O BC é independente do mercado?

25 de outubro de 2021
Se o Banco Central subir os juros em 1,5% na próxima reunião do COPOM, mostrará que faz tudo que alguns economistas querem, perdendo, de vez, sua credibilidade.

 

O BC é independente do mercado?
 

Por Rodrigo Natali
 

 

Desde a saída dos dois secretários mais importantes do ministério da Economia no fim da semana passada, diversos participantes do mercado vieram em coro pedir uma alta de 1,50 ponto percentual na taxa Selic para a próxima reunião do Copom, que ocorre na quarta-feira, dia 27 de outubro. 

De forma não surpreendente, na última versão do relatório Focus, a Selic esperada para o final do ano também subiu em 0,50 p.p. São os mesmos players que vêm a público ajustar suas previsões que depois as consolidam no relatório Focus.

Como sabemos, o Banco Central (BC) usa o relatório Focus como uma das medidas para tomar suas decisões de política monetária.

Dessa forma, cria-se um processo em que empresas privadas, que se conversam e com interesses próprios que não são, necessariamente, o mesmo da coletividade dos brasileiros, têm uma influência direta e impactante sobre as decisões do BC. 

Já vimos em decisões em que parte das previsões estava dividida entre uma alta menor ou maior da Selic. Quando veio menor, os que erraram vieram a público dizer que o BC estaria perdendo credibilidade, que ele deveria ter sido mais agressivo.

É o que eles vão dizer caso o BC siga o plano que havia comunicado e subir a taxa em “apenas” 1p.p. E o plano do BC faz sentido; as altas do primeiro trimestre estão começando a fazer efeito agora, os IGPs (índice gerais de preços) já estão caindo e voltou a chover, o que torna possível vislumbrarmos a tarifa amarela de energia. 

Logo, dado que a meta de inflação buscada é a de 2022, manter o ciclo em altas de 1 p.p. nas próximas reuniões do COPOM faz todo o sentido.

Não tem por que, nesse estágio do aperto monetário, fazermos uma aceleração, que teria um impacto grande no financiamento da dívida pública, provavelmente custando mais do que os gastos extras teto do auxílio emergencial. 

É isso mesmo, se subirmos mais os juros devido ao auxílio emergencial, vamos gastar mais de 30 bilhões de reais com juros da dívida pública federal, o que não faz o menor sentido quando pensamos no país.

Mas a coletividade dos economistas, os mesmos que aplaudiram os juros a 2% ao ano (o principal motivo de hoje estarmos nessa confusão monetária), resolveram ao mesmo tempo que os juros precisam subir mais; e agora é provável que conseguiremos descobrir, na próxima quarta, se o mercado manda no BC ou se o BC manda no mercado.

Se ele der 1 p.p. de aumento na Selic, vai mostrar ser independente, que tem um plano e o está seguindo. 

Se der 1,5 p.p., vai perder totalmente a credibilidade, provando que é pautado por um grupo de profissionais que erraram quase tudo este ano e que mudam de opinião sem muita explicação, funcionários de empresas privadas que, como todas, existem para ganhar dinheiro.
 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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