Global Investor #41: Três possíveis erros de estimativas do mercado

2 de março de 2022
Há três tópicos que, certamente, estão entre os mais importantes do momento: dinâmica associada ao preço do petróleo; dinâmica da política monetária dos EUA; e o último faz relação com as repercussões de longo prazo concatenadas com o processo de reciclagem do dólar diante de um mundo que começa a flertar com um processo de desglobalização.

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O mercado de ações em particular, dos Estados Unidos, pode estar cometendo certos erros de estimativas no que diz respeito a três tendências.

O estrategista Dominic Wilson, da Goldman Sachs, diz que o mercado pode estar subestimando a capacidade ociosa da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Agora, Joe Biden está realizando o seu discurso com base em diversos elogios referentes ao desempenho de seu governo. Entretanto, simultaneamente, o preço do petróleo está disparando, sendo que o preço do petróleo (do tipo Brent) superou 111,00 dólares na madrugada desta terça-feira. 

Também foi possível constatar que o preço do barril de petróleo subiu e houve um spread entre o tipo Brent e o tipo WTI. E, quando esse spread fechou, o resultado foi: o WTI subiu consideravelmente mais do que o Brent na última terça-feira


Hoje, quarta-feira, aconteceu a reunião da OPEP, um evento muito importante!

Dominic Wilson analisa que o mercado está olhando para essa situação, imaginando, talvez, que a venda de excedentes da reserva estratégica dos Estados Unidos e de outros países possam compensar qualquer demanda adicional. 

Quando o assunto é realizar ofertas de petróleo, como já feito no passado, o otimismo pode se sobressair e prevalecer com o retorno do Irã.

Mas, talvez o mercado esteja ignorando que toda essa capacidade ociosa seja bem menor e que a demanda seja crescente. 

Nos próximos meses, caso a China volte a abrir a sua economia e permita que os chineses realizem viagens internacionais, certamente, isso pode contribuir para uma maior pressão no preço do petróleo, chegando até 125 dólares (e 180 dólares no preço do barril).

Obviamente, todo esse cenário impulsiona o preço do gás natural, fazendo com que a situação, em termos de inflação, seja ainda mais desafiadora.

Tudo isso acarreta o segundo possível erro do mercado, também muito evidenciado por Wilson. Neste caso, o estrategista relata que os mercados (novamente, em particular os de ações nos Estados Unidos), talvez, estejam superestimando o impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia no que diz respeito a capacidade do Fed de promover o devido aperto monetário, a famosa normalização das taxas de juros.

O questionamento é: será que o Fed vai aumentar a taxa de juros sete vezes ao longo deste ano de 2022?

Será que realmente o banco central norte-americano vai realizar esses aumentos (sete aumentos de 0.25 basis points ou 0.25%)? O Bank of America diz que sim!

Entretanto, ao olhar para os preços das ações, a impressão que se tem é que, o mercado — que se mostrou muito preocupado na semana passada , agora, demonstra dúvidas sobre a concretização desses aumentos, “a guerra começou!”, “o Fed não vai ter forças para isso!”.

Nesse sentido, Dominic Wilson nos diz que o mercado está errando ao superestimar esse impacto.

Vale ressaltar que as guerras tendem a ser eventos inflacionários que não somente impactam as logísticas, mas fazem com que as pessoas comecem a acumular. Há um efeito perverso quando situações extremas acontecem.

E, o terceiro tema corresponde a um evento que ocorreu neste fim de semana quando a Rússia invadiu a Ucrânia e as primeiras sanções impostas pelos Estados Unidos e aliados foram interpretadas pelos mercados como brandas. Porém, no sábado, foi possível presenciar algo muito relevante que pode trazer consequências futuras.

Os Estados Unidos e aliados congelaram as reservas internacionais da Rússia e esse evento traz uma nova questão: “será que vale a pena ter e manter reservas internacionais em dólar?" 

Neste momento, esse questionamento pode estar sendo maturado pelo Oriente Médio, por países como a China e outros do continente asiático.

Manter essas reservas em dólares, se essas em qualquer momento podem ser congeladas, é algo certeiro e positivo?  

Todos esses aspectos podem afetar a demanda por dólares em um mundo que se mostra na direção de pautas aqui já exploradas (o processo de desglobalização e o de desdolarização que está em curso).

O que ocorreu no último sábado tende a intensificar o processo e gerar um efeito na famosa reciclagem de dólares! Dólares que fluem dos EUA para o Oriente Médio e retornam para os EUA fazendo, assim, com que todo esse fluxo permita que o país seja a potência que é.

Mas, certamente, devido a todos os atuais eventos, tais aspectos podem estar sendo abalados. 

Muitas dessas informações foram discutidas em um recente webinar, organizado pela Gavekal Dragonomics com o Elbridge Colby, um especialista em defesa que atuou no governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Essas informações, a partir de uma discussão, possuem o intuito de refletir a respeito dos impactos que essas variáveis podem ocasionar nos preços dos ativos acompanhados diariamente.

Espero que tenha gostado da edição!

Um grande abraço,
Marink Martins.

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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