Mind the Gap #3 - Enigma “Indiana Jones” do MICRO para o MACRO

Mercados atentos a questões exógenas às empresas navegam com arca de dólar e empresas de tecnologia: estamos próximo do final de um ciclo?

Conteúdo disponível também em áudio e vídeo nas plataformas abaixo (clique para ver ou ouvir):

Apple Podcasts Google Podcast Spotify Deezer RSS Youtube

Nota do editor: nas próximas linhas, Marink Martins vai apresentar a você a questão principal que tira o sono dos maiores investidores do mundo.

Olá leitor(a) Inversa!    

Hoje quero falar com você sobre uma transição de mercado, na qual o foco muda de questões microeconômicas para preocupações macroeconômicas, justamente o que se passa na cabeça dos investidores agora. 

Antes de falar deste momento atual, gostaria de mencionar alguns atributos relacionados a um período mais tranquilo, quando o foco do mercado está nas empresas.

Nestes momentos, a volatilidade normalmente está mais baixa, assim como a correlação entre setores.

O foco dos agentes se direciona às projeções de fluxo de caixa das empresas e aos múltiplos de P/L (Preço sobre Lucro), retorno investido sobre o capital e custo do capital.  

Podemos utilizar o ano de 2017 como exemplo de um período marcado mais pelas questões microeconômicas. 

No entanto, o momento que vivemos agora é bem diferente...

Senhores passageiros, coloquem seus cintos 

2020 é o “Ano da Turbulência”, quando vemos quase o oposto, com volatilidade elevada e alta correlação setorial.

E, convenhamos, as relações de P/L estão extremamente esticadas nos EUA (aqui no Brasil não é tão diferente), até porque o L (lucro) vem sofrendo muito devido à pandemia. 

Neste instante, essa relação perde um pouco a relevância, porque é como se o foco estivesse saindo dos centros financeiros e caminhado em direção aos centros políticos. 

O mercado sai de Nova York e passa a focar em Washington, sai de São Paulo e transmuta sua atenção à Brasília. 

Isso ocorre porque é lá onde são tomadas decisões relacionadas às políticas fiscal e monetária. Tudo acontece como uma forma de reação à essa pandemia que abalou o mundo.

Nos Estados Unidos, em particular, temos ainda questões relacionadas à eleição presidencial que está por vir, no dia 3 de novembro.

Hoje mesmo, dia que eu escrevo esta newsletter, li algumas notícias de que o Joe Biden lidera a campanha em seis estados considerados “campos de batalha”.

Isso é extremamente relevante: lá em 2012, o Obama ganhou em quatro desses seis estados. O Trump, em 2016, virou o jogo ganhando também em quatro desses seis estados. 

E, até o momento, Joe Biden parece levar nos seis estados. Mas, ainda tem muitas pedras no caminho. É possível que, dependendo da reação econômica, Trump surpreenda novamente.

Mas o que importa nesse momento é que, independente do resultado, é quase certo que está por vir uma elevada volatilidade nos mercados.

Essa mudança do micro para o macro é muito importante, coincidindo com uma transição que eu julgo talvez ser a mais importante do momento, que está tomando muito meu tempo.

A pergunta de um milhão é: será que chegou o momento da transição do dólar de um ciclo de valorização para um de desvalorização?

O início do fim?

Aqui não estou falando da relação entre dólar e real, avalio o comportamento do dólar versus outras moedas internacionais.

O dólar é a reserva de valor global, o ciclo desta moeda é extremamente importante para os mercados. 

Quando o dólar tende a ficar mais forte ocorre, coincidentemente, superior performance das ações americanas em relação a outros ativos.

Vemos, nesses momentos, que os EUA normalmente se destacam: ou com ações de tecnologia (como ocorreu lá nos anos 90), ou através do desempenho dos bancos.

O último ciclo de alta do dólar, que foi marcante na última década, foi praticamente dominado por empresas de tecnologia. 

Há quem acredite, por inúmeras razões, que esse ciclo pode estar terminando...

Primeiro, tomando como referência o poder de paridade de compra, o dólar está à frente de moedas como a libra esterlina e o euro, em termos relativos. 

Outro argumento, e talvez o mais importante, é a magnitude da reação monetária e fiscal dos Estados Unidos, que tem sido avassaladora, deixando muita gente preocupada.

Se nos anos 90 o dólar estava forte, e os EUA caminhavam muito bem, o pano de fundo trazia consigo superávit fiscal (sim, isso ocorreu no fim da década retrasada).

Depois da guerra contra o Iraque e da crise financeira de 2008, os Estados Unidos começaram a ver uma forte deterioração fiscal e isso, naturalmente, impacta o dólar. 

A transição pode estar por vir. Mas, diante de tudo, qual a mensagem que busco passar aqui nessa newsletter?

Uma pergunta fundamental

A mensagem é a seguinte: momentos em que o foco passa para o macro, como o atual, de um lado ocorre alta volatilidade e correlação setorial, mas, do outro, são períodos de movimentos exponenciais nas bolsas. 

Esse movimento, que pode aparecer tanto na alta como na baixa, atualmente ocorre através da valorização exponencial das ações de tecnologia que, para alguns (e eu me incluo neste grupo), é um setor que está esticado, em fim de ciclo.

Podemos estar vendo o início de um ciclo exponencial nessas ações. Aqui, eu falo com relação a Apple, a Microsoft, a Amazon e algumas outras. 

Esse ciclo exponencial, muitas vezes chamado de “última pernada de alta”, tende a ser intenso e resulta em uma capitulação daquele que está vendido, ou daquele que não participou.

E fica a grande questão, que embora não tenha uma resposta, talvez possa te ajudar a transitar durante esse período: se a narrativa de movimento exponencial se materializar e o dólar iniciar seu ciclo de enfraquecimento, trazendo consigo as empresas de tecnologia para baixo, qual será a reação dos mercados emergentes?

Inicialmente veremos uma queda ou será que essa transição pode ser menos impactante, em um movimento de rotação setorial nos EUA com as empresas de tecnologia perdendo valor e outros setores ganhando força, com decorrente valorização das commodities e dos mercados emergentes?

Uma outra possibilidade seria queda mais abrupta do setor de tecnologia, que provavelmente elevaria a volatilidade ainda mais, e faria com que os mercados emergentes, pelo menos no início, começassem a sofrer.

Eu te deixo com essa dúvida, porque é justamente a minha, na qual venho dedicando muitas horas tentando entender e imaginar os possíveis cenários para esse enigma.

Eu fico por aqui.

Muito obrigado pela atenção e até a próxima newsletter!

Um grande abraço,

Marink Martins

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240