Casado com um dragão!
Por Rodrigo Natali
Em fevereiro deste ano, a China começou a derrubar a própria bolsa.
Num esforço claro de desalavancar os setores que considerava mais especulativos ou com investimentos não estratégicos, atacou os especuladores de commodities, baniu mineração, pagamento e venda de máquinas de cripto ativos, investiu contra o mercado de gaming e outros setores de tecnologia, estatizou o setor de educação, coibiu o consumo de bens de luxo e tratou do setor de construção enquanto resolvia o problema local.
Com um atraso de quase 10 meses, os Estados Unidos acenaram com o começo do processo de redução de estímulos, finalmente agora com um presidente do FED que sai do “modo campanha” e pode surpreender sendo mais agressivo. Isso já teve efeito no dólar, e deverá continuar a ter, que passa a se valorizar no mercado externo, estando na máxima do ano e 8% mais alto do que as mínimas de junho.
Pelo fato da China ter um Peg, isto é, um câmbio atrelado à cotação do dólar, sua moeda apreciou também contra o resto do mundo, ficando seus produtos mais caros de serem comprados, e os insumos que precisa comprar, mais baratos.
Esse cenário justificaria que a China começasse a estimular internamente sua economia, dado que ela não tem capacidade de influenciar a cotação internacional do dólar e, ao mesmo tempo, não pode desvalorizar sua moeda pois, neste momento, enfrenta uma inflação mais alta e uma comunidade internacional que se rebelaria, acusando-a de manipulação.
Assim, a forma de fazer isso, a mesma do passado, é ligar de novo o motor da economia interna, possivelmente o da construção, por exemplo, que representa um terço do PIB local de forma direta ou indireta. Para isso, hoje, uma vez que o estado chinês controla quase todos os aspectos da economia, basta vontade política.
Existe apenas uma coisa que o dragão chinês não controla: o preço dos insumos, as commodities que tem que importar. E por mais que eles tentem fazer de tudo para jogar esses preços para baixo, com sanções pontuais ou declarações estratégicas, quando entram no mercado de fato não conseguem segurar e seu efeito é imediato.
Ninguém no mundo se beneficia mais desse cenário do que certas exportadoras brasileiras, que contam com um dólar mais alto, não têm endividamento local e com a segunda economia do mundo voltando as compras de seus produtos, num processo que sabemos como começa, mas não quando termina.
Sabemos que, comparado a outros mercados, o de commodities é o mais cíclico, mas o mal-estar provavelmente resultante da má performance da nossa bolsa e a quantidade de saques da indústria de fundos contagiou o racional das pessoas para uma espécie de visão pessimista imutável. Pois é justamente nessas horas que devemos investir.
Isso porque o cenário macro faz sentido, as empresas estão baratas, o técnico está excelente e o clima é de cemitério. É raro encontrar tantos fatores positivos ao mesmo tempo. E para aqueles preocupados com a eleição, fiquem tranquilos, o Xi vai continuar no poder nos próximos anos.