Aquisição hostil - Marfrig MRFG3 vs. BRF (BRFS3)
Por Nícolas Merola, CNPI, e João Abdouni
Nesta semana, a Marfrig (MRFG3) divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2021 (3T21) com uma geração de caixa robusta.
Entenda o que pensamos sobre a empresa e a negociação com a BRF no relatório de hoje.
Marfrig: a empresa
A companhia tem como líder do bloco de controle o empresário Marcos Molina, conhecido por ser bastante arrojado, com 49,6% das ações.
No primeiro semestre de 2021, a Marfrig adquiriu 31,7% das ações da BRF.
A empresa vem se aproveitando do elevado preço da proteína animal e da alta do dólar para melhorar consideravelmente a sua rentabilidade.
O fluxo de caixa livre gerado pela companhia foi de 3,8 bilhões de reais, e, com isso, a Marfrig ficou com uma robusta posição de caixa de 15,6 bilhões de reais, equivalente a 85% do seu valor de mercado atual.
Intenções, ofertas e controles
Em nossa análise, acreditamos que o controlador da Marfrig tenha a intenção de adquirir também o controle da empresa dona das marcas Sadia e Perdigão. No entanto, as regras de controle de governança corporativa da BRF são bastante rígidas.
O estatuto da BRF obriga que um grupo que detenha acima de 33% das ações da companhia realize uma oferta pública de aquisição (OPA) aos demais investidores da companhia.
Ao que pudemos apurar até aqui, um dos acionistas da BRF que vendeu sua participação foi o empresário brasileiro Abílio Diniz. Ele detinha cerca de 3,8% das ações da companhia.
A negociação entre a Marfrig e Abílio já teria ocorrido e os valores por ação foram em torno de R$28,75, um prêmio de 23% em comparação com preço de fechamento do dia 29 de outubro de 2021.
Caso a Marfrig efetivamente busque a aquisição total da BRF e a oferta mantenha esse mesmo patamar de preço por ação, a empresa teria que desembolsar em torno de 16 bilhões de reais para adquirir os 68,3% das ações que ainda não possui da BRF e, dessa forma, deter 100% do capital da controladora da Sadia e Perdigão.
Entretanto, essa negociação não deve ser nada simples, dado que existe uma série de dificuldades a serem vencidas por Marcos Molina para conseguir atingir o objetivo de se tornar controlador das duas empresas e, assim, poder liderar uma possível fusão.
Ressalvas
A primeira dificuldade que apontamos é que embora a Marfrig tenha 15,6 bilhões de reais em caixa, ela também tem uma dívida total contratada de 29 bilhões de reais.
A geração de caixa da empresa nos últimos doze meses é de 10 bilhões de reais, mas levava em consideração um preço de carne mais alto até junho deste ano (queda de aproximadamente 15%) e um dólar mais baixo (alta de 9%); mas, os compensam, ao menos parcialmente.
Supondo que a companhia utilize todo seu caixa para a compra das ações de BRF, ainda permanecerá negociando a 3 vezes dívida líquida sobre geração de caixa. O que é um nível considerado aceitável no mercado.
A Marfrig poderia recorrer a outras formas de realizar essa aquisição, como, por exemplo, pagar aos demais acionistas da BRF ações da nova empresa.
Outro entrave é a aprovação do CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que, em caso de uma fusão nessa proporção, seria necessária e poderia levar alguns meses para avaliação da autorização do negócio.
É fato que as empresas não atuam exatamente no mesmo segmento, visto que a Marfrig está voltada para o ramo de carnes vermelhas, majoritariamente no setor bovino, e a BRF é focada em aves.
Nós seguimos monitorando os próximos movimentos e acreditamos que tanto por essa possível negociação, quanto pelo próprio desempenho operacional da companhia, as ações de BRFS3 estão em um patamar extremamente atrativo.
Para maiores detalhes, o investidor pode ler o relatório sobre BRF que preparamos, é só clicar neste link.
Nós ficamos por aqui. Traremos notícias dos próximos acontecimentos em relatórios futuros.