Sunday Notes #38 - Meu termômetro é o Uber

17 de junho de 2018
Investimento baseado em pessoas

Sunday Notes

Nota da editora: Oi. Hoje o André Zara conta uma forma interessante de olhar o mundo dos investimentos. Espero que você goste e perceba como o mercado está sempre dando dicas sobre qual direção vai tomar. Um abraço, Olivia Alonso. 

 

Olá.

Hoje quero compartilhar com você um indicador de investimento um tanto subjetivo, mas muito útil. Aprendi com o Ivan Sant’Anna e depois notei que muitos investidores e gestores profissionais o utilizam para reforçar as suas decisões.
 

Cada pessoa tem a sua forma de ver o indicador, baseado na sua própria experiência, mas ele sempre é relacionado à observação da vida cotidiana.

Vou explicar...

O Ivan, por exemplo, uma vez deu uma grande tacada apostando contra o plano Cruzado, em 1986. Um dia ele percebeu que o desabastecimento estava assolando todo os tipos de comércio e concluiu que as medidas econômicas do governo do José Sarney haviam falhado, ganhando uma verdadeira fortuna operando derivativos que se beneficiaram do momento.

E, em seu livro “1929 - Quebra da bolsa de Nova York”, o Ivan descreve também o famoso caso do especulador Joe Kennedy que, um pouco antes do crash da bolsa americana, ao perceber que os engraxates estavam dando dicas sobre as melhores ações, teve certeza de que o mercado logo iria desabar. Em sua visão, a bolsa havia atingido níveis irreais de valorização e todos haviam se tornado “especialistas”.

Porém, não foi só Kennedy que percebeu o fato. Outro especulador famoso, Bernard Baruch, notou que não só os engraxates, mas os taxistas, garçons e até mendigos discutiam os movimentos da bolsa e davam sugestões de investimentos.

Recentemente, li sobre um gestor bem-sucedido de fundos de investimentos que usa uma tabela, com diversos atributos, para saber se a Bolsa está cara ou barata. O último item do seu checklist é um pouco incomum: as entrevistas de emprego.

Curioso, não?
 

Tudo depende da primeira frase do candidato concorrendo a uma vaga. Se o interessado disser que a sua intenção é aprender, a Bolsa está barata e é hora de comprar. Se o candidato perguntar qual será o bônus no primeiro ano, a Bolsa está cara.

Eu fiquei intrigado com essa visão de investimentos apresentada pelo grande mestre Ivan. Mas confirmação veio pouco tempo depois, quando entrei no carro de uma motorista de Uber, aqui em São Paulo.

Era uma senhora muito simpática, com mais de 60 anos, que adorava dirigir e conversar com os passageiros. Quando comentei que trabalhava com investimentos, ela me contou que estava prestes a investir em bitcoins. Havia recebido uma dica de um passageiro e, agora, estava incentivando todos a colocar dinheiro na moeda virtual.

Isso aconteceu em novembro de 2017, no auge do bull market das criptomoedas, quando até o William Bonner comentava sobre o tema no Jornal Nacional. Aquilo me pareceu tão irreal que tive certeza de que o preço iria sofrer uma forte correção.

Desde então, escolhi como “termômetro” (meu indicador subjetivo de investimentos) os motoristas do Uber.

Toda vez que chamo um veículo pelo aplicativo faço questão de conversar com os motoristas sobre as suas percepções de economia e política. Isso também me ajuda a medir o nível de desemprego: se encontro muitos motoristas com formação superior, usando a plataforma do Uber há pouco tempo, sei que a coisa está feia.

Nesta semana, tive outra revelação ao conversar com o Felipe, um condutor com mais de 3 mil viagens de experiência, e nota máxima de aprovação.

Seu sonho é empreender. Ele havia notado que, ultimamente, as hamburguerias estavam se proliferando com rapidez. Será que ele deveria abrir uma também?


Eu disse que o fenômeno era similar ao de uma bolha financeira. Tendo acompanhando o setor de negócios e empreendedorismo por quase 10 anos como jornalista, comentei que já tinha visto situações parecidas com empresas de frozen yogurt, paleterias mexicanas e food trucks.Logo, em minha opinião, a maioria das hamburguerias iria quebrar e só sobrariam as melhores.

Continuamos a conversa e, quando cheguei perto do mesmo destino, não resisti e perguntei em quem ele votaria nas eleições presidenciais de outubro.

“Jair Bolsonaro. Ele é um cara que parece honesto e é a favor da segurança, do cidadão de bem andar armado”, respondeu.

Eu logo questionei: “Mas você sabe quais as propostas dele para a economia?”.

A resposta foi um tímido “não”.

A minha conclusão: eu não sei se o Bolsonaro vai ganhar a eleição, mas o eleitor médio votará totalmente com a emoção. Ele não quer saber de Bolsa, inflação ou tripé macroeconômico. Vai escolher quem gritar mais alto e prometer mais, pois deseja um “salvador da pátria”. Por isso, fique atento. Quando o mercado souber quem vai ganhar o pleito, vai se posicionar. Se for para cima ou para baixo, não lute contra. Apenas siga a tendência.

Um abraço,

André Zara

P.S.: Você pode ganhar com a alta do dólar. É só ver agora o que estão dizendo o Ivan Sant'Anna e o José Castro. Confira aqui.

Conheça o responsável por esta edição:

Olivia Alonso

Publisher

Especialista em investimentos, Publisher e CEO da Inversa. É formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais na FIA e especialização em Finanças e Negócios na Universidade de Macau. Vencedora do VI Prêmio de Educação ao Investidor da CVM e autora do livro “Criando Riqueza: um guia prático de investimentos e finanças pessoais para leigos”. Trabalhou em agências de notícias no Brasil e no exterior, no iG, no jornal Valor Econômico, na Empiricus e no Seu Dinheiro.

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