Natura registra queda de 70%. A Dynamo está certa?

1 de fevereiro de 2022
A Natura é uma das empresas brasileiras que se destaca de forma global, mas será que suas ações, após uma queda de 70% desde seu topo histórico, são um bom investimento?

Caro(a) leitor(a),

A Natura é uma das empresas brasileiras que se destaca de forma global tanto por ser a quarta maior empresa de saúde e beleza do mundo, quanto por ser uma das referências de ASG (Ambiental, Social e Governança) no Brasil, fatores que vêm se tornando cada dia mais relevantes no mundo dos negócios.

Mas será que suas ações, após uma queda de 70% desde seu topo histórico, são um bom investimento?

 

Breve histórico

A Natura foi fundada em 1969 e sua estrutura empresarial é composta por quatro empresas: Natura, Avon, The Body Shop e Aesop. Ela é a líder nacional do mercado de cosméticos e fragrâncias. 

A marca Natura foi a empresa que deu origem ao conglomerado por meio da fabricação de cosméticos e distribuição de uma forma descentralizada e liderada por diversas consultoras espalhadas por todo o Brasil. 

Em 2016 concluiu a primeira grande aquisição com a compra da Aesop por aproximadamente R$ 300 milhões, empresa fundada em 1987 na Austrália, que conta com 247 lojas em 27 mercados. No ano seguinte, com o objetivo de expandir seus negócios pelo mundo, a Natura realizou mais uma grande aquisição, a marca inglesa The Body Shop.

Ela foi incorporada por cerca de 1 bilhão de euros ou 5,9 bilhões de reais a valores de hoje. A The Body Shop foi fundada em 1976 e a empresa é focada no desenvolvimento de produtos de saúde por meio de produtos naturais. Com a marca inglesa, a Natura teve acesso ao mercado europeu de forma mais efetiva.

Por último, em 2020, a empresa realizou a sua aquisição mais ousada, a compra da Avon por cerca de US$ 2 bilhões, 10,6 bilhões de reais a valores de hoje, e assim, consolidando-se a quarta maior empresa de saúde e beleza do mundo.

A Avon é uma empresa norte-americana, fundada em 1886, com diversas linhas de produtos voltados para maquiagem, perfumaria, moda e beleza feminina, contando com 6,3 milhões de representantes em mais de 65 países.

 

Investimento da Dynamo

Apesar do acionista de referência ser Luiz Seabra, que possui 14,5% das ações, a Natura possui outro acionista bem importante e que costuma chamar a atenção do mercado para seus investimentos. 

Trata-se da famosa e tradicional gestora de recursos Dynamo, considerada por muitos a melhor gestora de ações do país, e com uma rentabilidade anualizada, desde sua criação, de impressionantes 44,9% a.a. contra 27,88% a.a. do Ibovespa.

De acordo com a última atualização, a gestora possui uma posição relevante na Natura, representando cerca de 8% do patrimônio do fundo Dynamo Cougar FIC FIA e 5% do total de ações da Natura.

Mas afinal, a Dynamo está certa em seu investimento?

 

Valor justo

Com relação ao valor justo da Natura, ele vem sofrendo uma forte correção puxada, principalmente, pela perda das margens da companhia devido a alta dos preços dos insumos que a empresa utiliza para a confecção de seus produtos. No resultado divulgado referente ao terceiro trimestre de 2021, a empresa informou que esse problema de compressão de margens deve vigorar até o fim de 2023. 

No entanto, sabemos que o mercado é um maníaco depressivo e que exagera tanto nas altas (quando as ações de Natura chegaram a negociar a R$ 60) quanto nas baixas. 

Atualmente, as ações de Natura negociam a R$ 22,70, quantia que é praticamente a mesma do preço de valor patrimonial por ação. Claro, sabemos que a empresa desembolsou altos montantes de ágio na compra da Avon e da The Body Shop e que podem trazer problemas de volatilidade aos papeis no curto prazo. No entanto, acreditamos que a esses preços, a empresa está demonstrando um bom ponto de entrada.

Para elaborar o valor justo, montamos um modelo de fluxo de caixa descontado, utilizamos uma taxa de desconto de 15% ao ano, com um crescimento das receitas de 10% para os próximos sete anos, e 3% na perpetuidade. Nosso modelo também considerou uma margem operacional (EBIT) de 12% abaixo do guidance da companhia que é de 15%.

Com isso, chegamos em um valor justo por ação de R$ 33,72, uma possível valorização de 57% versus nosso preço de compra. Portanto, a empresa pode atingir um valor de mercado de R$ 46 bilhões.

Atualmente, a empresa negocia a 5,8 bilhões de dólares. Em um mundo onde os market cap das empresas atingiram os trilhões de dólares, as ações de Natura, a quarta maior empresa de saúde e beleza do mundo nos parecem baratas por diferentes formas de avaliação.

 

Para o acionista 

Para o investidor que decidir se posicionar em Natura, terá em seu portfólio uma empresa com foco real nas questões ESG (do inglês, environmental, social and governance) que adquiriu marcas tradicionais ao redor do mundo, mas que também enfrenta uma série de desafios.

As ações sofreram uma queda de 70% desde seu topo histórico, mas acreditamos que o cenário ruim já está precificado e que, no médio prazo, a empresa irá conseguir melhorar as margens. Com isso, irá entregar retorno a seus acionistas. Lembramos que só é possível comprar ótimas empresas a bons preços quando ocorrem alguns problemas, isso nos parece o atual cenário de Natura.

Muito obrigado a todos! 
João Abdouni, CNPI

 

Nota do editor: recentemente as ações de Natura entraram na carteira de Ações Alpha. Se quiser saber o peso dessa e demais posições na carteira, clique aqui.

 

Conheça o responsável por esta edição:

João Abdouni

Analista CNPI

Graduado em Contabilidade e administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, João possui grande experiência em auditoria contábil, trabalhando por anos na Ernst & Young, famosa empresa inglesa de consultoria. Apaixonado pelo mercado financeiro, integra o time de especialistas em investimentos da Inv e está à frente das séries Premium Caps, Ações Alpha dentre outras.

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