Caro leitor,
Durante um evento da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, realizado na semana passada, o presidente do órgão, Eduardo Bolsonaro, defendeu a posse de armas nucleares para o país.
Evidente que Eduardo sabe que, para ter a posse, o Brasil terá de projetá-las e construí-las. Esses artefatos não se encontram à venda no mercado.
Como somos signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, não poderíamos fazê-lo, sob pena de sofrermos sanções econômicas gravíssimas por parte dos países ricos.
O deputado deve ter feito a afirmação para criar mais uma polêmica, como está sempre acontecendo com os filhos do capitão-presidente. Zero Um, Zero Dois, Zero Três... parece que estão numa disputa em família.
Antes de mais nada, o Brasil, se quisesse reiniciar (já começou uma vez, em segredo) a construção de uma bomba A ou H, teria de dispor de muito tempo e dinheiro, ativos que não temos no momento de crise do Tesouro.
Para ter sua bomba, com tecnologia soviética, Mao Tsé-Tung simplesmente fez o povo chinês passar fome.
Se o caro leitor quiser saber mais detalhes, sugiro a leitura de Mao: The Unknown Story, de Jon Halliday e Jung Chang, publicado em 2005 pela Globalflair Ltd. (a Companhia das Letras lançou a versão em português no ano seguinte).
Naquele caso, “passar fome” não é força de expressão de minha parte. Segundo os autores de Mao..., “com apenas 7% das terras cultiváveis do mundo e 22% da população mundial, na maior parte do país a terra era preciosa demais...”.
Em troca da tecnologia da bomba, a China entregou aos soviéticos grande quantidade de suas fontes de proteína: soja, óleo vegetal, ovos e carne de porco, além de outros produtos.
Para construir seu “arsenal” (entre aspas porque é ridículo, com tecnologia dos anos 1960) nuclear, a dinastia da Coreia do Norte, Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un, também reduziu a quantidade de calorias a ser ingerida pelo povo norte-coreano, em muitos casos para níveis abaixo do mínimo de subsistência, provocando a morte, por desnutrição, de dezenas de milhares de pessoas.
A intenção da Índia ao realizar seu primeiro teste nuclear, em 1974, era atemorizar o Paquistão. Conseguiu. Tanto é assim que os vizinhos muçulmanos do oeste se sacrificaram durante quase um quarto de século para detonar seu primeiro teste.
Justiça seja feita. Os paquistaneses nada mais fizeram do que agir em legitima defesa, ou montar um arsenal de dissuasão, que é a única serventia das bombas atômica e de hidrogênio.
Como o Brasil não precisa se defender de ninguém, muito menos impressionar o mundo (já impressionou negativamente o bastante), a bravata do deputado Eduardo é simplesmente isso. Uma bravata.
No início do ano, logo após a posse de Jair Bolsonaro, a maioria dos analistas (eu, entre eles) ficou otimista com relação ao mercado brasileiro de ações.
“Vai romper os 100 mil!”
“Vai a 150 mil!”
“Vai a 200 mil!”.
Três fundamentos ainda poderão impulsionar o Ibovespa em 2019: reforma da Previdência; governo, apesar de tudo, favorável à iniciativa privada; baixo nível de taxas de juros.
Só que a cada movimento de alta, se realmente ocorrerem, eles serão inibidos por integrantes da suposta base política do governo, cujas atitudes e declarações se entrechocam, dia sim, dia também.
Há cerca de uma semana, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cancelou um evento da ONU que seria realizado em Salvador no mês de agosto. Debochando do tema, que lhe caberia defender em função do cargo, não consultou o Itamaraty, a quem compete esse tipo de decisão.
Como se não bastasse, Salles desagradou o prefeito da capital baiana, ACM Neto, que acumula o cargo com a presidência do DEM, partido importantíssimo para a aprovação da reforma da Previdência.
ACM contava com uma semana de hotéis lotados e suas consequências na arrecadação da prefeitura.
Se o caro amigo leitor quer investir em Bolsa, tudo bem. Pode ser que ganhe dinheiro. Mas será uma grana suada. Suada, chorada, sofrida.
Ah, antes que eu me esqueça, escolha empresas com bom potencial (exportadoras, por exemplo) de lucro, e fique pronto a pular fora.
Com relação à esperança de um tremendo bull market de ações, desista. Cada 5 mil pontos serão um obstáculo difícil de ultrapassar.
Só não me assusto muito porque já testemunhei momentos bem piores nos 61 anos em que acompanho o mercado. Hiperinflação, moratória, crise cambial, quebradeira de bancos, golpes de estado, etc...
A diferença é que em todas as adversidades que acompanhei ao longo de todo esse tempo o mercado jamais foi assolado, seguida e sistematicamente, por fogo supostamente amigo como agora.
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Um abraço,
Ivan Sant’Anna