Olá! Bem-vindo(a) a mais uma edição da "Do Mercado".
Estamos em outubro e, conforme o ano vai chegando ao fim, já é possível olhar para trás e analisar dados quantitativos que explicam muito do que aconteceu em 2021, especialmente em relação ao câmbio.
No primeiro trimestre, o consenso era que o câmbio iria se apreciar para níveis entre R$4,50 ou R$4,30. Isso pegou força, principalmente, quando as pessoas começaram a revisar a balança para este ano.
A balança comercial brasileira para 2021, no Boletim Focus, por exemplo, estava em US$55 bilhões. As casas de análise, em geral, começaram a revisar para US$70 bilhões - número que pode se tornar real, pelo que podemos observar. Isso seria um fluxo extra de 15 bilhões de dólares, o que animou muito os investidores, fazendo com que tivessem um call mais positivo.
Ao longo do ano, apresentei aqui na "Do Mercado" alguns motivos pelos quais eu discordava dessa visão, mas agora é diferente, pois já temos os dados que podem explicar esses motivos.
E as pessoas não estão acostumadas a ver muito desses dados e não estão os levando em consideração talvez seja essa a razão de o câmbio estar acima de R$5,50.
Mas o discurso continua: o dólar deve se apreciar. O final do ano irá chegar e esse cenário não vai se consolidar.
Vou explicar por quê.
Basicamente, duas contas do banco de pagamentos fizeram com que houvesse uma surpresa em relação ao fluxo, contas que, ultimamente, as pessoas não olhavam muito:
1. Contas de investimentos de portfólio, que esteve parada nos últimos 10 anos.
Quase que de repente, houve uma explosão. Apenas este ano, quase US$6 bilhões destinados aos investimentos internacionais saíram do Brasil.
Mas com uma diferença: antigamente, você precisava abrir uma conta lá fora. Hoje, está mais fácil. Você pode investir no exterior através de BDRs, Brazilian Depositary Receipts; são papéis que você compra na Bolsa brasileira e te dão o direito a uma ação no exterior.
Quando se compra um BDR, o efeito cambial é exatamente o mesmo de comprar dólar.
2. Grande parte dos fundos multimercados não operam apenas localmente, inclusive, parte significativa dos grandes fundos precisam operar fora.
Atualmente, a soma desse número deve estar na casa dos US$10 bilhões, se considerarmos o último dado da balança de pagamentos.
Outro número interessante é o movimento de aplicações em criptoativos.
Somando esses dois números, temos US$15 bilhões que saíram do país e que antes não estavam sendo mapeados. Exatamente o número que as pessoas esperavam que iria entrar de balança.
E realmente, veio a mais.
Mas houve um fenômeno não esperado: as exportadoras deixaram dinheiro lá fora, então não houve efeito cambial.
Somando todos esses acontecimentos, a história do ano é a seguinte: devido aos juros baixos, as pessoas procuraram por outros investimentos; e a tecnologia teve papel fundamental na facilidade de investimentos no exterior e em criptomoedas.
Isso mais que compensou o efeito das exportadoras.
É como se a pessoa física, hoje em dia, se tornasse um player muito mais importante na definição das taxas de câmbio do que antes.
E os economistas, em geral, não levavam muito em consideração, mas, com certeza, o impacto foi preponderante.
Uma vez que os brasileiros conhecem o mercado mundial e todas as suas possibilidades e oportunidades, é difícil pensar que vamos voltar atrás.
Uma vez que o gênio sai da lâmpada, ele dificilmente vai voltar.
Espero que tenha gostado!
Um abraço,
Rodrigo Natali.