3 motivos para ficar fora do IPO de Nubank
Por Nícolas Merola, CNPI
Caro leitor,
O Nubank vai abrir capital e listar suas ações na bolsa de valores de Nova York (NYSE) à um valor de mercado maior que o do Itaú. Sendo assim, se tornará o maior “banco” do Brasil em valor de mercado, assim como de toda a américa latina.
Além disso, a companhia está utilizando uma campanha de marketing chamada NuSócio para capitalizar o IPO e angariar clientes. Nessa campanha, os clientes da marca, caso cumpram com os requisitos exigidos, ganharão 1 BDR da companhia, com valor unitário de aproximadamente R$ 9,80. Ou seja, a companhia que anunciou em seu documento de IPO gastar em média R$ 27,00 para adquirir um cliente o fará por menos da metade do preço.
Campanhas bem pensadas como essa, o posicionamento estratégico como uma empresa 100% de tecnologia e sua listagem de ações nos Estados Unidos criaram o ambiente perfeito para que o IPO atingisse um novo patamar de precificação entre as empresas do segmento, o que já nos leva para ao primeiro dos três motivos:
1 – Preço
O IPO será feito através da listagem nos EUA mas contará com a simultânea emissão de BDRs aqui na B3. A primeira tem faixa indicativa de preço entre US$10,00 e US$11,00 e as BDRs entre R$9,35 e R$10,29.
Após o IPO, a companhia passará a ter, no mínimo, 4,6 bilhões de ações que, negociadas a uma faixa média de US$10,50, trazem o valor de mercado da companhia para US$48 bilhões, ou R$264 bilhões.
O principal comparável do Nubank hoje é o Banco Inter pois, apesar de ser bem menor, explora o mesmo mercado, o Brasileiro, e tem a mesma proposta, a de banco digital.
O Banco Inter tem valor de mercado de R$37,3 bilhões que, se dividido por seus 14 milhões de clientes, gera um preço por cliente de R$2664,00. O Nubank, como comentei, terá após o IPO um valor de mercado de R$264 bilhões que, se dividido pelos seus 48 milhões de clientes, gera um preço por cliente de R$5537,00, mais que o dobro do Inter.
Outra métrica interessante, é a relação entre o preço e a receita dessas empresas. O Inter em seu último resultado apresentou uma receita, anualizada, de R$ 3,4 bilhões e o Nubank, no prospecto, no mesmo trimestre teve R$10,1 bilhões. Com isso, a relação preço sobre receita dessas companhias também fica muito discrepante: 26 vezes para o Nubank e 11 vezes para o Banco Inter.
2 – O Nubank ainda não é banco.
Se percebeu, na introdução da edição dei à palavra banco aspas ao me referir ao Nubank. Isso porque, ainda hoje, a instituição não é formalmente um banco, ela é uma Instituição de Pagamentos.
No início, a startup tinha como seu único serviço a intermediação de pagamentos através de seu cartão de débito, que tecnicamente não é débito apesar da semelhança. Logo depois criou a NuConta, a conta corrente oferecida pela startup, e que também é uma adaptação de uma conta de depósito.
Esse status pode, inclusive, ser conferido no site do Banco Central (BC), na lista de Bancos Comerciais, Múltiplos e Caixa Econômica.
A grande vantagem que isso traz para a companhia é que, por não ser formalmente um banco, ela goza de uma série de facilidades relacionadas à burocracia, prestação de contas e, também, tributárias.
O grande risco, neste caso, é que em algum momento a companhia seja forçada pelo BC a se enquadrar em todas as exigências que o próprio Banco Inter hoje é cobrado, assim como o Itaú, o Bradesco, Santander etc. Até porque, ela será maior que todos eles.
3 – Listagem nos EUA e inversão de valor
Um trajeto muito comum após as movimentações feitas pela XP e pela Stone, é de as empresas considerarem listar suas ações nos EUA ou, como é o caso do Banco Inter, transferir sua listagem para lá.
Isso porque, listando lá fora, a empresa não só é mais vista pelo resto do globo, como consegue angariar patamares de precificação de empresas americanas, mesmo estando no Brasil. Na verdade, a empresa é mais bem valorizada até pelo próprio brasileiro que, desacreditado com o Brasil, prefere pagar mais caro para deixar o dinheiro “lá fora”.
O que não se pode esquecer é que você estará pagando em dólares por uma empresa que ganha dinheiro em reais quando, ao mesmo tempo temos aqui, na bolsa brasileira, empresas que podem ser compradas com reais e que ganham dinheiro em dólares.
E você, o que prefere?
Um abraço,
Nícolas Merola, CNPI