O país da inflação
Por Ivan Sant'Anna
Quando me mudei para Nova York, em janeiro de 1966, nos primeiros dias fui morar em um hotel de Brooklyn Heights enquanto procurava apartamento para alugar.
Pois bem, estava no elevador do hotel, ao lado de minha mulher e de um americano, quando ele, ao ver que falávamos uma língua desconhecida, perguntou nossa nacionalidade.
Quando dissemos que éramos do Brasil, fez o seguinte comentário:
“Oh, Brazil! Coffee and inflation!”
Pois é, inflação foi uma das características dominantes do Brasil ao longo de várias décadas.
Agora já não é mais.
“Mas como?”, pode estar indagando o leitor. “Ontem não saiu o IPCA de 2021, 10,06%, o maior desde o governo Dilma?”
Acontece que desta vez o dragão é quase universal, atingindo os Estados Unidos, a Europa e os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), popularmente conhecido como Clube dos Ricos.
Hoje, às 10:30 da manhã, fuso horário de Brasília, foi divulgada a inflação americana de 2021, 7%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês).
Trata-se do maior nível dos últimos 40 anos, portanto desde 1982. Só que naquela época a taxa básica de juros fixada pelo FED era de 12% ao ano.
Só nos resta concluir, com convicção, que desta vez o Brasil não é o país da inflação e sim que estamos vivendo um ciclo mundial de alta de preços, que obviamente nos inclui.
É importantíssimo levar essa pandemia inflacionária em conta na hora de avaliarmos (comparativamente) os preços dos ativos brasileiros de renda variável.
Escaldado em inflação, talvez o BC brasileiro esteja à frente de seus congêneres no alanceamento do dragão.
Um forte abraço para todos,
Ivan Sant'Anna