Gritty Investor #80 - Como sobreviver na selva?

23 de outubro de 2020
Na newsletter de hoje, eu respondo: Qual percentual do patrimônio você sugere alocar em operações de risco? Qual a sua opinião sobre fundos e fundos multimercados?

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Oi. 

Na newsletter de hoje, vou responder a dúvidas recorrentes de outros leitores. Elas podem ajudar você a sobreviver no mercado financeiro. 
 

Qual percentual do patrimônio você sugere alocar em operações de risco? 

Acho que o conceito de operação de risco é um pouco amplo. Você deve estar se referindo a opções ou à porcentagem da carteira que pode perder, virar pó. 

Eu acho que 5% é um número grande para você considerar como constante. Eu não tenho esse tipo de “simplificação”, de dizer algo como “você tem que ter 5% da sua seleção em operações de risco”. Eu olho as opções como oportunidades. Posso, às vezes, ficar meses sem operar nada de opções pois não vejo nada importante.

Uso apenas em momentos em que acho que existe “opcionalidade” ou assimetrias e incertezas muito grandes. Foi o que fiz no período das eleições de 2018. 

Mas é muito difícil definir esse número por pessoa. Cada um deve ter um. Acho que 5% é quase um limite superior para você ter constantemente como capital de risco.

E volto para outro ponto que sempre cito: o que é 5%? É 5% de quando você comprou ou depois que comprou? Se você comprou 5% e duplicou, está com 10%. Tem que reduzir por que duplicou?

Eu sei que é uma maneira simples e fácil, mas não consigo ver as coisas dessa forma. 

Geralmente prefiro falar assim: existe uma operação e uma oportunidade que pode acontecer. Se acontecer, multiplico meu capital por “x”, faço aquela operação e espero acontecer.

Hoje, nem olho mais quanto isso representa do meu patrimônio.
 

Qual a sua opinião sobre fundos e fundos multimercados? 

A pergunta tem dois aspectos. O primeiro deles é você saber escolher o gestor e é muito difícil fazer uma escolha apenas pelo resultado. 

Às vezes, em períodos curtos de um ou dois anos, um gestor dá um resultado bom, mas depois esse resultado piora. Então é muito difícil saber se esse gestor é tão bom assim com base em períodos curtos. 

O outro tem a ver com aquela ideia de qual a quantidade correta de diversificação de ações que nós devemos ter? 

Voltemos para ações. Vamos imaginar que você tenha cinco fundos de ações e cada um deles tenha 10 ações. Assim, você teria no total 50 ações! Dessas 50, tirando as ações em comum, eles têm 30 nomes e pesos diferentes. 

Se você tem uma seleção com 30 ações, é muito difícil que essa seleção seja muito diferente do Ibovespa, porque existe uma diversificação muito grande. 

Se essa seleção não vai ser muito diferente do Ibovespa e você paga uma taxa de administração alta, é muito provável que você vá perder do Ibovespa. Neste caso, o Bova11 ou IBGX provavelmente vai bater essa seleção de fundos. 

Quanto à questão dos fundos multimercado, é uma questão mais delicada. Porque os fundos multimercados cobram taxas de administração e, eventualmente, performance, muito altas comparadas com os riscos que eles tomam, principalmente os fundos de multimercado de baixa volatilidade, que considero os piores produtos. 

Então, imagino o seguinte: um produto que é desenhado para produzir algo em torno de 120% do CDI vai gerar para o cliente um resultado efetivo de 20% do CDI. 20% de um CDI de 2% seria 0,4%. 

Se esse fundo cobra 1,5% ou 2% de administração, ele está ficando o resultado, sem tomar nenhum risco. E isso acontece nos anos bons. Porque nos anos em que dão errado, os clientes sacam e esses fundos desaparecem. Por isso, eu sou muito crítico com excesso de diversificação em fundos e principalmente, de um fundo de multimercado de baixa volatilidade.
 

De quanto em quanto tempo é interessante realizar alterações na seleção de ações?

O prazo para fazer as alterações muda. Não existe regra muito definitiva. Tem ações que troco depois de três ou seis meses e outras ações em que estou posicionado há 10 anos. 

Mas uma coisa que acho importante cada investidor saber é o seguinte: qual é a razão inicial pela qual você comprou a ação? Essa razão ainda está presente ou desapareceu? Se ela ainda estiver presente, você fica. Se ela desapareceu, você zera. 

Se você comprou Suzano porque está em um segmento que no longo prazo é bom, que, neste caso, seria a celulose de fibra curta para exportação, existe uma tese importante sobre isso. 

Agora, se você comprou Suzano em um call de proteção em um cenário “Brazuela”, que a gente tinha falado lá atrás, talvez tenha que trocar. Porque o cenário mudou. 

Acho que essa é a pergunta que você deve se fazer: “qual o motivo inicial para comprar a empresa? Esse motivo inicial continua presente ou mudou?

Acho que essa é uma regra geral que vale para sempre. 

Pondere se você comprou uma ação porque esperava um resultado que melhor, mas não está acontecendo, ou se comprou uma ação porque ela estava barata, mas subiu e não está mais barata ou, ainda, se comprou uma ação porque queria estar exposto ao dólar e agora não quer mais. 

Esse tipo de mudança cria o motivo para você trocar a seleção e não o tempo que esta ação está na sua carteira. 
 

Devo interpretar as sugestões do mercado pela análise técnica? 

Sim. O princípio do estudo técnico e do grafista é o seguinte: em mercados muito líquidos, a maioria das informações relevantes está expressa nos preços.

Se você olhar os preços, eles já refletem a maioria dessas informações o tempo todo. Elas são refletidas no preço antes mesmo de serem de conhecimento do grande público ou estarem na grande mídia.

Essa é a teoria por trás da análise técnica. A teoria diz que se você souber entender o comportamento, que é parecido e se repete ao longo do tempo, você consegue, mesmo sem saber a notícia, entender para que lado o mercado vai.

Eu sou um pouco cético, porque já vi o mercado ir para um lado e as coisas acontecerem exatamente de outra maneira. Mas outras vezes não, o mercado consistentemente vai para o lado certo e depois os fatos acabam confirmando aquilo que o mercado tem.

Então, o que eu procuro de saber?

Gosto de ir atrás de informações que sejam minhas, crio minha própria convicção e então descubro quais empresas ou quais segmentos eu gostaria de ter na minha seleção.

Só que essa é uma informação que muda muito pouco, ela tem um prazo de longa duração, porque o dia a dia da empresa muda muito pouco, as coisas mudam muito lentamente. E, então, dado o que eu quero comprar, eu uso a análise técnica para definir o momento certo de compra.

A combinação do estudo do fundamento para descobrir o que comprar, somada ao estudo técnico para descobrir o momento de compra, para mim, é a maneira que funciona melhor.

Um abraço,

Pedro Cerize

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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