Mercadores da Noite #118 - Fogo amigo

20 de maio de 2019
Ivan escreve sobre as trapalhadas e atritos no núcleo do governo que derrubaram as chances de um bull market no Brasil.

Caro leitor,

Durante um evento da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, realizado na semana passada, o presidente do órgão, Eduardo Bolsonaro, defendeu a posse de armas nucleares para o país.

Evidente que Eduardo sabe que, para ter a posse, o Brasil terá de projetá-las e construí-las. Esses artefatos não se encontram à venda no mercado.

Como somos signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, não poderíamos fazê-lo, sob pena de sofrermos sanções econômicas gravíssimas por parte dos países ricos.

O deputado deve ter feito a afirmação para criar mais uma polêmica, como está sempre acontecendo com os filhos do capitão-presidente. Zero Um, Zero Dois, Zero Três... parece que estão numa disputa em família.

Antes de mais nada, o Brasil, se quisesse reiniciar (já começou uma vez, em segredo) a construção de uma bomba A ou H, teria de dispor de muito tempo e dinheiro, ativos que não temos no momento de crise do Tesouro.

Para ter sua bomba, com tecnologia soviética, Mao Tsé-Tung simplesmente fez o povo chinês passar fome.

Se o caro leitor quiser saber mais detalhes, sugiro a leitura de Mao: The Unknown Story, de Jon Halliday e Jung Chang, publicado em 2005 pela Globalflair Ltd. (a Companhia das Letras lançou a versão em português no ano seguinte).
   
Naquele caso, “passar fome” não é força de expressão de minha parte. Segundo os autores de Mao..., “com apenas 7% das terras cultiváveis do mundo e 22% da população mundial, na maior parte do país a terra era preciosa demais...”.
   
Em troca da tecnologia da bomba, a China entregou aos soviéticos grande quantidade de suas fontes de proteína: soja, óleo vegetal, ovos e carne de porco, além de outros produtos.

Para construir seu “arsenal” (entre aspas porque é ridículo, com tecnologia dos anos 1960) nuclear, a dinastia da Coreia do Norte, Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un, também reduziu a quantidade de calorias a ser ingerida pelo povo norte-coreano, em muitos casos para níveis abaixo do mínimo de subsistência, provocando a morte, por desnutrição, de dezenas de milhares de pessoas.

A intenção da Índia ao realizar seu primeiro teste nuclear, em 1974, era atemorizar o Paquistão. Conseguiu. Tanto é assim que os vizinhos muçulmanos do oeste se sacrificaram durante quase um quarto de século para detonar seu primeiro teste.
 
Justiça seja feita. Os paquistaneses nada mais fizeram do que agir em legitima defesa, ou montar um arsenal de dissuasão, que é a única serventia das bombas atômica e de hidrogênio.
 
Como o Brasil não precisa se defender de ninguém, muito menos impressionar o mundo (já impressionou negativamente o bastante), a bravata do deputado Eduardo é simplesmente isso. Uma bravata.

No início do ano, logo após a posse de Jair Bolsonaro, a maioria dos analistas (eu, entre eles) ficou otimista com relação ao mercado brasileiro de ações.

“Vai romper os 100 mil!”

“Vai a 150 mil!”

“Vai a 200 mil!”.

Três fundamentos ainda poderão impulsionar o Ibovespa em 2019: reforma da Previdência; governo, apesar de tudo, favorável à iniciativa privada; baixo nível de taxas de juros.
 
Só que a cada movimento de alta, se realmente ocorrerem, eles serão inibidos por integrantes da suposta base política do governo, cujas atitudes e declarações se entrechocam, dia sim, dia também.

Há cerca de uma semana, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cancelou um evento da ONU que seria realizado em Salvador no mês de agosto. Debochando do tema, que lhe caberia defender em função do cargo, não consultou o Itamaraty, a quem compete esse tipo de decisão.
 
Como se não bastasse, Salles desagradou o prefeito da capital baiana, ACM Neto, que acumula o cargo com a presidência do DEM, partido importantíssimo para a aprovação da reforma da Previdência.

ACM contava com uma semana de hotéis lotados e suas consequências na arrecadação da prefeitura.

Se o caro amigo leitor quer investir em Bolsa, tudo bem. Pode ser que ganhe dinheiro. Mas será uma grana suada. Suada, chorada, sofrida. 
 
Ah, antes que eu me esqueça, escolha empresas com bom potencial (exportadoras, por exemplo) de lucro, e fique pronto a pular fora.

Com relação à esperança de um tremendo bull market de ações, desista. Cada 5 mil pontos serão um obstáculo difícil de ultrapassar.

Só não me assusto muito porque já testemunhei momentos bem piores nos 61 anos em que acompanho o mercado. Hiperinflação, moratória, crise cambial, quebradeira de bancos, golpes de estado, etc...
 
A diferença é que em todas as adversidades que acompanhei ao longo de todo esse tempo o mercado jamais foi assolado, seguida e sistematicamente, por fogo supostamente amigo como agora.

O novo especialista de investimentos da Inversa, Leonardo Pontes, pede 5 minutos do seu tempo para conhecer você melhor. É só responder a esta pesquisa rápida. Em breve você vai saber o que a Inversa está preparando para ajudar você neste momento mais difícil do mercado brasileiro. Clique aqui para abrir a pesquisa.

Gostou dessa newsletter? Então me escreva contando a sua opinião no mercadores@inversapub.com

Um abraço,

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240