Cesta & Fundos #30 - IPO da XP! Essa é a questão...

6 de dezembro de 2019
Leia aqui o que o Luiz Cesta acha da oferta pública mais comentada do mercado. E a razão de ela não estar acontecendo na Bolsa brasileira

Sunday Notes

Olá, leitor (a)!

Antes de começar essa newsletter, gostaria de agradecer pelos e-mails de apoio que recebi sobre o meu mau gosto para piadas citado na última edição.

Foi realmente muito bom saber que eu não sou o único com esse gosto duvidoso... Para quem não leu, deixo aqui o link.

Mas vamos ao que interessa: não se fala em outra coisa que o IPO da corretora XP. Seja pela emblemática trajetória de seu fundador, Guilherme Benchimol, quanto pelo belíssimo modelo de negócios que revolucionou a maneira como o pequeno investidor brasileiro aplica os seus recursos.

Em sua documentação para a abertura de capital, Benchimol anexou uma carta em que justifica o fato de ela acontecer em uma bolsa estrangeira (Nasdaq), ao invés da Bolsa brasileira (B3), com uma série de argumentos.

Entre esses argumentos estão: (i) Nasdaq é a bolsa em que as empresas líderes de tecnologia estão listadas; (ii) capacidade de implementar uma estrutura acionária com “super-ações”; (iii) necessidade de seguir padrões mais rígidos de governança e transparência que se traduzem em maior segurança aos investidores.

Da mesma maneira que esses fatores são válidos na argumentação pela listagem na Nasdaq, eu poderia citar vários outros argumentos para que isso fosse feito na B3 - ou até mesmo uma dupla listagem.

Mas o que está em jogo, como sempre no mercado financeiro, é o dinheiro.

Para maximizar o valor do que está sendo vendido, os acionistas buscam se listar em bolsas em que eventuais “comparáveis” estejam negociando com altos múltiplos. Isso ajuda a ser precificado no maior valor possível.

Entendo que essa é uma meia verdade, pois não há tantos bobos no mercado. Não imagino que investidores profissionais tratariam tal operação de forma tão simplória quanto um simples desconto ou prêmio de múltiplos sobre companhias supostamente comparáveis.

Lanço aqui uma outra hipótese para que essa listagem tenha ocorrido lá fora e não na B3.

XP e B3 se viram envolvidas, recentemente, em um imbróglio sobre um serviço prestado pela corretora chamado de Client-Facilitation.

Caso você queira entender mais detalhes sobre esse serviço, deixo aqui um link da B3 com os argumentos da condenação da XP. O fato é que, em agosto deste ano, a B3 multou a XP em R$ 10 milhões.

A B3 até implementou posteriormente um serviço padronizado chamado de RLP (Retail Liquidity Provider) que era basicamente o mesmo serviço prestado pela XP e disponibilizou para todas as corretoras - inclusive a XP o utiliza atualmente.

Apesar das pequenas cifras (R$ 10 milhões), se comparado ao valor de mercado estimado para a companhia, as rusgas entre a corretora e a B3 podem ter sido iniciadas nesse momento. E, se já havia argumentos demais para listar a XP na Nasdaq, essa multa pode ter sido a gota d’água.

A XP veio a público informando que seus clientes obtiveram benefícios no valor total de R$ 18,5 milhões, contra apenas R$ 31 mil de ineficiências. Mas surgiram inúmeras matérias na imprensa argumentando que a XP havia prejudicado seus clientes.

Entendo a vontade de diversas pessoas, que operam com a XP, de investir na corretora. Mas devo ressaltar que comprar ações “na” XP é bem diferente de comprar ações “da” XP.

Enquanto não havia concorrência, a XP nadava de braçada nesse novo mercado. Com a entrada de novas plataformas e modelos de negócios, o ritmo de crescimento que hoje se precifica em seu IPO pode não continuar no futuro.

Eu torço para que tudo dê certo nessa operação, mas, para o bem do mercado de capitais brasileiro e do pequeno investidor, quanto mais competição e custo baixo, melhor.

Caso queira escrever para mim, comentando ou sugerindo um assunto para eu abordar na newsletter, utilize o email cestaefundos@inversa.com.br.

Um forte abraço e até mais!

Luiz Cesta

Conheça o responsável por esta edição:

Luiz Cesta

Especialista em Ações e Fundos de Investimento

Duas vezes premiado como melhor analista de ações do Brasil, em 2006 e 2009, Luiz Cesta é engenheiro eletricista formado pela Poli/USP (2002). Passou por grandes bancos e corretoras de valores ao longo dos últimos 15 anos e acumulou experiência nas mais diversas áreas do setor, como análise de crédito, mesa de operações, atendimento corporate e, principalmente, análise de ações, sua verdadeira paixão.

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