Caro leitor,
Quinhentos e cinquenta dias! É esse o universo de tempo que, nos dias em que vivemos, as pessoas têm de avaliar ao tomar suas decisões de investimentos. Porque a partir de 1º de janeiro de 2019 haverá um novo presidente eleito diretamente, assim como uma nova Câmara dos Deputados e a renovação de dois terços das cadeiras do Senado. Será, portanto, um novo Brasil.
Será?
Nós já vimos tantas vezes mais do mesmo que não se pode ter fé em nada. Mas vamos limitar nossos prognósticos, ou palpites, ou adivinhações, ao próximo ano e meio.
Quando Temer assumiu a presidência, o mercado se entusiasmou com as escolhas de Henrique Meirelles para a Fazenda, Ilan Goldfajn para o Banco Central, Maria Silvia Bastos Marques para o BNDES e Pedro Parente para a Petrobras. E exultou quando o Planalto conseguiu aprovar, no Congresso, a PEC do Teto de Gastos, além de enviar para o Legislativo as reformas trabalhista e previdenciária.
É verdade que o palácio foi ocupado por uma turma com folhas corridas maiores do que seus respectivos curriculum vitae. “Isso é até bom”, deve ter dito algum banqueiro para outro. “Pra lidar com o baixo clero tem de ser um igual. Melhor, um primeiro entre iguais, que nem o Temer. Conhece a linguagem, conhece os métodos, a malandragem, os sofismas, os subterfúgios, conhece os atalhos, conhece os mensageiros... Você sabe o tipo de gente a qual (eu, banqueiro) me refiro.” Pois é, entrou o Temer e a Bolsa subiu, o dólar caiu, os juros encolheram e a inflação baixou.
“Nada como um vice”, deve ter pensado um trader, lembrando-se de Itamar e do Plano Real. “Aliás, devíamos até mudar a constituição. Vota-se no presidente e assume o vice da chapa, que é um cara que não promete nada durante a campanha. Fica encolhidinho feito um jaburu em dia de chuva. Prova disso é que a maioria das pessoas nem sabe quem era o vice do Aécio.”
Quem estudou o panorama político nos dias em que o teto dos gastos foi aprovado no Congresso e a reforma trabalhista passou fácil na Câmara dos Deputados deve ter decidido:
“Vou comprar o que posso e o que não posso. O Ibovespa vai fazer novos highs,o governo vai ficar enxuto (ou alguém não se lembra da promessa de Temer de cortar dez ministérios e distribuir as pastas restantes para ‘notáveis’?).”
Pena que esqueceram de combinar com os russos: Joesley e Wesley Batistovitch, Rodrigo Janotsky, Edson Fachinev, Serguei Morev, etc. Muito menos conseguiram calar a boca dos empresários (e não eram poucos) que estavam na cadeia, dormindo em tarimbas, descomendo no “boi” e jantando arroz, feijão, carne moída e macarrão às cinco da tarde.
Aquela gravação na calada da noite foi a gota d'água que fez o plano de Temer, de ser o estadista que mudou o Brasil, ir para o vinagre. Só lhe resta lutar pelos 550 dias, sofrendo um susto após o outro.
Realidade
Se o investidor está pensando que o Brasil vai se modernizar nesse período, esquece. A única e remota chance de Temer permanecer no cargo será cedendo a sindicalistas, cochichando no ouvido do baixo clero, conchavando com o PT, distribuindo cargos, enfim, “sarneyzando”. Enquanto isso, mais delatores delatarão, mais juízes julgarão, novas gravações aparecerão, assim como cartas, e-mails, telefonemas, etc. Porque até hoje só o ex-senador Delcídio Amaral adotou o método de conversar pelado na sauna.
Mas vamos supor que Michel Temer renuncie ou seja renunciado. Sempre há essa hipótese. Teremos uns vinte ou trinta dias de Rodrigo Maia, que presidirá eleições indiretas só pensando numa coisa: ele, quem diria, no Planalto até o final do ano que vem, escolhido por seus pares e enganando seus ímpares. Prometendo coisas e mais coisas, menos a que realmente interessa ao Brasil: enxugar a máquina governamental. E para se enxugar a máquina não se pode lubrificar o maquinista. Rodrigo sabe que só untando de graxa os colegas é que alguém se elege no Congresso.
Pode ser que seja outro o eleito para o mandato tampão do tampão. Gilmar Mendes, Nelson Jobim, FHC, etc. Diversos nomes são citados.
Tudo pode acontecer nos próximos 550 dias. Por isso é impossível estimar como os fatos se sucederão durante o período. Traders e analistas terão de avaliar o minuto-a-minuto para tomar suas decisões.
"De uma coisa o caro amigo leitor pode ter certeza. O cenário político-econômico do Brasil tem um teto e um chão."
O chão foi tocado durante o segundo mandato de Dilma quando a roubalheira, aliada à incompetência e a ideias anacrônicas, inviabilizaram o País. O impeachment foi apenas um detalhe, a maneira através da qual ela foi posta na rua.
Num horizonte visível, nós jamais seremos uma Venezuela. Para desgraçar seu país de tal maneira, Hugo Chávez primeiro obteve quase cem por cento das cadeiras do Parlamento. Pôde então escolher a Suprema Corte bolivariana (seja lá o que essa palavra significa) e transformar o Congresso num Reichstaghitleriano ou num presidium stalinista, ambos as casas simplesmente carimbadoras das decisões da Chancelaria (Alemanha) ou do Kremlin (União Soviética).
Felizmente, os exemplos acima não são o caso do Brasil. Maioria por coação é completamente distinta de maioria por compra de votos, seja por dinheiro, seja por cargos. Daí a certeza de que nós não seremos “venezuelados”, nem nos transformaremos numa ditadura partidária.
Em contrapartida, temos um teto. E é esse teto que sempre impede que o Brasil se torne uma nação desenvolvida. Toda vez que o orçamento, as reservas cambiais e a dívida interna dão uma folga, o governo gasta a sobra, ou até mesmo a perspectiva de sobra, com programas assistencialistas, com vantagens às castas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
É dentro dessa faixa que teremos de operar o mercado. Até que surja por estas bandas um Mustafa Kemal Atatürk, uma Margaret Thatcher, um Franklin Delano Roosevelt, um Bismark, um Garibaldi, enfim, um reformador. Um reformador reconhecido e estimado pelos eleitores.
E não há ninguém nem perto disso em nossas bandas.