Compro um voto. Pago em dinheiro.
Por Ivan Sant´Anna
Nas eleições gerais de 1950, eu era um menino de 10 anos e morava com meus avós paternos na cidade de Catalão, no Sudeste de Goiás.
Pois bem, naquele ano houve eleições gerais, desde presidente da República até deputado estadual. Havia um hábito curioso (para não usar um adjetivo mais contundente): compra de votos.
Os candidatos a deputado entregavam aos eleitores notas de 500 mil réis rasgadas ao meio. Cada parte ficava com uma metade. Se o político fosse eleito, entregava a outra metade, que bastava ser colada à primeira.
Ao longo dos tempos, esse hábito foi caindo de moda (talvez por causa do custo) nos rincões do Brasil. Mas surgiram outros meios de aquisição de votos.
Um deles era a distribuição de dentaduras aos eleitores. Chegava o boticário com uma caixa, testava diversos exemplares e um deles acabava encaixando. Outro método era o custeio de enterros de parentes dos eleitores.
A legislação eleitoral se aperfeiçoou e todos esses meios de compra de votos, quando provados, acabavam na impugnação do eleito que tivesse cometido o crime.
Agora a coisa está se tornando legítima.
O governo está cogitando a melhor forma de pagar o Auxílio Brasil, ou Auxílio Emergencial (o nome não importa), no valor de R$ 400,00 até 31 de dezembro de 2022.
Desnecessário dizer por que foi escolhido justamente esse prazo. Seria menoscabar da inteligência do leitor.
Claro que o benefício será corroído pela inflação. Mesmo assim o beneficiário irá retirar seu dinheirinho em um caixa eletrônico. Melhor 400 reais valendo 300 do que nada.
Mesmo que a atual gestão não seja reeleita, uma bomba relógio estará armada para seu sucessor, que terá de conciliar esse auxílio com um programa de austeridade para debelar o inevitável surto inflacionário.
Com tal cenário, tudo indica que a Bolsa continuará caindo e o dólar, subindo, talvez alcançando máximas históricas. Só que, nesse caso, teremos algumas ações precificadas quase de graça, se calculadas em dólar. E muitas delas são de empresas exportadoras.
Esse cenário político-fiscal melancólico poderá proporcionar oportunidades excepcionais na B3.
Resumindo: podemos ganhar com a compra de votos. E não estou falando de dentaduras, muito menos de caixões de defuntos.