Global Investor #39: Os 3Ds da inflação global

16 de fevereiro de 2022
A inflação tem um efeito nefasto no processo de desglobalização, na descarbonização e na desigualdade. E, justamente agora, a velha inflação mostra sua face em quase todos os cantos do planeta.

Bem-vindo(a) a mais uma edição da Global Investor!

 

Ontem, 15 de fevereiro, o dia em que o PPI (sigla em inglês), índice de inflação ao produtor nos Estados Unidos, foi divulgado atingiu 9,7%, um patamar extremamente alto. O nível de inflação ao consumidor também está alto, acima de 7%. 

Hoje, o mundo todo está preocupado com duas atuais questões: geopolítica afetando e focando a Ucrânia e envolvendo a invasão pela Rússia; e também a questão que rodeia o Fed sobre qual será a magnitude do aperto monetário a ser provocado pelo Banco Central norte-americano de modo a frear a inflação global. 

É curioso, pois, quando se trata de inflação, ninguém fala de "momentum".

"Momentum" somente é válido para as ações? Afinal, para a inflação, a mídia parece estar bem ancorada em processos de reversão à média. Esse é um questionamento necessário!

Há “3Ds” que estão afetando a inflação global!

O primeiro deles é o processo de desglobalização, que se iniciou no começo dos anos 90 e 2000, com a queda do muro de Berlim, o colapso da união Soviética e com o crescimento da China que entrou na organização mundial do comércio em 2001, aceitando ser a grande fábrica do mundo e produzindo muitas coisas baratas, mas fazendo o uso de uma energia extremamente poluente, o carvão. 

O carvão permitiu que a China fosse o país que poluísse o mundo, que fosse a fábrica do planeta e produzisse tudo mais barato, dessa forma, contribuindo para um processo desinflacionário. 

E agora, estamos começando a viver um processo de reversão!



A China está cada vez mais distante dos Estados Unidos, aproximando-se da Rússia. Diante disso, os EUA estão respondendo de uma forma muito agressiva no que diz respeito ao crescimento chinês.

Basta observar o que os Estados Unidos fizeram contra a empresa de telecomunicações chinesa Huawei, que sofreu uma queda de 30% em suas receitas porque não conseguiu acessar semicondutores suficientes para aumentar a sua produção. Isso ocorreu devido aos impostos norte-americanos. 

Sendo assim, esse processo de desglobalização (que pode estar no começo) tende a ser, justamente, o oposto do que a globalização foi. 

Se a globalização foi desinflacionária,  a desglobalização tende a ser inflacionária!

E o segundo “D”, talvez o mais importante, é o processo de descarbonização, um processo que está mais evidente em alguns determinados pontos do planeta. 

É possível observar processos ocorrendo na Califórnia que mostram uma inovação nesse sentido.

Na Europa, também vemos ocorrer de uma forma mais avançada o EU ETS (Regime Comunitário de Licenças de Emissão da União Europeia), um sistema de crédito de carbono mais revolucionário do que em outros lugares do mundo. 

Atualmente, a União Europeia já tem um compromisso escrito em lei de atingir um equilíbrio, um NetZero (neutralidade de carbono) até 2050. Há também, um compromisso de reduzir suas emissões de carbono em até 55% até o ano de 2030, com isso, o crédito de carbono esteve negociando a um custo considerado baixo ao longo dos últimos 10 anos.

Dentre elas, isso se deve ao fato de que, após a grande crise financeira de 2008, essas emissões caíram consideravelmente, logo, houve um certo excesso de créditos transferidos para os produtores emissores de gases poluentes na Europa.

Mas, agora, todo esse cenário está mudando, o custo do crédito de carbono está subindo  significativamente e tende a ser inflacionário, afinal, os produtores terão que comprar esses créditos para fazer uma compensação, um off-set no que diz respeito a essas emissões. 

Todas essas questões chegam ao consumidor final através de preços mais elevados!

O terceiro “D” levanta a questão da desigualdade

O Jeffrey Currie, estrategista da área de commodities na Goldman Sachs, ressalta sempre que a inflação é um fenômeno associado às rendas mais baixas. Com a enorme desigualdade que vemos, em escala global, não resta à sociedade realizar medidas para combater esse problema. 

Nos Estados Unidos essa desigualdade cresceu muito e é um fruto de uma política monetária controversa.

Se as medidas para combater a desigualdade entrarem em vigor, aumentando o poder aquisitivo da camada menos favorecida na sociedade, logo, haverá mais uma pressão inflacionária.  

Essa não é uma afirmação de que a inflação nos Estados Unidos deva subir do atual patamar, em tese, ela deve cair. Entretanto, é provável que essa inflação se acomode em um nível mais elevado.

Com isso, as taxas de juros poderão ficar mais elevadas e, consequentemente, os múltiplos de preço-lucro (P/L) das empresas listadas nas Bolsas tendem a cair.

Nos Estados Unidos não seria uma surpresa caso o P/L caminhe em direção ao patamar de 15 a 16 vezes o lucro projetado, como foi a média por muitos anos. Já aqui no Brasil, a estimativa é de 12 a 13 vezes o lucro projetado. 

Espero que tenha gostado da edição!

 

Um grande abraço, 
Marink Martins. 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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