Mind the Gap #16 - Por que o fascínio com o ouro?

10 de setembro de 2020
História do metal traz ensinamentos importantes sobre escassez e reserva de valor

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Nota do editor: agora, Marink Martins mostra a você como o ouro se transformou no metal de maior valor da Terra. Não deixe de conferir também as recomendações do Ivan Sant'Anna no especial Masters of Money (desconto quarentena, último dia).

 

Olá leitor(a),    

Na newsletter desta semana, procuro responder a seguinte pergunta: por que existe tamanho fascínio com o ouro? 

Começo minha dissertação com o grande investidor Warren Buffett. No passado, o oráculo de Omaha desdenhou do metal amarelo através da seguinte citação (adaptada por mim):

“A gente paga para extrair o ouro do subsolo no sul da África. Paga também para derretê-lo. Depois pagamos para transportá-lo para os Estados Unidos. Chegando lá, a gente paga para enterrá-lo novamente e, por fim, paga para alguém ficar lá vigiando. Em suma, não tem utilidade alguma”.

Outros mais céticos complementaram dizendo o seguinte sobre o ouro: 

“Você não pode morar nele, você não pode comer ele e, para piorar, como investimento não gera renda alguma”.

O grupo dos céticos, incluindo o próprio Warren Buffett, recentemente mudou de opinião (e não há nada de errado nisso). Na verdade, é uma virtude.

Evidenciando a mudança de direção, Warren Buffett fez investimento nas ações da mineradora Barrick Gold em agosto. 

O megainvestidor também comprou participações em cinco empresas japonesas (Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo, Itochu e Marubeni).  

Muitos analistas concluem com esse movimento que, aos poucos, o oráculo de Omaha vem diversificando sua carteira, se afastando um pouco de ativos dolarizados.

A razão técnica para a orientalização de Buffett é apresentada na primeira edição da Mind The Gap, “In Gold We Trust”, e também no quinto texto do nosso encontro semanal, intitulado “A Eutanásia do Rentista”

Nesta quinta-feira em particular quero tratar de uma forma mais “lúdica” e responder por qual motivo há tamanho fascínio com o ouro.

A natureza explica

Para isso, tomo emprestado o conteúdo de dois brilhantes jornalistas norte-americanos, David Kestenbaum e Jacob Goldstein, responsáveis por produzir o podcast fascinante Planet Money.

Em um dos episódios, Goldstein e Kestenbaum trazem a seguinte questão: por que o ouro, e não a platina, é considerado o metal mais precioso do mundo?

Para encontrar a resposta, os jornalistas foram conversar com Sanat Kumar, professor indiano de Engenharia Química da Universidade de Columbia.  

Chegando lá, ao se depararem com o professor, já viram que era a pessoa certa para o projeto, por ser muito descontraído e espirituoso.

Utilizando um óculos de armação cor-de-rosa, Sanat pegou a tabela periódica e explicou para os jornalistas por qual razão o ouro ocupava imensa posição especial ao longo de toda nossa história.

Professor Sanat Kumar da Universidade de Columbia explicando como ouro foi eleito o metal mais precioso da Terra


Lembrando que, por milhares de anos, o metal precioso é tratado como uma reserva de valor para inúmeras civilizações.

O professor de Columbia começa pelo lado direito da tabela periódica e lista os gases nobres - Hélio, Neônio, Argônio, entre outros - e dispara: não há como tratar um gás como dinheiro.

Do lado esquerdo da tabela, Sanat pega o Lítio, o Sódio e o Potássio para exemplificar porque não utilizamos estes elementos. 

O primeiro metal alcalino é altamente inflamável, o segundo é extremamente reativo. Por sua vez, o terceiro passa rapidamente por oxidação ao entrar em contato com o oxigênio do ar. 

Então, aos poucos, o professor de Columbia incrivelmente foi passando pela tabela periódica e eliminou muitos dos diversos 118 elementos existentes na natureza.

Também retirou a parte inferior da tabela, os elementos radioativos, e comentou: “você não quer carregar no bolso algo que vai te matar”.

Sanat fez uma observação muito pertinente durante o processo, ao dizer que, para o dinheiro existir, deve ser algo raro, mas não raríssimo.

Com este pensamento de escasso, mas não impossível de se encontrar na natureza, eliminou Titânio, Cobre, Ferro e Silício, elementos abundantes no planeta.

Na etapa final sobraram sete elementos. Agora, quais eram esses?

Escassez, praticidade e história

O septeto restante era formado por Ósmio, Irídio, Ródio, Paládio, Prata, Platina e Ouro.

Destes sete elementos, o professor eliminou os dois primeiros por serem raríssimos, oriundos de meteoros. 

Dos cinco restantes, Ródio, Paládio, Prata, Platina e Ouro, todos se apresentam como metais preciosos, com negociações nos mercados de commodities. 

A razão pela qual o ouro foi o metal escolhido foi a seguinte: Ródio e Paládio somente foram descobertos no século XIX, impossibilitando o uso para antigas civilizações. 

A prata já foi utilizada como dinheiro em alguns períodos, mas traz consigo problema químico, ao ser corroída ao longo do tempo.  

De resto, somente dois elementos permaneceram competindo pela posição especial, a Platina e o Ouro.

O metal amarelo foi eleito porque, para se ter a Platina, é necessário o uso de uma tecnologia mais avançada, não disponível às antigas civilizações. 

Para você derreter a Platina, a temperatura deve chegar a 1717°C – algo impraticável durante a Antiguidade. 

Finalizando em um processo de retorno nietzschiano, acredito que se viajássemos dentro de uma cápsula do tempo e rodássemos toda a história novamente, é provável que o Ouro fosse escolhido mais uma vez, sendo a nossa eterna reserva de valor. 

É por isso que o ouro desperta tamanho fascínio. 

Eu fico por aqui. 

Um abraço,

Marink Martins

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Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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