Oi.
Às vezes precisamos ter sorte. Há pouco tempo mudamos a sugestão de Bolsa para os assinantes de A Carta. Em poucos dias, o humor do mercado mudou completamente. Um evento totalmente fora do radar – uma manifestação de caminhoneiros – ganhou uma proporção inesperada e o país está literalmente parando.
O que a princípio era bom para a Petrobras forçou uma ruptura do que o mercado assumia como um “modelo” de precificação de combustíveis. Uma vez rompido esse modelo, o caos e a incerteza se instalaram e os preços das ações desabaram.
Já disse isso outras vezes e essa é uma excelente hora de frisar esse tema. Quando falamos de investimento, assumimos que existe um retorno esperado. Acreditamos que o objetivo da empresa é gerar resultados ao acionista. Esse retorno pode ser maior ou menor em função de variáveis de mercado, mas o dono da empresa, em princípio, deve ter como objetivo ganhar dinheiro junto com a empresa.
No entanto, o objetivo de um político (qualquer político) é permanecer no poder. Ele não é dono da empresa, mas recebeu dos eleitores o direito de controlá-la. Acima do político só existe uma autoridade: o eleitor. Mas esse mesmo eleitor muitas vezes está do outro lado dessa relação, como consumidor da empresa que o político que ele elegeu controla. Esse é o conflito fundamental.
Uma sociedade de capital misto não precisa buscar o lucro máximo no longo prazo. Isso não é desejável pelos legítimos donos: os eleitores. Entre uma empresa forte e lucrativa ou produtos e serviços essenciais baratos, o eleitor sempre vai escolher a segunda opção, mesmo que eventualmente ele tenha que pagar de volta na forma de impostos. Isso é uma transação perfeitamente racional e natural.
O que não é natural é alguém querer ser “sócio” de um político e ficar decepcionado quando ele faz o que é esperado dele. O presidente Michel Temer não queria mexer na regra combinada com o presidente da Petrobras, Pedro Parente. Mas ficou sem escolha.
Quando for investir em ações de empresas estatais leve em conta esta realidade: elas não são ações como as das empresas privadas, sujeitas a riscos e oportunidades do mercado. São instrumento de política e serão usadas politicamente sempre. Porém, de vez em quando, dão oportunidades excelentes de compra.
Políticos muitos ruins são substituídos por políticos menos ruins e isso se reflete nas ações. Mas nunca é possível extrapolar essa melhora para a perpetuidade, já que os menos ruins eventualmente dão lugar novamente aos muito ruins. Esse é o ciclo perpétuo de esperança e frustração que só se encerra numa eventual privatização.
Estamos num momento de incerteza política máxima. O importante é estar preparado para se adaptar às mudanças que virão. Com incertezas e riscos, surgem oportunidades. Isso me deixa muito animado e ansioso, obviamente, mas convicto de que se nos mantivermos alertas e disciplinados, vamos ganhar com essa turbulência.
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Um abraço,
Pedro