O indestrutível Talibã
Por Ivan Sant’Anna
Em 2008, fui convidado a escrever um livro ambientado na fronteira afegã-paquistanesa, para servir de piloto para um filme que acabou não se materializando.
Acho que a escolha de meu nome aconteceu porque tenho alma de correspondente de guerra, profissão que deveria ter escolhido. Mas só descobri isso quando li A Grande Guerra da Civilização; a conquista do Oriente Médio, de Robert Fisk.
Como o Afeganistão não permitia entrada de visitantes, fui à embaixada paquistanesa em Brasília. Para minha sorte, o embaixador era leitor da versão em inglês de meu livro Os mercadores da noite, que levou o título de The Sunday Night Traders.
Obtive o visto com a maior facilidade.
O governo paquistanês pôs à minha disposição um carro (Mercedes Benz novinho), um guia, Naveed, um motorista, Islam, além de seis guarda-costas.
Como meu interesse era atravessar, mesmo que ilegalmente, para o Afeganistão, fiquei decepcionado ao saber que não poderia visitar as cidades de Quetta e Peshawar. É através delas que se passa para o território afegão. Acabei indo a Peshawar, mas fui barrado na estrada de acesso ao passo Khyber.
Quem insiste, acaba conseguindo seu intento. Numa viagem entre Faisalabad e Multan, ambas no Paquistão, conheci um matador de aluguel que servia de guarda-costas para um fazendeiro.
O jagunço, que coloria o cabelo, simpatizou comigo. Até me ensinou a atirar com sua AK-47.
Foi ele que conseguiu me atravessar para o Afeganistão, num jipe Land Rover da época da Segunda Guerra.
Apesar do país, à época, estar precariamente controlado por tropas da coalizão liderada pelos Estados Unidos, a coisa mais fácil do mundo, para o meu guia colorido, era apontar integrantes do Talibã.
Pois bem, eles estão de volta, após um acordo com Donald Trump, no qual prometeram ser moderados.
Joe Biden foi na onda e, num erro tremendo, tirou seu pessoal civil e militar do país. Agora, boa parte da população está procurando fugir desesperadamente.
Se, em pouquíssimos dias, o Talibã conseguiu controlar as principais cidades, imagino que já haviam se preparado para a tomada do poder.
Afegãos são como vietnamitas. Ninguém consegue domá-los.
Em 1842, os britânicos enviaram uma expedição militar ao país. Era constituída de 4.500 soldados. Foram massacrados.
Só um sobreviveu e voltou: o cirurgião do exército William Brydon, encontrado no passo Khyber se fingindo de morto em meio a uma pilha de cadáveres.
Agora que os americanos cederam, quem é que irá desalojar o Talibã?
Será que teremos de ler os livros de História de trás pra diante para saber o que vai acontecer?
Ivan Sant'Anna.
P.S.: Gostou do texto? Ivan com certeza tem muita história para contar. Viveu muitas vidas em uma. O relato que você leu aqui é apenas uma pequena amostra da incrível vida de Ivan Sant'Anna. Quer conhecer um pouco mais deste grande trader e escritor? Conheça a série Seu Mentor de Investimentos. Você pode começar a assistir agora mesmo na plataforma de streaming da Inversa, a inv. É só clicar aqui e liberar o seu acesso.