Gritty Investor #7 - Um dia de fúria

23 de junho de 2017
Essa irritação – e frustração – pode se transformar em fúria.

Gritty Investor

Olá,
   
O Brasil sempre foi o país das oportunidades perdidas. Mas, recentemente, mudamos de patamar: estamos destruindo as oportunidades, usando qualquer material que sirva de combustível para incendiar as massas e movê-las de acordo com o interesse político. Nunca na história desse país tantos juízes foram capa de jornal.
    
Tem juiz herói e juiz do mal. Faltam palavras gregas para tantas operações da Polícia Federal. E 13 milhões de desempregados assistem ao Jornal Nacional tentando encontrar o verdadeiro culpado de tudo isso e quem é o dono do triplex no Guarujá.
    
Esta semana eu me cansei dessa novela. Sou o filho mais velho de sete irmãos e tinha dias em que a gente brigava muito em casa. Coisa boba, só para testar a paciência do outro. A coisa ia crescendo até que a minha mãe se irritava, saía distribuindo umas chineladas e cada um ia cuidar da sua vida. Acho que está faltando alguém para distribuir umas chineladas no Brasil. É isso que está me deixando irritado.

Como seres humanos, temos que aceitar que somos, na grande parte do tempo, seres irracionais. Tomamos decisões ruins e nem percebemos. Em vários aspectos isso não traz problemas, mas, quando se trata de dinheiro, devemos estar mais atentos à nossa tendência ao irracional. Mas antes de voltar a esse ponto, gostaria de lembrá-lo de uma coisa básica: por que eu escrevo esta carta e por que você a está lendo?
    
Eu escrevo para ajudá-lo a ganhar dinheiro nos seus investimentos.
   
Um professor uma vez disse uma coisa que me marcou: “Se você estiver em um trabalho, você deve necessariamente estar ganhando dinheiro ou aprendendo alguma coisa”. No momento em que você não ganha, nem aprende, mude de trabalho. Essa é a cobrança que faço a mim mesmo enquanto escrevo esta carta: dar uma ideia de como ganhar dinheiro ou ensinar alguma coisa que aprendi com outros investidores de sucesso.  

Os quatro estados

Dito isso, volto ao ponto de que somos irracionais em nossas decisões de investimento. Essa irracionalidade não é constante, mas tende a ser maior em momentos específicos de nossa vida ou do nosso cotidiano. Quando você se encontrar nesses estados psicológicos, NÃO FAÇA NADA.
   
Alegria: seu time foi campeão ou você foi promovido e recebe uma ligação do seu gerente. Ele acha que está na hora de você comprar fundos de ações que foram, de longe, a melhor “aplicação” nos últimos 12 meses. Ele diz que o seu perfil indica entre 20 e 70 por cento em ações para o “longo prazo”. Sua tendência é escolher a faixa mais alta e, eventualmente, arrepender-se depois.
   
Tristeza: situações de luto, doença ou crise de relacionamento geram um estado de pessimismo sobre o futuro. Se nesse momento você for confrontado com a decisão de resgatar uma aplicação financeira que não está indo bem, lembre-se que você está olhando o mundo com lentes escuras e, portanto, possivelmente não esta vendo as cores como elas realmente são.
    
Fadiga: o controle emocional é uma atividade que demanda energia mental. Dan Ariely, em vários experimentos, demonstra que, à medida que as pessoas ficam mais cansadas, elas perdem a disciplina. Ao chegar cansado em casa à noite, você pede uma pizza. Ao acordar ao lado do mar em um dia de sol, você pede um café da manhã com frutas. Tome suas decisões de investimento descansado e dedique a energia que você tem para estudar e embasar a sua decisão.
    
Frustação/Irritação: no filme “Um dia de fúria”, de 1993, o personagem vivido por Michael Douglas, divorciado, desempregado, preso no trânsito e com ar-condicionado quebrado simplesmente enlouquece e sai atirando em todos que encontra em um dia em que nada parece dar certo. Às vezes, tomamos decisões impulsivas, que nunca tomaríamos, simplesmente porque estamos irritados. Nossas decisões financeiras podem ser pragmaticamente dissociadas das nossas frustrações diárias. Demanda energia e disciplina, mas, sabendo que você está irritado, procure não decidir nada importante.

Voltamos ao ponto em que eu dizia que estou irritado com o que está acontecendo com o Brasil. Sinto que as pessoas confundem minha defesa das reformas do Temer com uma defesa da pessoa Temer. Tem gente que prefere ver tudo parando, gritando “Diretas Já” como um adolescente mimado, sem avaliar pragmaticamente as implicações reais desse tipo de demanda.
      
Até o PMDB, um partido absolutamente fisiológico, entende a inevitabilidade das reformas para que o Brasil seja minimamente viável. É essa a base do meu “otimismo” com o País.
    
Vai melhorar simplesmente para continuar existindo, para não falir como o Rio de Janeiro. Toda a exigência de “moralidade absoluta” das pessoas, cegando-as para a realidade de que não existem inocentes em nenhum dos três poderes, paralisa o movimento de melhorias no Brasil.
    
Essa irritação – e frustração – pode se transformar em fúria. Nada de bom pode surgir desse ambiente e, portanto, pare de jogar lenha nessa fogueira. Mas, principalmente, não jogue suas economias fora pelo fato de que você não acredita mais na classe política. Eu quero é que esse governo acabe logo. Só faltam 18 meses.
    
Nesse estado de espírito, não posso ajudá-lo a ganhar dinheiro. Esta semana eu não fiz nada de bom. Mas também não fiz nada de ruim. Tenho certeza que, enquanto o STF for capa de jornal, vou estar irritado demais para ter uma ideia boa de investimento.
     
Para esses momentos, eu tenho meu plano de longo prazo: permanecer investido em empresas que sobreviveram e lucraram em momentos sombrios da economia e da política do Brasil. Esse é o teste em que só os melhores negócios, com boa gestão, são aprovados.

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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