Contagem regressiva
Por Ivan Sant´Anna
Faltam exatamente oito dias para sete de setembro, quando, normalmente, a independência do Brasil é comemorada com desfiles militares em quase todos os centros urbanos.
O mais importante deles acontece no Eixo Monumental, em Brasília, com a presença do presidente da República, chefes dos três poderes, ministros de Estado e embaixadores credenciados no Brasil.
No ano passado, por causa da Covid-19, os desfiles foram cancelados e o Sete de Setembro se resumiu a um hasteamento da bandeira nacional no palácio da Alvorada.
Tal como dizia uma antiga marchinha de Carnaval, “Este ano não vai ser igual àquele que passou.” O principal evento da comemoração de Sete de Setembro será uma manifestação política na avenida Paulista, em São Paulo, com a presença do presidente da República. Este, inclusive, informou que fará “um longo pronunciamento.”
Ou seja, para não tergiversar, a data magna do Brasil independente será um comício das eleições presidenciais do ano que vem.
Há outro agravante: a presença de oficiais, sargentos e soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Parte dessa tropa estará cumprindo missão de policiamento. Resta saber se eles vão avançar em sua participação e se imiscuir entre os militantes bolsonaristas.
Com certeza haverá outros, que não estarão de serviço, infiltrados no meio da massa, à paisana, unidos nas palavras de ordem contra os demais poderes, com destaque para o STF.
Há uma fraterna ligação entre Jair Bolsonaro e os PMs. Quando o capitão saiu do Exército, de maneira não muito honrosa, candidatou-se e foi eleito vereador do Rio de Janeiro.
Um dos seus primeiros projetos de lei foi permitir que os soldados da polícia militar não pagassem passagens nos transportes públicos.
De vereador para deputado federal, foi um pulo. Ao longo de sete mandatos, Bolsonaro se destacou em defesa dos interesses do pessoal militar, com destaque para os de baixa patente.
Na verdade, e não há nenhum exagero nisso, o capitão-presidente é um ídolo entre os PMs de todo o Brasil. Não é à toa que volta e meia ele se desloca para um estado qualquer para presidir cerimônias tais como a formatura de sargentos.
Na época do regime militar, as PMs eram órgãos auxiliares das FFAA e comandadas por coronéis do Exército. Isso acabou com a democratização.
Sabiamente o governador de São Paulo, João Doria, proibiu qualquer manifestação oposicionista em Sete de Setembro. Isso impedirá a possibilidade de conflito.
O mercado deverá observar com atenção os acontecimentos da avenida Paulista. Se Bolsonaro der um brado golpista, afetará a Bolsa e o dólar.
Resta aos oficiais superiores fazer um pronunciamento categórico em defesa da ordem constituída.
Antes que isso aconteça, se é que vai acontecer, aconselho a todos os que operam nos diversos mercados a permanecer de antenas ligadas.