Investigador Financeiro #9 - Marx e Newton não sabiam investir

21 de março de 2018
O mercado é mais inteligente

Olá.

Outro dia eu estava lendo o livro “A Lógica do Dinheiro”, do Niall Ferguson, e descobri, em uma curiosa passagem da obra, um improvável investidor de Bolsa.      

De acordo com o livro, Karl Marx, sim “o Karl Marx”, foi acionista de um pequeno jornal e, em 1864, teria especulado com outros ativos na Bolsa inglesa e também com fundos dos Estados Unidos, chegando a ganhar 400 libras (cerca de 47 mil libras, ou aproximadamente 215 mil reais, em valores atuais).

Como especulador, Marx pode ter acertado algumas tacadas de sorte e ficado confiante demais, como todo iniciante que tem sucessos no começo e, logo, se acha um gênio das finanças. 

Digo isso porque é notório que o pensador recebeu durante muito tempo ajuda do camarada Engels e morreu na pobreza, o que mostra que a sua sorte deve ter acabado rapidamente e ele desistiu de apostar na Bolsa.    

Dizem também que Marx era constantemente criticado pela família: “Se você está sempre escrevendo sobre o capital, por que não ganha algum?”.   

Se são fatos ou boatos, é difícil dizer. Porém, a história é cheia de homens muito inteligentes que entraram na Bolsa e acabaram se dando mal.    

O meu caso favorito é o de Isaac Newton, provavelmente um dos seres humanos mais inteligentes a pisar na Terra. Entre as diversas proezas, em 1696 foi nomeado diretor da Casa da Moeda da Inglaterra.

Mas isso não impediu Newton de embarcar em uma das maiores bolhas da história, em 1720. Ele comprou ações da South Sea Company, uma empresa que mantinha o monopólio do transporte marítimo britânico com a América espanhola. No ano, as ações se valorizaram de 128 libras, em janeiro, para 1.000 libras em agosto.  

Inicialmente, Newton comprou os papéis e obteve 100 por cento de retorno antes de vender os ativos. Mas as ações continuaram subindo e ele não resistiu: voltou a comprar, acreditando que elas seguiriam em alta.

O que o gênio não sabia era que os preços dos ativos da companhia haviam se tornado alvo de pura especulação, inclusive com a ajuda de políticos corruptos do alto escalão do governo britânico para sustentar a bolha...

Mas o medo de ficar de fora, o FOMO (Fear of missing out, na sigla em inglês), pegou Newton de jeito. Em setembro, os papéis da companhia, como em toda a bolha, viraram pó, para desespero do gênio, que teria perdido 20 mil libras – o equivalente a mais de 2 milhões de libras atualmente!

E até Warren Buffett tem os seus esqueletos no armário...

O maior investidor de todos os tempos se enrolou com o banco de investimento Salomon Brothers, no começo da década de 1990.

Buffett havia investido 700 milhões de dólares, mas não percebeu que a empresa estava submetendo falsas ofertas em leilões do Tesouro dos EUA. Inclusive teve que assumir o comando do banco e depor no Congresso americano para limpar a bagunça.

Por isso, investir é mais do que simplesmente ser muito inteligente, confiante ou ser bom de matemática. É um processo de erros e acertos, ter consciência de que você nunca terá todas as informações para tomar a decisão perfeita e, como no caso de Newton, não comprometer todo o seu patrimônio em uma única jogada. É preciso sobreviver para continuar no jogo...

Na verdade, ser muito inteligente e informado pode até atrapalhar.

O José Castro, responsável pelas séries Trading Journal e Infinity, me contou certa vez que, quando dava consultorias personalizadas, percebeu um fato interessante: investidores experientes, com acesso a muitas informações sobre economia e finanças, tinham piores desempenhos como investidores.

O excesso de informações os tornava muito confiantes e os fazia cometer mais erros em seus portfólios. Como somos humanos, as nossas emoções ficam no caminho e acabam se tornando as nossas maiores inimigas.

A Bolsa não é malvada ou está programada para fazer os investidores sempre perderem. Tem a sua própria lógica, e, para ganhar com ela, você precisa se colocar a favor da tendência, nunca contra ela.

Nós ficamos muito gananciosos ou nos sabotamos, fugindo da estratégia que estabelecemos para tentar ganhar um pouquinho a mais. Como William Shakespeare escreveu na peça Júlio César: “A culpa, meu caro Brutus, não está nas estrelas, mas em nós mesmos”.

Escreva para mim contando a sua opinião ou com perguntas sobre investimento no investigador@inversapub.com.

Um abraço,

André Zara

Conheça o responsável por esta edição:

Andre Zara

Especialista em Investimentos para Leigos

André Zara é autor da newsletter “Investigador Financeiro” e sócio da Inversa. Participa das publicações Investidor Completo e Crypto Evolution e, em sua carreira, já colaborou com publicações da Folha de São Paulo, d’O Estado de São Paulo, da editora Abril e do Sebrae-SP. É investidor, empreendedor, entusiasta do mercado de criptomoedas e de projetos de disseminação da cultura de investimentos no Brasil.

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