Mind the Gap #7 - Bezzle e engenharia financeira

Em busca de capilaridade, o mercado financeiro cria produtos a todo instante: vou mostrar para você qual é a novidade e seus efeitos especulativos

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Nota do editor: nos próximos minutos, Marink Martins vai apresentar de forma única a você um novo produto muito divulgado nos EUA.

Olá, leitor(a) Inversa!

Na newsletter de hoje, quero falar com você sobre bezzle e engenharia financeira. 

Vou começar com o bezzle, uma expressão utilizada pelo economista John Kenneth Galbraith, que utiliza a palavra para se referir ao volume de operações ilícitas no mercado.

Um volume que tende a crescer em momentos de euforia, nos quais há certa manipulação no mercado, quando a taxa de juro está muito baixa, sendo mantida de forma artificial.

Neste momento, normalmente o que ocorre é um maior uso de alavancagem por investidores. Pessoas físicas tomam dinheiro emprestado e operam de maneira muito alavancada.

Ao mesmo tempo, existe maior criatividade pelos bancos de investimento no desenvolvimento de produtos financeiros.

Alguns desenvolvidos nos últimos trinta, quarenta anos direcionados ao mercado institucional, são extremamente válidos e importantes, como o CDS (Credit Defualt Swap), muito discutido no filme “A Grande Aposta”, inspirado no livro “The Big Short”, de Michael Lewis.

Os CDS foram criados pelo JPMorgan nos anos 1990, e tem uma utilização muito oportuna no mundo institucional. 

Existem alguns produtos que são criados, direcionados a pessoas físicas. Lá nos EUA, o produto do momento é o SPAC (Special Purpose Acquisition Company), sigla que significa “companhia de propósito específico com o objetivo de adquirir novas empresas”.

Normalmente, as SPACs são empresas que não têm atividade operacional, sendo fundidas com uma outra companhia já listada na bolsa, em processo conhecido como fusão reversa.

Neste mecanismo, o dono da SPAC não precisa perder tempo com toda burocracia associada a listar uma empresa, por todo trâmite exigido pela SEC (Securities and Exchange Commission), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) americana, de acordo com regras estabelecidas lá atrás, em 1934.

Através das SPACs, os investidores conseguem comprar ações de uma empresa concedendo dinheiro para a corporação poder adquirir outras companhias.

Cheque em branco

Também conhecidas como Blank Check Corporations, nas SPACs, você escreve um cheque em branco para um gestor que você considera qualificado para adquirir novas empresas.

A SPAC em si não é um produto novo, essa estrutura já existe há bastante tempo. Em 2003, o volume de captações via SPAC foi por volta de US$ 3 bilhões. 

Em 2019, tivemos um volume maior, de US$ 13 bilhões. Já em 2020, começamos a visualizar novas operações: com dinheiro muito barato, o que não faltam são ideias. 

Recentemente, uma das SPACs que mais despertou a atenção dos investidores foi envolvendo Chamath Palihaptiya, gestor muito respeitado, um dos primeiros investidores do Facebook.

Palihaptiya acabou comprando 49% da Virgin Galactic, empresa que possui como objetivo fazer voos espaciais. 

A euforia no mercado foi tanta que o preço da ação subiu bastante, chegou a atingir US$ 36, US$ 37. Hoje em dia, vale metade disso. 
 
É justamente por isso que eu te chamo a atenção. Tive a oportunidade de atuar aqui no Brasil por uma empresa na área de Relações com Investidores.

Embora não fosse conhecida como uma SPAC, tinha como objetivo (e fez isso, captou recursos no mercado para esta finalidade) adquirir novas empresas no mercado.

A empresa estava promovendo uma consolidação no setor de corretagem de seguros. À época, Brasil Insurance Participações era seu nome, sendo hoje conhecida como Alper.

Esta empresa fez um IPO em 2011 a R$ 13,50. Os preços das suas ações foram até R$ 24, R$ 25 aproximadamente, e depois a ação colapsou, chegando a valer centavos. 

Hoje, com uma nova gestão, segue um caminho bem mais construtivo. 

Empresas zumbis

Um dos meus objetivos aqui é chamar atenção para isso que o John Kenneth Galbraith chama de bezzle, tipo de atuação no mercado que se torna muito comum em momentos de euforia.

A gente viu recentemente um caso que chamou muita atenção da mídia aqui no Brasil de uma empresa também na área de seguros que colapsou. 

Momentos de euforia extrema são muito comuns no mercado, não somente aqui como lá fora também. 

Chama atenção também o caso da Boeing, empresa construtora de aviões muito discutida pelo nosso querido especialista Ivan Sant’Anna. 

No auge, quando as ações da Boeing estavam perto de US$ 400, em uma das suas colunas aqui da Inversa, Warm Up PRO, o Ivan alertou para o risco ao investir na fabricante de aeronaves.

À Boeing, na ocasião (tudo caminhando bem), não faltavam oportunidades para a empresa se recapitalizar, aproveitar as circunstâncias e o momento favorável do mercado em 2018, 2019, e fortalecer o seu balanço.

Mas não. A diretoria preferiu simplesmente captar recursos no mercado para recomprar suas ações.

Veio a pandemia, que sucedeu a crise de enorme proporção devido aos problemas associados por conta da aeronave 737 MAX, e a Boeing praticamente quebrou.

Não quebrou, ela está aí. Sim, de uma forma artificial, assim como a taxa de juros do mercado.

Fique atento. Porque o nível do bezzle não para de subir.

Muito obrigado por sua atenção.

Até a próxima!

Marink Martins

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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