Dito de forma mais simples, o dinheiro fica bem mais caro para o tomador final, as empresas americanas.

Em ambos os cenários, o que vemos é uma perspectiva não convidativa para os ativos de renda variável nos Estados Unidos.

Mas, como esses ativos não estão apenas nas mãos de investidores americanos, mas também, nas mãos de investidores globais, de Bancos centrais como o da Suíça, de fundos soberanos como o fundo soberano da Noruega e muitos outros, para este caso, temos um cenário se materializando: o de realocação global

Uma realocação global que tende a beneficiar diversos países emergentes, inclusive o Brasil!

Mesmo com o cenário PT o otimismo pode ser uma realidade? O fluxo de notícias que estamos observando são um tanto tenebrosas, assustadoras, é fato! Mas, quem pensou que seria diferente? 

O mercado financeiro, praticamente, na totalidade, se mostrou muito cético em relação ao PT, mas, mesmo assim, se o cenário internacional for convidativo para ativos emergentes, o Brasil pode surpreender positivamente.
 

Aguardo você na próxima edição!

Um grande abraço,

Marink Martins
 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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