O tema inflação já deixou de ser novidade há bastante tempo porque esse processo não só já nos afeta, como já começou a ser combatido pelo nosso Banco Central com os exatos 10 aumentos na taxa básica de juros feitos de março de 2021 para cá.
O que talvez não seja novidade, e que poucos se arriscam a falar, é que esse processo deve durar por mais tempo que o esperado e as notícias mais relevantes que vêm sendo divulgadas só corroboram para esse cenário. Confira nossa análise:
O novo ministro de Minas e Energia e o projeto de 100 dias
O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, tem o projeto para ampliar, em até 100 dias, o prazo entre reajustes dos combustíveis pela Petrobras. A ideia é dar mais previsibilidade ao consumidor que não sofreria tanto com a variação internacional do barril.
O grande problema é que uma medida como essa não só abre precedente para que esse prazo seja ainda mais ampliado, como também torna todo o sistema mais ineficiente. O longo histórico tanto brasileiro e quanto global no que se refere às tentativas de políticas de preços indica: congelar não é a solução.
Novo reajuste elétrico no Brasil
Devido a um represamento de tarifas do setor de energia que ocorreu ao longo de 2020 e 2021, por conta da Covid-19 e da crise hídrica, a Aneel autorizou aumentos entre 15% e 25%. Esse é mais um fator inflacionário que observamos aqui no Brasil. Tal aumento, inclusive, pode passar despercebido por grande parte da população, pois alguns locais que estavam em regime de bandeira vermelha estão regredindo para a bandeira verde.
Índia suspende exportação de trigo
A Índia, segunda maior produtora de trigo mundial, anunciou no sábado passado (14), a proibição da exportação de seu trigo. A medida adotada pelo governo busca conter a escalada de preços no mercado interno causado, parcialmente, pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e pela onda de calor que chegou ao país.
A ação deve causar ainda mais pressão nos preços dos alimentos mundiais, principalmente nas regiões que dependem do trigo indiano, como é o caso de países mais pobres da Ásia e da África. E os impactos, tanto humanitários quanto financeiros, são potencialmente grandes.
Preço manipulado da carne nos EUA
Nos Estados Unidos foi iniciada uma investigação para verificar uma possível manipulação de preços da carne bovina. O objetivo é, supostamente, elevar os preços do produto para o consumidor. Entre as empresas investigadas estão a Cargill, a Tyson Foods, a National Beef e a brasileira JBS. No entanto, muitos argumentam que essa seja uma forma de tentar responsabilizar as empresas pelos aumentos que são globais. Vale acompanhar tal investigação.
Liberação de verbas para o “combate à inflação”
O governo neozelandês anunciou que irá disponibilizar um fundo extra para lidar com a alta inflação no país, a maior em 32 anos. O valor total do fundo, que deverá ser distribuído para pouco mais de 2 milhões de pessoas de baixa renda, não foi divulgado oficialmente. Isso faz parte de um pacote de medidas anunciado pelo governo para ajudar a população a lidar com o que foi chamado por ele de “o auge da tempestade de inflação mundial”.
China ensaia reabertura
As expectativas dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos eram de que o pico da inflação acontecesse em abril, no entanto, a China está iniciando o processo de reabertura de sua economia após um novo período de lockdown que durou por todo o mês de abril.
Esse fator, sozinho, já deve aumentar a demanda do país asiático por uma série de produtos, principalmente os materiais básicos que servem a sua indústria, a maior do mundo. Ao mesmo tempo, o mundo pode começar a sentir falta dos produtos industrializados produzidos por eles e que estavam paralisados por conta do lockdown. Essa é mais uma razão que nos leva a esperar por um novo período de pressão inflacionária em nível global. Como comentamos no título, o lockdown de ontem é a inflação de amanhã.
João Abdouni e Nícolas Merola, analistas CNPI
Nota do editor: ter uma estratégia multimercados é importante para diversificar sua carteira — e buscar maiores lucros. Sócio e estrategista-chefe na Inv, Rodrigo Natali é especialista em macroeconomia doméstica e internacional. No programa Você Gestor, ele simula uma carteira em tempo real, tendo o suporte de Nícolas Merola, analista CNPI, para sugestões de investimentos. Clique aqui e saiba mais sobre o programa Você Gestor.