A Inflação se alastra mundo afora
Por Rodrigo Natali
A inflação nos Estados Unidos hoje gira na marca de 5% e já se espalha para a Europa. Os motivos para esse número elevado têm raízes em fenômenos mais passageiros, como os que enxergamos no Brasil: a alta dos preços das commodities e a falta de alguns insumos e componentes essenciais para a produção de diversas indústrias. Ocorre que, diferente daqui, já observamos uma pressão vinda de salários, que é muito mais duradoura.
Durante o ano de 2020, tivemos uma inflação global ao consumidor de 1,2%, abaixo da média do atual ciclo expansionista começado em 2008, de 2,2%, por causa da pandemia. No entanto, graças à postura extremamente agressiva dos Bancos Centrais, essa média deve ficar em 3% em 2021, mesmo com a maior parte das pressões tendo começado a se manifestar de forma mais agressiva no segundo semestre do ano.
Por mais que parte dessa alta fosse até desejada por alguns Bancos Centrais, como o do Japão, que por anos sofreu a ameaça da deflação, esses patamares mais elevados, ela começa a se tornar um problema que escapa do domínio da política monetária e começa a entrar no campo político.
Um exemplo é o caso do presidente americano, Joe Biden, que mesmo tendo liderado uma recuperação econômica que já beira o pleno emprego, tem sofrido quedas sensíveis em seus índices de aprovação e popularidade. Por mais que o banco central americano, o Fed, seja independente, ele não é totalmente imune a ruídos políticos e em algum momento isso pode se tornar uma variável que pode afetar sua decisão.
Com esse fenômeno sendo repassado para salários e se espalhando pelo mundo, como temos visto, o diagnóstico atual de que a maior parte das pressões altistas são passageiras acaba perdendo força, dando margem a críticas à postura de juros negativos a compra de ativos por parte dos governos e jogando um holofote e mais risco nas próximas decisões das autoridades monetárias.
Resumindo, com a alta da inflação, uma bandeira amarela foi levantada no mercado internacional, colocando em risco a manutenção do ciclo de expansão monetária turbinado por juros negativos que tem sido a norma desde o início da pandemia. Com isso temos a entrada de mais uma variável de volatilidade nos já ruidosos mercados.