Mind the Gap #15 - Por trás da alta da Apple

3 de setembro de 2020
Disparada das ações da companhia traz componente atípico: descubra agora

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Nota do editor: a seguir, Marink Martins apresentará para você como a disparada das ações da maior empresa do mundo possui um componente atípico. E quando o assunto são as ações para comprar neste mês, a escolha não é nada óbvia! Visualize aqui quais papéis os grandes fundos estão comprando.

Olá leitor(a),

Na newsletter de hoje quero falar com você sobre algo um tanto técnico, mas extremamente pertinente para entendermos o que está acontecendo no mercado.

Em particular, pode nos ajudar a compreender o que está ocorrendo com as ações da Apple, hoje a empresa mais valiosa do mundo.

Você naturalmente já deve ter ouvido falar que a Apple vale mais de US$ 2 trilhões. Sim, isso mesmo: US$ 2 trilhões. 

Nesta semana, a Apple chegou a superar o valor de todas as ações contidas no índice Russell 2000. 

Isso é um marco, até mesmo porque a Apple em 2018 valia somente 40% desse índice. Só dois anos atrás. 

E, convenhamos, há sempre um elemento oculto na precificação, não só na ação da Apple mas em todas as ações do mercado.

Esta influência diz respeito a fatores sistêmicos: se algo está ocorrendo com a Apple que é tão positivo para essa empresa, por que não afetaria também os componentes do Russell 2000?

Essa é uma questão muito válida e pertinente.
 

Volatilidade implícita

Há quem diga que a Apple esteja se valorizando por expectativas com relação a tecnologia 5G.  

Outros dirão que a Apple se valoriza por perspectivas otimistas no segmento de serviços com os chamados wearables (itens tecnológicos de vestuário como smartwatches), além de diversas outras iniciativas.

Tudo isso julgo ser verdade. Acredito que esses fatores deverão contribuir para uma maior lucratividade da empresa nos próximos anos.

Contudo, meu objetivo aqui é argumentar que a Apple vem subindo de forma exponencial por uma razão técnica.

A razão está ligada à seguinte relação: market up, vol down (mercado para cima, volatilidade para baixo).

Isso quer dizer que, normalmente, quando o preço de uma determinada ação sobe, os seus contratos derivativos que tem como principal input uma expectativa de oscilação neste ativo-base, são afetados.

Se você acha que Apple vai oscilar muito nos próximos meses, as opções ficam mais caras em termos relativos.

Se você acha que vai oscilar pouco, as opções se tornam mais baratas. Esta variação tem a ver com o “vol”. 

O “vol” ao qual me refiro aqui atende pelo nome técnico de volatilidade implícita.
 

95% das vezes

Não é uma regra, mas algo que ocorre com frequência de 95% das vezes. 

Posso inferir isso por ter uma vida toda dedicada a esse mercado, com mais de 20 anos de experiência.

O que ocorre é: normalmente quando o preço sobe, a volatilidade implícita das opções associadas a esse ativo cai. 

Não tenho tempo aqui para entrar em detalhes muito técnicos, mas posso falar de uma forma superficial. Existem duas razões. 

Uma mais ligada ao modelo de Black-Scholes, que tem a distribuição normal como uma das premissas de oscilação nos preços.

Autores como Nassim Taleb já exploraram muito este tema, indicando que é uma premissa errada.

Por isso depois de 1987, com um evento conhecido como Black Monday, vimos um sorriso da volatilidade, no qual alguns contratos começaram a negociar com volatilidade mais alta do que outros.  

O segundo ponto, pouquíssimo discutido e que trago para você, tem muito a ver com uma estrutura chamada de margem.

Quando o preço do ativo cai e alguns contratos de opções recuam também, a sua chamada de margem fica elevada de forma desproporcional.

Isso é um detalhe um pouco mais técnico, explicando por que existe essa relação do market up vol down.

A relação, presente em 95% das vezes, em alguns casos não ocorre, acontecendo justamente o oposto.

 

De volta para o VIX

E é justamente isso que vem ocorrendo com a Apple. 

Desde que as ações da Apple subiram de forma expressiva em um determinado momento em agosto, vemos que a volatilidade implícita das opções começaram a subir de forma conjunta.

Como exemplo, teve um dia no último mês que as ações da Apple (maior empresa do mundo) dispararam 10%, algo não muito comum. 

Não só o preço da ação subia, mas o preço da volatilidade implícita da opção também.

Isso é algo que quando ocorre é cruel com aqueles que atuam nesse mercado. 

Sejam os que estão vendendo opções de forma especulativa, ou as tesourarias que trabalham de uma forma mais técnica, fazendo operações de Delta Hedge (estratégia utilizando opções para reduzir o risco direcional associado com oscilações no ativo-base).

Essas operações ficam muito vulneráveis em situações como essa que ocorre justamente com a Apple, na qual a volatilidade das suas opções estavam por volta de 37%, 38% e, conforme o preço da ação foi subindo, a volatilidade foi subindo também.

Hoje, a volatilidade se encontra no patamar de 56%, perto de 60%. 

A boa notícia é que esse tipo de arranjo, quando a ação sobe e a volatilidade implícita também avança, tende a ser de curtíssimo prazo.

Justamente por esta razão que estou abordando esse tema. Essa alta da Apple provavelmente será interrompida por uma normalização desse processo em breve.

Quando isso ocorrer, a volatilidade implícita da Apple deverá cair, talvez abaixo de 40%, se aproximando da média da volatilidade do mercado baseada no VIX (indicador de volatilidade derivada das opções do índice S&P 500 na bolsa de Chicago), neste momento por volta de 27%.

Vou ficando por aqui.

Um grande abraço,

Marink Martins

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Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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