Cesta & Fundos #13 - A armadilha dos juros baixos

2 de agosto de 2019
Corte de juros deve direcionar fundos de investimento para a renda variável, mas é importante ter alguns cuidados

Sunday Notes

Caro leitor,

Hoje resolvi escrever sobre mudanças. Acho que é consenso que o mundo está mudando rápido demais.

Cinco anos atrás eu preferiria perder meu celular à minha carteira. Hoje não mais. Perco minha carteira, mas o celular não pode sair do meu bolso. Carrego tudo dentro dele.

Nem digo isso pensando no valor do aparelho, mas sim no meu apego às informações contidas nele.

E assim caminha a humanidade. Sempre se adaptando às mudanças no ecossistema em que vivemos.

Onde essas mudanças que eu chamo de estruturais podem se verificar no mundo dos fundos de investimento?

Algumas cartas mensais de gestores de fundos já estão sendo publicadas e noto uma certa ansiedade com o que deve ser um novo ciclo de queda das taxas de juros.

Taxas de juros essas que, em minha opinião, desceram sim seu patamar de forma estrutural.

Cito aqui como exemplo a carta mensal da gestora Dahlia Capital, que faz um trocadilho entre a série famosa “Game of Thrones” com o que seria o atual seriado preferido dos BCs mundiais “Game of Doves”.

No linguajar financeiro, um BC com comportamento dovish indica corte de juros.

Na quarta-feira, você sabe, o Fed derrubou as taxas de juros americanas em 0,25 ponto percentual e a Selic, aqui no Brasil, foi de 6,5% para 6% ao ano.

Esse movimento de queda funciona como uma catapulta de recursos em direção a ativos de risco. Ações, principalmente.

Entendo que esse movimento veio para ficar. Teremos que nos acostumar com isso e há impactos nos nossos investimentos.

O fluxo de investimentos em direção à Bolsa deve continuar subindo e várias empresas abrirão seu capital para acelerar projetos que visam ao crescimento.

Os fundos de investimento estão experimentando uma avalanche de entrada de capital.

De acordo com a Anbima, Junho deste ano foi o nono mês de entrada líquida de dinheiro em fundos de ações.

E não vejo no curto prazo uma alteração desse fenômeno, que promete perdurar.

Isso é logicamente positivo para a economia e ao mercado em geral, mas também pode criar algumas armadilhas que você precisa estar preparado a enfrentar quando falamos de fundos.

E aqui citarei três deles:

Cuidado com fundos que estão captando muito rápido. Uma mudança abrupta no nível de patrimônio do fundo pode dificultar a gestão das posições de risco da carteira, bem como adicionar situações em que o gestor ainda não estava preparado a enfrentar;

Só aumente o nível de risco de seus investimentos caso esteja preparado a incorrer em perdas. A busca desenfreada por rentabilidade pode se tornar uma dor de cabeça no futuro;

A volatilidade, um indicador de risco, do Índice Bovespa está em níveis muito baixos para o padrão histórico. Isso aumenta a propensão à busca por ativos mais arriscados por parte dos gestores – ou melhor, compram ações. Essa eventual procura por risco pode fazer as ações subirem, mas com uma abrupta realização quando houver um ajuste altista da volatilidade.

Fique de olho e não caia nessa armadilha. Ou melhor, quando isso começar a acontecer, lembre-se desse texto e aproveite para realizar lucro antes que façam primeiro que você. Para mais detalhes sobre esse assunto e fundos sugeridos, conheça nossa série Fundos Expert que te guiará por esse mercado fascinante.

Até a próxima!

Luiz Cesta (@luizcesta)

Conheça o responsável por esta edição:

Luiz Cesta

Especialista em Ações e Fundos de Investimento

Duas vezes premiado como melhor analista de ações do Brasil, em 2006 e 2009, Luiz Cesta é engenheiro eletricista formado pela Poli/USP (2002). Passou por grandes bancos e corretoras de valores ao longo dos últimos 15 anos e acumulou experiência nas mais diversas áreas do setor, como análise de crédito, mesa de operações, atendimento corporate e, principalmente, análise de ações, sua verdadeira paixão.

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