O grande perdedor da eleição

3 de outubro de 2022
O primeiro turno da eleição de 2022 trouxe diversas surpresas, umas em menor grau, outras mostrando o oposto do que se esperava. Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv, traz algumas reflexões acerca desta primeira fase eleitoral.

O primeiro turno da eleição de 2022 trouxe diversas surpresas, algumas em menor grau, outras mostrando o oposto do que se esperava. E esse é o problema. A surpresa só existiu porque a base de comparação, que tem o poder de distorcer a realidade, começa baseada na expectativa do resultado das eleições e o alicerce desse fenômeno é a credibilidade do sistema estatístico de apuração de intenções de voto. Houve uma grande decepção com a indústria de pesquisas eleitorais.

De acordo com as mais recentes pesquisas divulgadas pelos institutos no dia 1º de outubro, o candidato Lula tinha cerca de 50% dos votos válidos, apontando possibilidade real de a eleição presidencial ser definida já no primeiro turno. Enquanto o atual presidente Jair Bolsonaro tinha cerca de 37% dos votos válidos. Com as urnas apuradas, o candidato do PT teve um total de 48,43% dos votos, frente aos 43,20% de Jair Bolsonaro, resultado muito mais apertado do que o que era apontado pelos principais institutos no dia anterior à eleição.

Vamos comparar a diferença de pontos, por instituto:

Urnas              4,59% 

IPEC               14,00%

Datafolha      14,00%

Ipespe            14,00%

Quaest           11,00%

Atlasintel        9,20%

PoderData     10,00%

Idea                11,00%

MDA               8,60%

Paraná           7,10%

Todas ficaram completamente fora da margem de erro que os próprios institutos estimam. E não foi só na disputa presidencial que as pesquisas erraram. Nas eleições estaduais os resultados também apresentaram distorções muito além da margem de erro.

No Governo de São Paulo, por exemplo, os institutos apontavam Fernando Haddad como favorito, com cerca de 40% dos votos válidos, seguido por Tarcísio com 31%. Já o resultado foi praticamente o inverso, com Tarcísio contabilizando 42,32% e Haddad 35,70%, um erro de aproximadamente 16% considerando apenas os dois candidatos.

O caso de São Paulo não foi isolado, no Rio de Janeiro, de acordo com os institutos, o favorito Cláudio Castro liderava com cerca de 14% de distância de Marcelo Freixo, apontando para uma definição no segundo turno. Apesar disso, Castro foi eleito em primeiro turno, com um total de 31,29% de votos acima de Freixo, mais do que o dobro apontado nas pesquisas.

No Rio Grande do Sul, um disputado primeiro turno era esperado pelos institutos, que apresentavam empate técnico entre Onyx Lorenzoni e Eduardo Leite. Onyx, apesar disso, teve 37,50% dos votos, com uma vantagem de 10,69% de seu concorrente. E os exemplos continuam por todo o país. Foi uma catástrofe generalizada.

O grande problema disso tudo é que a credibilidade e a reputação é tudo para essa atividade, e quando não só um instituto, mas a grande maioria deles comete um erro desse tamanho, naturalmente, perde-se a fé na indústria como um todo. E uma das consequências é que deixamos de ter uma bússola importante para nos guiar no segundo turno.

Como não existe vácuo por muito tempo, veremos gurus e outros especialistas tomarem esse espaço, o que pode trazer falsos profetas e prováveis indutores de novos erros e o desenho de cenários errados, provavelmente, baseado em crenças pessoais ou outras coisas exotéricas, dado que a ciência parece nos ter falhado. Porque no final, o que essas pesquisas dizem têm importância. Não só na dinâmica da própria eleição, mas na tomada de decisão de investimentos. É uma pena, mas é a realidade.

Rodrigo Natali.

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Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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