Caro leitor,
IPOs (Initial Public Offerings – Ofertas Públicas Iniciais) são lançamentos de ações novas em Bolsa. A maioria das pessoas usa o termo no gênero masculino (o IPO). Outros, como eu, no feminino (a IPO), para concordar com o substantivo Oferta.
As IPOs podem ser feitas para criar uma empresa nova ou para aumentar o capital de uma sociedade anônima existente e que se manteve fechada até os dias de hoje.
Já escrevi um livro sobre o assunto. Trata-se de Projeto Maratona, patrocinado pela BM&F e publicado pela editora Cultura, em 2009. Foi uma edição fechada, de apenas mil exemplares.
Transcrevo abaixo um pequeno trecho da página 24 de Projeto... no qual mostro como tudo começou.
“Em 24 de setembro de 1599, por exemplo, 24 comerciantes de Londres fundaram uma empresa com o capital de 72 mil libras, subscrito por 125 acionistas. Objetivo: importar pimenta das Índias, comércio até então exclusivo dos holandeses.
Com as bolsas de valores e de commodities e a negociação de cotas-partes desses empreendimentos além-mar, a pequena burguesia pôde sonhar com riquezas até então só acessíveis aos nobres. Tímida e lentamente, o capital começou a ser democratizado.”
Não é exagero afirmar que as IPOs demarcaram a linha de transição entre o regime feudal, onde quem nascia pobre morria pobre, e o capitalismo democrático.
A não ser que o escândalo Flávio Bolsonaro/Fabrício Queiroz adquira proporções que venham a afetar a governabilidade do novo presidente da República, no Brasil o ano de 2019 deverá ser pródigo em IPOs. São previstos uns 30 lançamentos públicos (quem sabe, até mais), que podem representar um aporte de 60 bilhões de reais no mercado acionário brasileiro.
Em Wall Street, nenhuma década foi tão rica em lançamentos de ações novas como a de 1920. Se, por um lado, papéis como os da Raytheon (tecnologia de ponta – 1922), The Walt Disney Company e Walt Disney Studios (1923), Metro-Goldwyn Mayer (1924), NBC (1926) e Delta Airlines (1928) rendem até hoje dividendos para os bisnetos de seus felizardos compradores, centenas de IPOs foram simplesmente contos do vigário: empresas que adquiriam fundos, que adquiriam fundos, que por sua vez adquiriam mais fundos, e assim por diante, sem que nada produzissem ou lucrassem (a não ser para seus espertos lançadores).
Sem querer fazer propaganda, e já fazendo, isso está em meu livro 1929: quebra da bolsa de Nova York, cuja última edição a Inversa oferece para seus assinantes.
De 1968 a 1971, o Brasil poderia ter criado um gigantesco e abrangente mercado de lançamento de ações. Naquela ocasião, as IPOs (ainda não se usava esse nome) se sucediam. Mas vieram trambiques, inclusive o da já antológica Merposa, de triste lembrança.
O último boom de IPOs por estas bandas ocorreu em 2007, com 63 ofertas públicas iniciais que geraram R$ 55 bilhões, boa parte desse dinheiro procedente de grandes fundos dos Estados Unidos. Infelizmente, a crise das hipotecas no mercado acionário americano (subprime crisis), que sobreveio em seguida, acabou com a festa. Lá e aqui.
Passados doze anos, poderemos ter uma repetição do festival de IPOs brasileiros. Uma das condições básicas é a Bolsa estar em alta, o que faz com que os papéis negociados fiquem caros, por não satisfazerem a demanda, e propiciem a entrada de novos títulos no mercado.
Por um lado, IPOs podem ser um negócio espetacular. Só como exemplo, entre os que enricaram recentemente os participantes nos mercados americano e internacional, estão as aberturas de capital do Mastercard (2006), do Google (2004) e do Facebook (2012), todas realizadas em Wall Street.
Aqui nas terras tupiniquins, vale lembrar os lançamentos do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e da locadora de automóveis Localiza, entre outros.
Já entre os fracassos, está a IPO da empresa petrolífera OGX, do empresário Eike Batista. A área a ser explorada, na bacia de Santos, simplesmente já tinha sido descartada, como comercialmente inviável, pela Petrobras. Mesmo assim, investidores desavisados entraram de cabeça, boa parte motivada pelo marketing de Eike. Aquela história de ser o homem mais rico do mundo e estacionar um Lamborghini no meio da sala de estar.
O livro Tudo ou Nada, da autora Malu Gaspar, uma biografia de Batista, relata exatamente como tudo aconteceu.
A possibilidade de ganhos em IPOs é enorme. Mas ou o investidor já está na estrada há muito tempo, e sempre sabe com que tipo de ativo está lidando, ou precisa de aconselhamento profissional para poder separar o joio do trigo. Não adianta perguntar ao gerente do banco, pois ele indicará o lançamento mais rentável (para o banco).
Nas IPOs de 2019, os especialistas da Inversa estarão do seu lado, indicando o que vale a pena comprar e o que não vale. Os prospectos de lançamento serão minuciosamente examinados, assim como os balanços da empresa que se propõe abrir o capital (to go public).
Na indústria de armamentos de alta performance, existem foguetes terra-ar, ar-ar e ar-terra. A maioria deles é da classe FF (Fire and Forget – Atire e Esqueça). O míssil irá seguir o alvo, por mais que este se mova, até acertá-lo.
Já no mercado financeiro há ações do tipo BF (Buy and Forget). Foi o que aconteceu com as ações da Disney nos Esfuziantes Anos Vinte (The Roaring Twenties).
Quem sabe isso não se repetirá, agora nestas bandas, em 2019. Sugiro que o caro amigo leitor fique atento às nossas indicações. Dedicaremos boa parte do ano ao estudo dessas IPOs (ou desses IPOs, se você assim prefere).
Quem sabe não há um Mickey Mouse em seu caminho.Gostou dessa newsletter? Então me escreva contando a sua opinião no mercadores@inversapub.com.
Um abraço,
Ivan Sant’Anna