Global Investor #42: O FED está sem margem de segurança!

9 de março de 2022
Na edição de hoje, Marink Martins apresenta uma comparação entre o momento atual e aquele visto em 1998, quando a Rússia declarou calote e provocou a quebra do fundo americano LTCM.

Bem-vindo(a) a mais uma edição da Global Investor!

Devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, há uma consequência que pode afetar os mercados de forma negativa nesta semana: a possibilidade da Rússia entrar em default técnico!

Há um parâmetro, um ponto na história como uma certa referência. Em 1998, nos meses de agosto, setembro e outubro, os mercados sofreram consideravelmente com um calote russo. 

Na época, o calote russo resultou na quebra do fundo LTCM (Long-Term Capital Management), um fundo liderado por John Meriwether do grupo Salomon Brothers e também pelos famosos economistas associados à precificação das opções, Myroin Scholes e Robert C. Merton.

Eles estavam no LTCM, um fundo alavancado, provocando a possibilidade do FED tomar a decisão de cortar os juros  — mais elevada do que o atual momento —  mas também, de montarem um consórcio com bancos para absorver ativos do LTCM.

Os mercados caíram e sofreram, mas se recuperaram relativamente rápido. E, o ano de 1999 foi marcante para as ações americanas. 

Entretanto, agora, o momento é complemente diferente!

A razão do calote russo é advinda de uma tensão muito maior que envolve a possibilidade de uma guerra entre potências. Mas, do ponto de vista técnico, o Banco Central dos Estados Unidos, que em 1998 detinha uma certa segurança, hoje não tem nenhuma! Muito pelo contrário. 

O FED já está em uma situação de zero bound, isso é, a taxa de juros está entre 0 e 0.25 pontos basis, e não há um espaço para cortar taxas. O FED não pode levar a taxa para uma esfera negativa nos Estados Unidos, ao menos por agora.

O Banco central norte-americano vem avisando que deseja reduzir o total de ativos, promovendo um quantitative tightening, o oposto do quantitative easing. Esse é um aperto monetário que deve chegar ao mercado sob oposição ao afrouxamento monetário que esteve presente por muitos anos nos EUA. 

A dinâmica é completamente diferente.

Quando Jerome Powell, na semana passada, foi questionado pelos senadores Richard Shelby que indagou a seguinte questão: “Se necessário fosse, Powell seguiria o mesmo caminho de Paul Volcker?"

Paul Volcker foi o presidente do FED entre 1975 e 1979, ficou famoso em 1980 por elevar a taxa de juros nos Estados Unidos e conter a inflação. Na época, Volcker foi extremamente criticado e provocou duas recessões.

Mas, mesmo diante dos questionamentos, Powell não se abateu e respondeu que seguiria de fato o caminho de Volcker

Será que essa resposta irá se materializar?

E, em outro questionamento, Richard Shelby perguntou se Powell faria o que fosse necessário para conter a inflação. Quando alguém questiona “se fará o necessário” para aquele que acompanha o mercado internacional, logo, Mario Draghi (ex-presidente do Banco Central europeu) é lembrado quando disse que faria o que fosse necessário para salvar o euro. 

Será que Jerome Powell apresentará um comportamento como o de Mario Draghi, fazendo o que for necessário para conter a inflação?

É muito difícil acreditar em Powell, e simultaneamente, acreditar na instabilidade dos mercados!

Não há opção, é preciso escolher um ou o outro.   

Espero que tenha gostado da edição!

Um grande abraço, 
Marink Martins. 
 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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