Chuvas por decreto
Por Ivan Sant´Anna
Entre as diversas nações, a França é a que mais depende de energia nuclear, nada menos do que 71.7% do total. Como seria de se esperar, lá o preço das tarifas é calculado em função do custo de produção do quilowatt por parte dessas plantas.
Embora seja caro, é estável.
Pois bem, até o chamado “apagão” (na verdade, foi um racionamento e não um blackout) ocorrido durante o governo FHC, o Brasil dependia das hidroelétricas.
Como temos o maior volume de água doce do planeta (excluída a quase inacessível Antártica), energia elétrica (e seu custo de produção) não deveria se constituir em problema.
Acontece que as bacias hidrográficas, em sua maioria, ficam distantes dos centros consumidores.
Resumindo: não falta água, falta cano. Se retroagíssemos dois milênios na história, veríamos que o Império Romano lidou bem com esse problema, construindo aquedutos através do continente europeu.
Após o racionamento de 2001, o Brasil passou a construir termoelétricas, que são usadas quando baixa o nível dos reservatórios e, por conseguinte, a quantidade do combustível que move as turbinas.
Inteligentemente, adotamos um sistema de tarifas baseados em bandeiras: verde, amarela e vermelha, fixadas de acordo com o uso das termoelétricas.
Agora, o presidente se esqueceu que é Messias e não São Pedro e resolveu determinar data para passar da bandeira vermelha (que prevalece no momento) para a verde. Isso no mês que vem, sem passar por um estágio amarelo intermediário.
Conclusão: passamos do regime das chuvas para o do calendário eleitoral. Com um detalhe: de novembro de 2021 a outubro de 2022 se passarão onze meses, nos quais haverá uma nova temporada de estiagem.