Os segredos de Alfredo Menezes, o ex-tesoureiro dos bancos BCN e Bradesco
Ex-tesoureiro dos bancos BCN (1985-2001) e Bradesco (2001-2015), Alfredo Menezes ganhou fama ao operar lotes colossais de DI e dólar, sendo considerado, ao mesmo tempo, um excelente gestor de risco. Não são poucas as histórias dessa verdadeira “lenda do mercado”, que, atualmente, é CEO da Armor Capital, gestora independente de investimentos especializada em produtos de alta volatilidade. Em uma iniciativa da INV — plataforma de streaming voltada para todos os níveis de investidor —, estreia na próxima sexta-feira, dia 29/10, às 9h, o documentário O HOMEM QUE CALCULAVA. Nele, você vai conhecer o homem por trás da lenda. Clique aqui para se cadastrar e assistir à série.
Olá, bem-vindo (a) mais uma edição da “Do Mercado”!
Nas últimas semanas, o Banco Central fez intervenções pré-marcadas para atender a antecipação da demanda de overhedge, leiloando 700 milhões de dólares em contratos de swap cambial às segundas e quartas-feiras.
Posteriormente, anunciou intervenções extras, também na casa dos 700 milhões de dólares, e até intervenções de 500 milhões de dólares no próprio dia.
Houve dias em que o Banco Central anunciou 1 bilhão de dólares, e dias em que anunciou 500 milhões de dólares não via swap, mas via reserva.
Mesmo com todos esses movimentos, isso não resultou efeito algum.
O dólar está, praticamente, na máxima, e fez nova máxima acima do patamar que havia defendido (entre 5,50 e 5,55 reais).
Por que isso não funciona?
O BC está olhando apenas a paridade entre o dólar e o real, mas a questão é que a cotação do real é baseada em todas as moedas.
As outras moedas, como o iene, o euro e outras moedas de mercados emergentes, estão nos piores momentos do ano contra o dólar; o real está abaixo da máxima do ano, 5,70 reais. Mesmo assim, o Banco Central está intervindo.
Ao observar essa paridade contra essas outras moedas, o real está 5% mais apreciado.
É como se estivéssemos vendendo o dólar a 5,15 reais. Isto é, vendendo dólar ou comprando real sobre a taxa muito mais apreciada do que outras moedas.
Isso faz com que as pessoas aproveitem os leilões para sair.
O que aconteceu com outros mercados foi que a taxa de juros prefixados subiu por volta de 100 basis points, a partir de três/quatro anos na curva. Isso é criar um estímulo para as pessoas irem embora. Ao irem embora, elas vendem os seus ativos, e venda de ativos em bolsa e títulos de renda fixa acaba refletindo na curva de prefixados.
Isso explica muito sobre quando o BC começou a acelerar; a bolsa de valores despencou e a curva pré explodiu, chegando ao ponto em que o governo teve que reduzir os lotes de leilões em 95%.
É uma forma “disfarçada” de cancelar, porque simplesmente reduziu, e, quando isso ocorre, é como se estivesse intervindo também no mercado de pré.
Quando se intervém em duas coisas simultaneamente é como tabelar o preço em dólar.
E mesmo o Banco Central, errando como vem fazendo, sabe que isso não deve acontecer.
Tabelar o preço de algo em dólar, se o mercado piorar, pode chamar todo tipo de investidor estrangeiro para atacar especulativamente aqui contra nossos títulos.
O dia de maior estresse no câmbio foi quando o Banco Central começou a intervir no mercado de pré, diminuindo os leilões.
Nesse dia, o BC ficou fora do mercado de câmbio, mesmo sendo o dia em que todas as moedas apreciaram e o real ficou na contramão.
E foi justamente nesse dia que ele tinha motivos suficientes para intervir, mas mesmo assim não o fez, pois já estava intervindo em outro mercado. E não dá para fazer as duas coisas, porque você chama o ataque especulativo contra seu país.
Infelizmente, tentar segurar uma moeda para tentar controlar a inflação não funciona, ainda mais quando o mercado percebe isso.
Espero que tenha gostado!
Um abraço,
Rodrigo Natali.