Do Mercado #23: Banco Central: As intervenções erráticas continuam...

25 de outubro de 2021
Hoje, vou falar sobre como as intervenções que o Banco Central vem fazendo no mercado de câmbio NÃO funcionam para tentar controlar a inflação.

Os segredos de Alfredo Menezes, o ex-tesoureiro dos bancos BCN e Bradesco

 

Ex-tesoureiro dos bancos BCN (1985-2001) e Bradesco (2001-2015), Alfredo Menezes ganhou fama ao operar lotes colossais de DI e dólar, sendo considerado, ao mesmo tempo, um excelente gestor de risco. Não são poucas as histórias dessa verdadeira “lenda do mercado”, que, atualmente, é CEO da Armor Capital, gestora independente de investimentos especializada em produtos de alta volatilidade. Em uma iniciativa da INV — plataforma de streaming voltada para todos os níveis de investidor —, estreia na próxima sexta-feira, dia 29/10, às 9h, o documentário O HOMEM QUE CALCULAVA. Nele, você vai conhecer o homem por trás da lenda. Clique aqui para se cadastrar e assistir à série.

 

Olá, bem-vindo (a) mais uma edição da “Do Mercado”!

 

Nas últimas semanas, o Banco Central fez intervenções pré-marcadas para atender a antecipação da demanda de overhedge, leiloando 700 milhões de dólares em contratos de swap cambial às segundas e quartas-feiras.

Posteriormente, anunciou intervenções extras, também na casa dos 700 milhões de dólares, e até intervenções de 500 milhões de dólares no próprio dia.

Houve dias em que o Banco Central anunciou 1 bilhão de dólares, e dias em que anunciou 500 milhões de dólares não via swap, mas via reserva. 

Mesmo com todos esses movimentos, isso não resultou efeito algum. 

O dólar está, praticamente, na máxima, e fez nova máxima acima do patamar que havia defendido (entre 5,50 e 5,55 reais).

Por que isso não funciona?

O BC está olhando apenas a paridade entre o dólar e o real, mas a questão é que a cotação do real é baseada em todas as moedas. 

As outras moedas, como o iene, o euro e outras moedas de mercados emergentes, estão nos piores momentos do ano contra o dólar; o real está abaixo da máxima do ano, 5,70 reais. Mesmo assim, o Banco Central está intervindo. 

Ao observar essa paridade contra essas outras moedas, o real está 5% mais apreciado. 

É como se estivéssemos vendendo o dólar a 5,15 reais. Isto é, vendendo dólar ou comprando real sobre a taxa muito mais apreciada do que outras moedas.

Isso faz com que as pessoas aproveitem os leilões para sair.

O que aconteceu com outros mercados foi que a taxa de juros prefixados subiu por volta de 100 basis points, a partir de três/quatro anos na curva. Isso é criar um estímulo para as pessoas irem embora. Ao irem embora, elas vendem os seus ativos, e venda de ativos em bolsa e títulos de renda fixa acaba refletindo na curva de prefixados.

Isso explica muito sobre quando o BC começou a acelerar; a bolsa de valores despencou e a curva pré explodiu, chegando ao ponto em que o governo teve que reduzir os lotes de leilões em 95%. 

É uma forma “disfarçada” de cancelar, porque simplesmente reduziu, e, quando isso ocorre, é como se estivesse intervindo também no mercado de pré.

Quando se intervém em duas coisas simultaneamente é como tabelar o preço em dólar.  

E mesmo o Banco Central, errando como vem fazendo, sabe que isso não deve acontecer.

Tabelar o preço de algo em dólar, se o mercado piorar, pode chamar todo tipo de investidor estrangeiro para atacar especulativamente aqui contra nossos títulos.

O dia de maior estresse no câmbio foi quando o Banco Central começou a intervir no mercado de pré, diminuindo os leilões. 

Nesse dia, o BC ficou fora do mercado de câmbio, mesmo sendo o dia em que todas as moedas apreciaram e o real ficou na contramão.

E foi justamente nesse dia que ele tinha motivos suficientes para intervir, mas mesmo assim não o fez, pois já estava intervindo em outro mercado. E não dá para fazer as duas coisas, porque você chama o ataque especulativo contra seu país.

Infelizmente, tentar segurar uma moeda para tentar controlar a inflação não funciona, ainda mais quando o mercado percebe isso. 

 

Espero que tenha gostado!


Um abraço,

Rodrigo Natali.

 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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