Olá, leitor(a),
Em minha época de adolescente, a semana de trabalho era de seis dias. Funcionários públicos, bancários, professores, industriários, estudantes, quase todas as classes exerciam suas atividades aos sábados, a maioria até o meio-dia. As empregadas domésticas só tinham folga nas tardes de domingo, após servirem o almoço dos patrões, retornando na manhã de segunda-feira.
Então surgiu o que veio a ser chamado de semana inglesa. A maioria das pessoas passou a trabalhar cinco dias em cada sete, regime que prevalece até hoje, com algumas exceções. Comerciários e empregados em bares e restaurantes, por exemplo, continuam folgando apenas uma vez por semana.
Minha filha é executiva de uma cadeia de supermercados da Inglaterra. Há alguns meses, a empresa na qual ela trabalha resolveu testar a semana de quatro dias úteis e três de folga.
A experiência deu tão certo (a produtividade e a produção – são coisas diferentes – subiram), que eles resolveram torná-la permanente.
Uma matéria divulgada pela BBC News esta semana revelou que mais de 70 empresas inglesas aderiram à novidade. Cem por cento de pagamento contra oitenta por cento de horas trabalhadas.
Eu tenho a mais profunda convicção de que isso é apenas o início de uma etapa no modo de viver das pessoas, etapa essa que se espalhará pelo mundo, sem retrocesso.
Acho até bem plausível que daqui a 50 ou 100 anos haverá outra mudança: quatro dias de folga contra três de trabalho, já que robôs responderão por boa parte da produção de bens e serviços.
Coisas como ônibus, aviões e trens não tripulados, assim como máquinas semeadoras e colheitadeiras no campo, dispensarão o uso de condutores.
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Entre o século 11 e a segunda metade do século 17, prevaleceu nas áreas rurais da Rússia czarista o regime de servidão, avanço muito pequeno em relação à escravidão propriamente dita.
Em troca de um minúsculo pedaço de terra, para plantar alguma coisa para o sustento da família, os servos trabalhavam de sol a sol sete dias por semana. Podiam ser chicoteados e até enforcados pelos senhores de terra, sem necessidade de explicar o motivo do castigo.
Na Inglaterra, no início do século XIX, os mineiros de carvão começavam seu turno de trabalho antes do nascer do sol e terminavam após o início da noite. Tiravam um dia de folga a cada dez. Moravam com a toda a família em casas de um só cômodo, das quais eram despejados quando perdiam o emprego.
Meninos de até quatro anos eram usados nos trabalhos das minas porque podiam rastejar através de túneis estreitos.
A expectativa de vida desses mineiros ingleses era de 32/33 anos.
Nos Estados Unidos, houve a primeira greve para redução da jornada de trabalho. Empregados em fazendas pleitearam passar de 12 para 10 horas.
Ao longo das décadas e dos séculos, as coisas foram melhorando até o estágio atual.
Só que, antes, um corte de carga horária era considerado perda para os patrões e ganho para os empregados. Até que se descobriu que não é nada disso. Todos ganham.
Se a jornada de 4 dias de trabalho se espalhar pelo mundo, haverá grande diminuição nos níveis de desemprego, já que nas fábricas, na construção civil, nas indústrias, no comércio e no setor de serviços haverá um aumento de turnos de empregados.
Os governos pagarão menos seguro desemprego.
Algumas indústrias, como a de turismo e lazer, serão extremamente beneficiadas por essa mudança. O mesmo ocorrerá com as companhias aéreas e de locação de carros.
Quem costuma pensar em investimentos a longo prazo, deve prestar bastante atenção ao que irá acontecer no Reino Unido nos próximos anos.
Se a revolução ora em curso na Terra do Rei der certo, ela logo se espalhará pelo mundo.
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!