Petro vende Braskem. Entenda.
Por João Abdouni, CNPI e Pietro Tortoreli
A Petrobras anunciou em fato relevante nesta quinta-feira, 16, a aprovação do modelo de venda de até 100% das ações preferenciais que detém da Braskem por meio de uma oferta pública secundária de ações (follow-on). A venda está em linha com a estratégia da companhia de melhoria na alocação de seu capital, o que pode ajudar na distribuição de dividendos prevista pela companhia para os próximos anos.
A Petrobras vem reduzindo o endividamento e aumentando a geração de caixa, permitindo que a empresa alterasse seu plano de dividendos ao estabelecer um patamar alvo para sua dívida bruta em US$ 65 bilhões, o que foi atingido no terceiro trimestre deste ano.
Com isso, a empresa passa a pagar em dividendos 60% do seu fluxo de caixa operacional. Esse plano de dividendos prevê pagamentos trimestrais sem excluir a possibilidade de pagamentos extraordinários, independentemente de seu endividamento, caso a companhia decida.
A empresa distribuiu em 15 de dezembro de 2021 um total de R$ 3,09 por ação ou 11,4% de renda em dividendos. Quem se posicionou antes dessa data, como nós na série Ações Alpha, recebeu essa quantia em sua conta corretora.
Portanto, a empresa no ano fiscal corrente distribuiu R$ 63 bilhões ao seu acionista, o que corresponde a uma renda em dividendos de 18% ao ano nos valores de hoje, sendo que esses montantes têm tudo para continuar sendo sustentáveis.
Vale lembrar que a Petrobras possui participação de 21,96% das ações preferenciais da Braskem, o que a valor de mercado hoje corresponde a 4,2 bilhões de reais, quantia que deve compor parte da estratégia de distribuição de dividendos da companhia. O motivo principal da operação é a estratégia de melhor alocação de capital da Petrobras. Recentemente, a empresa vem realizando vendas de seus ativos menos rentáveis, como distribuição e termelétricas. Assim, a instituição é capaz de focar em seus negócios que geram maior retorno sobre o capital investido, como as atividades de E&P em águas profundas, uma de suas principais vantagens competitivas.
O maior risco da Petrobras continua sendo justamente o risco de governança e interferência relacionado à sua política de preços, além de possíveis ineficiências e falta de compromisso com o capital investido e práticas de corrupção, como ocorreu no passado recente. Isso foi alterado na nova Lei das Estatais em 2016, dessa forma, as alterações na política de preços que afetem os interesses dos investidores podem resultar em processos e até mesmo prisão de executivos, segundo a nova legislação. Isso reduziu muito o risco de intervenção na empresa na prática.
Valor justo
Nosso modelo de valor é baseado no de Gordon em que consideramos um dividendo para o próximo ano de R$ 5,00 por ação com atual valor de R$ 29,70. O retorno implícito para as ações da Petrobras (PETR4) é de 19% ao ano. Ou seja, caso a política de dividendos proposta seja efetivamente cumprida, em nossa opinião, o retorno esperado na Petrobras é bastante acima da média e por essa razão optamos por alocar um percentual da petroleira em nosso portfólio.
Conclusão
O importante é sempre lembrar ao investidor, como dissemos em nosso relatório especial de terça-feira, que diferente das compras, as vendas de participação não significam necessariamente que as ações estão caras, uma vez que a empresa que está vendendo as ações pode ter diversos motivos estratégicos para realizar essa captação de capital junto ao mercado e a venda das ações da Braskem pela Petrobras pode ser um grande exemplo disso.
João Abdouni, CNPI e Pietro Tortoreli.