Para que não aconteça de novo

11 de novembro de 2021
Investigações de acidentes não tem como objetivo apontar culpados, mas sim entender o que deu errado e evitar que uma nova tragédia se repita.

Para que não aconteça de novo

Por Ivan Sant´Anna e Rodrigo Natali

 

Eu estava no escritório da Inversa em São Paulo na sexta-feira, dia 5, quando alguém disse que um bimotor King Air, que levava a artista Marília Mendonça, havia caído em Minas. Falou também que todos a bordo haviam sobrevivido.

É que o avião, visto de cima, parecia intacto. Só quando a equipe de resgate chegou ao local da queda é que viu que a fuselagem estava totalmente esmagada e os ocupantes, mortos.

Nas horas e dias que se seguiram, diversas emissoras de rádio e televisão me pediram para dar entrevistas dando minha opinião sobre o assunto. Recusei todos os convites porque acho que seriam apenas palpites que poderiam estar certos ou errados.

O motivo desse assédio é que, além de ter sido piloto durante várias décadas, já escrevi quatro livros sobre tragédias aéreas, sendo três deles best-sellers.

Os relatórios do Cenipa – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – não tem como objetivo apontar culpados, mas sim entender o que deu errado e evitar que uma nova tragédia se repita. 

Traçando um paralelo com o nosso mundo político-econômico, quando ainda durante o governo Michel Temer, com Henrique Meirelles à frente do ministério da fazenda, promulgou-se a Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos, foi justamente para evitar que uma forte turbulência fiscal, como a ocorrida em 2014 durante o governo Dilma Rousseff, se repetisse.

O PIB havia mergulhado da forma mais drástica já gravada na história recente e custou o mandato da nossa pilota. Tirou-se a lição de que algum dispositivo poderia ser criado para evitar que isso acontecesse de novo.

E quando o novo governo assumiu o poder, nosso Ministro da Economia, repetia sempre a força de tal mecanismo e a importância para o longo prazo do Brasil.

Aí veio a pandemia e, por causa de um afobo do presidente, que ao ouvir o Ministro Osmar Serra, declarou que o novo vírus era apenas uma “gripezinha”,começou a se desenhar um novo acidente.

As coisas foram se agravando com outros inúmeros erros de condução por parte de diversos políticos diferentes, e parecia que o acontecido em 2014 estava no horizonte. A sequência de erros que geralmente resulta em tragédias continuou, mas desta vez, por mais que tudo parecesse fadado ao fracasso, o mecanismo do teto de gastos foi dobrado, mas não quebrou.

Enquanto muitas pessoas insistem em olhar apenas o que vai piorar para o ano que vem com a aprovação da PEC do Precatórios, que não é muito (deterioração da relação dívida/Pib da ordem de 0,4%), elas ignoram o cenário de futuro que o Teto ainda tem a capacidade de gerar, ainda mais num cenário onde o Brasil poderia crescer de forma mais robusta.

Nele, nossa dívida PIB voltaria a entrar numa trajetória de queda, nos diferenciando da maioria dos países do mundo. Nesse cenário, voltamos a ser destino de fluxos de investimentos, dignos de upgrades de agências de risco.

Assim, o avião de nossa economia pode seguir voando com alguma visibilidade no horizonte. Tudo isso porque o Teto de Gastos ainda está lá e precisaria de outra PEC no futuro para mudá-lo de novo, o que, por mais que hoje pareça, não é algo trivial.

 

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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