Jackson Hole: A montanha pariu um rato
Por Rodrigo Natali
Hoje tivemos o tão aguardado comunicado e testemunho do presidente do banco central Americano, Jerome Powell, estrelando o, novamente virtual, simpósio de Jackson Hole.
Esse evento, que tinha o potencial para ser utilizado pelo FED como veículo para sinalizar de forma clara como seria a ansiada agenda de redução de estímulos monetários - mais especificamente, as compras de ativos a mercado pelo BC americano no montante atual de 120 bilhões de dólares por mês - foi, outra vez, palco de um protagonista vago e pouco comprometido com qualquer postura mais clara.
Essa postura já foi vista na última reunião do FOMC, o Comitê de Política Monetária do FED (equivalente ao nosso COPOM), quando o chairman também foi extremamente vago, mostrando que aprendeu a lição com a reunião anterior, quando foi mais assertivo e acabou assustando os mercados, que amargaram quedas até outros membros do organismo virem a público para acalmar os ânimos.
Na minha opinião, o plano de Powell é claro, uma vez que ele é candidato a ser reconduzido para a vaga que atualmente ocupa, ele procura mostrar que tudo o que fez até agora foi correto, que conseguiu salvar a economia, que a inflação é transitória, que o emprego nunca cresceu tanto na história, mas que é importante manter o ritmo recorde atual de estímulos pois a variante Delta pode ser um problema e que o nível de emprego ainda não está no ponto ideal.
Ao fim, disse que as reduções - o taper - devem mesmo acontecer até o final do ano, o que deixa uma das duas próximas reuniões do FOMC, em setembro ou novembro, como únicas possibilidades para esse anúncio.
Ao deixar tudo para frente, mas com o futuro mais próximo do que nunca, ele tirou a volatilidade dos preços por um tempo, mas em troca, vai colocar volatilidade em todas as próximas divulgações de números importantes, principalmente na divulgação dos dados de emprego. Além disso, uma melhora dos dados da pandemia também deve colocar mais pressão no banco central americano.
No final das contas, uma escolha foi feita: a de postergar a decisão, o que é bom no curto prazo, mas que acabou tornando o futuro mais complicado e incerto.