3 razões para ficar fora do IPO do Nubank

9 de novembro de 2021
Posicionada como empresa de tecnologia e prestes a fazer um IPO nos EUA, o Nubank atingiu um novo patamar de precificação entre as empresas do seu segmento, mas vale a pena investir?

3 motivos para ficar fora do IPO de Nubank

Por Nícolas Merola, CNPI

 

Caro leitor, 
 

O Nubank vai abrir capital e listar suas ações na bolsa de valores de Nova York (NYSE) à um valor de mercado maior que o do Itaú. Sendo assim, se tornará o maior “banco” do Brasil em valor de mercado, assim como de toda a américa latina.

Além disso, a companhia está utilizando uma campanha de marketing chamada NuSócio para capitalizar o IPO e angariar clientes. Nessa campanha, os clientes da marca, caso cumpram com os requisitos exigidos, ganharão 1 BDR da companhia, com valor unitário de aproximadamente R$ 9,80. Ou seja, a companhia que anunciou em seu documento de IPO gastar em média R$ 27,00 para adquirir um cliente o fará por menos da metade do preço.

Campanhas bem pensadas como essa, o posicionamento estratégico como uma empresa 100% de tecnologia e sua listagem de ações nos Estados Unidos criaram o ambiente perfeito para que o IPO atingisse um novo patamar de precificação entre as empresas do segmento, o que já nos leva para ao primeiro dos três motivos: 
 

1 – Preço

O IPO será feito através da listagem nos EUA mas contará com a simultânea emissão de BDRs aqui na B3. A primeira tem faixa indicativa de preço entre US$10,00 e US$11,00 e as BDRs entre R$9,35 e R$10,29. 

Após o IPO, a companhia passará a ter, no mínimo, 4,6 bilhões de ações que, negociadas a uma faixa média de US$10,50, trazem o valor de mercado da companhia para US$48 bilhões, ou R$264 bilhões. 

O principal comparável do Nubank hoje é o Banco Inter pois, apesar de ser bem menor, explora o mesmo mercado, o Brasileiro, e tem a mesma proposta, a de banco digital. 

O Banco Inter tem valor de mercado de R$37,3 bilhões que, se dividido por seus 14 milhões de clientes, gera um preço por cliente de R$2664,00. O Nubank, como comentei, terá após o IPO um valor de mercado de R$264 bilhões que, se dividido pelos seus 48 milhões de clientes, gera um preço por cliente de R$5537,00, mais que o dobro do Inter. 

Outra métrica interessante, é a relação entre o preço e a receita dessas empresas. O Inter em seu último resultado apresentou uma receita, anualizada, de R$ 3,4 bilhões e o Nubank, no prospecto, no mesmo trimestre teve R$10,1 bilhões. Com isso, a relação preço sobre receita dessas companhias também fica muito discrepante: 26 vezes para o Nubank e 11 vezes para o Banco Inter. 
 

 

2 – O Nubank ainda não é banco. 

Se percebeu, na introdução da edição dei à palavra banco aspas ao me referir ao Nubank. Isso porque, ainda hoje, a instituição não é formalmente um banco, ela é uma Instituição de Pagamentos. 

No início, a startup tinha como seu único serviço a intermediação de pagamentos através de seu cartão de débito, que tecnicamente não é débito apesar da semelhança. Logo depois criou a NuConta, a conta corrente oferecida pela startup, e que também é uma adaptação de uma conta de depósito.

Esse status pode, inclusive, ser conferido no site do Banco Central (BC), na lista de Bancos Comerciais, Múltiplos e Caixa Econômica.

A grande vantagem que isso traz para a companhia é que, por não ser formalmente um banco, ela goza de uma série de facilidades relacionadas à burocracia, prestação de contas e, também, tributárias. 

O grande risco, neste caso, é que em algum momento a companhia seja forçada pelo BC a se enquadrar em todas as exigências que o próprio Banco Inter hoje é cobrado, assim como o Itaú, o Bradesco, Santander etc. Até porque, ela será maior que todos eles. 
 

3 – Listagem nos EUA e inversão de valor

Um trajeto muito comum após as movimentações feitas pela XP e pela Stone, é de as empresas considerarem listar suas ações nos EUA ou, como é o caso do Banco Inter, transferir sua listagem para lá. 

Isso porque, listando lá fora, a empresa não só é mais vista pelo resto do globo, como consegue angariar patamares de precificação de empresas americanas, mesmo estando no Brasil. Na verdade, a empresa é mais bem valorizada até pelo próprio brasileiro que, desacreditado com o Brasil, prefere pagar mais caro para deixar o dinheiro “lá fora”.  

O que não se pode esquecer é que você estará pagando em dólares por uma empresa que ganha dinheiro em reais quando, ao mesmo tempo temos aqui, na bolsa brasileira, empresas que podem ser compradas com reais e que ganham dinheiro em dólares.

E você, o que prefere?

Um abraço, 

Nícolas Merola, CNPI

 

Conheça o responsável por esta edição:

Nícolas Merola

Ações e Fundos de Investimento

Formado em Engenharia Civil pela UVA (Universidade Veiga de Almeida - RJ) em 2017 e com MBA pelo IBEC/INPG em 2018. Nícolas começou a estudar sobre investimentos ainda no início de sua faculdade, quando se apaixonou pelo assunto. Depois de atuar por mais de três anos no mercado de renda variável, de forma autônoma, se juntou em 2019 ao time de especialistas da Inv.

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