Mercadores da Noite #66 - VAR ou não VAR

18 de junho de 2018
Pau que dá em Chico tem que dar em Francisco.

Mercadores da Noite

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Caro leitor,

Quando comecei a assistir futebol, ainda criança, não havia nem rádio portátil. Portanto a gente, nos estádios, não tinha nem um comentarista para dizer, ao pé do ouvido:

"O gol foi irregular. O center forward (era assim que nós chamávamos os centroavantes da época) empurrou a bola com a mão.”

Ou: “Heleno estava impedido, quando recebeu a bola.”

Geralmente a torcida beneficiada com o gol achava que a jogada tinha sido legal. Aos torcedores adversários, só restava gritar, em coro:

"Ladrão!, ladrão!, ladrão!”, com senhoras, senhoritas e crianças presentes nos estádios, ninguém tinha coragem de mandar o juiz tomar naquele lugar. Hoje elas participam do corinho, que foi rebaixado de obscenidade para falta de educação.

Os primeiros rádios portáteis surgiram no início dos anos 1950. Eram grandes, tinham válvulas que precisavam aquecer até que surgissem os primeiros sons. A gente apoiava os aparelhos no ombro, perto do ouvido.

Aqueles trambolhos eram caros, poucos tinham dinheiro para comprar. Ao redor desses felizardos, outros torcedores se espremiam acompanhando a narração da partida, mesmo estando todos presentes nas arquibancadas e nas gerais do campo de jogo.

Com aquela “modernidade” pós-guerra, havia alguém, um radialista profissional, supostamente neutro, para dizer se o lance duvidoso fora pênalti ou não. Mas mesmo esse alguém, por mais isento que fosse, dispunha de apenas uma fração de segundo para dissipar as dúvidas inerentes ao jogo.

Os rádios de pilha grandes e pesadões foram substituídos por transistores. Estes, a cada ano ficavam mais baratos. Agora quase todo mundo levava um para o estádio. Logo surgiram os primeiros comentaristas de arbitragem. Aqui no Rio de Janeiro, um deles era o Mário Vianna, ex-árbitro e ex-policial.
“Gooool legal!”, Mário Vianna dirimia as duvidas.

Os “sem-radinho” perguntavam aos torcedores próximos:

“O que é que o Mário Vianna disse?”

“Que o gol foi roubado. O ponta-esquerda empurrou o beque.”

A televisão surgiu no Brasil no início da década de 1950. Os aparelhos, em preto-e-branco, eram caríssimos. Quem possuía um, recebia um monte de visitas na hora de um jogo importante. Eles tinham até um nome: “televizinhos”.

Acontece que o videoteipe ainda não fora inventado. Então o problema continuava sendo o mesmo. Lances duvidosos permaneciam duvidosos até que as imagens em celulose dos cinejornais fossem reveladas e exibidas nas telas dos cinemas.

Com o advento do teipe, a vida dos juízes e bandeirinhas se complicou. No intervalo, a televisão exibia os lances controversos e a gente ficava sabendo se a arbitragem acertara ou não.

A nova técnica evoluiu e se transformou em replay. Segundos após um jogador se atirar no gramado, fingindo ter sofrido um pênalti, a TV mostrava a simulação.

Mesmo que, no intervalo do jogo, o juiz fosse informado por uma pessoa de sua confiança que errara na expulsão de determinado jogador, ele simplesmente não podia ir lá no vestiário do time punido e dizer para o atleta excluído injustamente:

“Desculpa, Jobernilson, eu errei. Pode vestir seu uniforme e voltar para o segundo tempo.”

Na segunda Copa do Mundo realizada no Brasil, a de 2014, a FIFA, que é mais lerda em modernidades do que o Vaticano, introduziu oGoal Control, dispositivo que assinala, por intermédio de diversas câmeras colocadas no gol, se a bola ultrapassou totalmente a linha branca ou não.

Se o Goal Control já existisse na Copa de 2010, a bola chutada pelo meio-campista Frank Lampard, da Inglaterra, na partida contra a Alemanha,  bola essa que quicou quase um metro além da linha do gol defendido por Neuer, quando o placar assinalava 2 a 1 contra os ingleses, poderia ter mudado totalmente a história da partida, ao final vencida pelos alemães por 4 a 1.

Na Copa seguinte, realizada no Brasil, ao apitar a partida França 3 x 0 Honduras, o juiz brasileiro Sandro Meira Ricci foi o primeiro árbitro a assinalar um gol graças ao Goal Control, o segundo da França. Um sinal eletrônico no relógio de pulso de Ricci informou que a bola havia entrado.

Vem então a Copa da Rússia e, com ela, a introdução do VAR (Vídeo Assistant Referee), tecnologia usada há anos no futebol americano, por intermédio da qual o juiz de campo é informado por árbitros assistentes localizados numa cabine com diversos monitores de tevê e dispositivos de replay se foi ou não pênalti, se determinado gol resultou de um impedimento, etc.

Na primeira interrupção do jogo, o árbitro de campo pode ir até um monitor e conferir se houve algo anormal. Se perceber que errou, volta atrás e corrige o erro.

No jogo França 2 x 1 Austrália, realizado anteontem, dia 16, na cidade de Kazan, quando o juiz uruguaio Andrés Cunha recorreu ao VAR para assinalar um pênalti a favor da França cometido pelo australiano Josh Risdon contra o francês Antoine Griezmann, o VAR demonstrou sua eficiência benéfica para o futebol.

Seis horas mais tarde, o jogo Dinamarca 1 x 0 Peru só não terminou empatado porque o jogador peruano Christian Cueva perdeu um pênalti marcado pelo árbitro Bakary Gassama, de Gâmbia, após consultar o monitor do VAR no nível do gramado.

Para o Brasil, empatar em 1 a 1 com a Suíça em seu jogo de estreia foi frustrante. Eu mesmo fiquei deprimido com o resultado. Mas foi bom. Lembra à equipe e ao técnico que não somos invencíveis.

Quando ganhamos nossa primeira Copa em 1958, empatamos com a Inglaterra no segundo jogo da fase de grupos: 0 a 0. Quatro anos mais tarde, quando vencemos a Copa de 1962, no Chile, ficamos nos mesmos 0 a 0 com a Tchecoslováquia. No tetra, em 1994, empatamos com a Suécia em 1 a 1.

O que me deixa p. da vida é que o juizinho mexicano Cesar Ramos não recorreu ao VAR duas vezes.

A primeira quando o suíço Zuber empurrou o zagueiro Miranda antes de empatar o jogo com uma cabeçada. Mesmo tendo o telão do estádio exibido e repetido o lance, Ramos recusou-se a usar o VAR.

O segundo lance aconteceu quando Gabriel Jesus foi agarrado dentro da área por um beque adversário.

As mais de 40 mil pessoas que estavam no estádio tiveram direito a ver o replay nos telões. Mas o senõr Ramos, senhor da verdade, não quis dar uma olhada em sua telinha exclusiva.

Pau que dá em Chico tem que dar em Francisco. Ou então mela tudo e voltemos para o radinho de pilha.

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Um abraço,

Ivan Sant'Anna

 

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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