Trocando ouro por espelho

18 de novembro de 2021
Hoje em dia estamos trocando nossas riquezas por novidades vindas do exterior. Será que essa troca terá valido a pena quando olharmos para trás daqui um tempo?

Trocando ouro por espelho

Rodrigo Natali

 

Quando a turma do Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, conseguiram fazer excelentes barganhas com o investidor local da época: tinham novidades, coisas diferentes e vistosas, que nossos nativos gostaram muito.

Em contrapartida, o investidor estrangeiro percebeu que nosso país tinha vários ativos interessantes, muito valiosos, e começou um trade onde o local estava fazendo um mau negócio, mas aos olhos destes, não parecia.

Hoje em dia quando olhamos para trás tudo isso é óbvio: o nosso povo indígena não tinha como saber o valor dos ativos nos mercados internacionais e realmente caíram no hype de ter coisas novas e diferentes que os gringos vendiam.

Hoje, o mercado brasileiro está desanimado com o noticiário local, sem muito carinho pela bolsa, e sem ver um futuro brilhante pela frente. Pior, enquanto isso ocorre aqui, países como os Estados Unidos continuam brilhando, com mais vagas de emprego do que mão de obra, com recordes nos preços de ativos, se reinventando como a capital mundial da inovação e se tornado um dos centros mundiais do mercado de criptoativos.

Grande parte desses efeitos vem de vantagens competitivas que os EUA têm pela própria estrutura da sua economia e do seu arcabouço legal e cultural, mas uma outra parte muito importante vem de um movimento pontual de estímulos recordes que estão prestes a se reverter.

Voltando ao Brasil, muita coisa que sofremos vem da nossa difícil política, do nosso arcabouço legal e cultural, mas uma outra parte importante é que hoje já estamos vivendo com juros de um ano a 13,5%, podendo ser provável se imaginar um alívio vindo dessas taxas conforme as altas de juros passadas façam efeito na economia.

Ao mesmo tempo, o movimento mais acentuado que temos visto, principalmente nas últimas semanas, foi de capital saindo daqui e indo para fora, através de compras de BDRs e criptoativos. No sentido contrário, entretanto, o estrangeiro está entrando aqui e comprando nossas ações, principalmente das empresas grandes e estabelecidas, aquelas que possuem vantagens naturais irreplicáveis no mundo. Nossas joias.

E assim 500 anos depois, talvez estejamos cometendo um erro parecido: entregando nosso ouro barato em troca de novidades reluzentes e caras.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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