Oi.
Donald Trump conseguiu cumprir uma de suas principais promessas de campanha: reduzir o imposto sobre o lucro das empresas americanas para estimular o investimento e a repatriação de capital das grandes multinacionais.
Mais uma vez, os políticos se comportaram como o esperado. Ninguém quer ser contra o corte de impostos: nem os Democratas. Os mercados comemoraram, e os índices, tanto o americano, quanto os de outras bolsas mundiais, continuaram a quebrar recordes e janeiro foi uma festa nos mercados. Talvez ele tenha feito a coisa certa, mas na hora errada.
Silenciosamente, a taxa de juros dos títulos americanos começou a subir. Inicialmente o movimento foi interpretado como um sinal de confiança na aceleração da economia. Na cabeça de todos, o conceito de inflação estava morto. Até que uma informação de rendimento do trabalhador veio fora da normalidade, indicando uma aceleração de salários. Rendimento por hora trabalhada em alta é ao mesmo tempo sinal de demanda e de custo crescente, combustível para aumento de preços.
Mas qual político teria a brilhante ideia de cortar impostos em uma economia a pleno emprego e com dívida pública recorde em tempos de paz, ao mesmo tempo em que defende políticas protecionistas e nacionalistas?
Resposta: a Dilma fez a desoneração fiscal quando o desemprego no Brasil era de 4 por cento (muito baixo). Guardadas as devidas proporções, esse foi um movimento semelhante embora em uma economia muito mais sólida.
Na segunda-feira os mercados viveram um abalo. Em minutos o Dow Jones perdeu 1.500 pontos e, apesar da recuperação, fechou em queda recorde superior a 1.000 pontos. Muitos analistas se apressaram em dizer que não havia motivo para ficar nervoso. Era um fenômeno isolado e tudo voltaria ao normal.
Mas e se esses fundos fossem apenas o elo mais fraco e aparente do sistema? Anos de montagem de posições vendidas em volatilidades não desaparecem em um dia. E se, com esse tremor inicial, algo maior tenha se quebrado e as consequências disso só venham a aparecer no futuro?
As primeiras quebras no subprime aconteceram em 2007, mas foi só em 2008 que a verdadeira dimensão do mercado de derivativos de crédito foi revelada. E eram muito mais extensas que o mercado de subprime, o elo mais fraco. Firmas centenárias deixaram de existir e uma intervenção inédita e coordenada dos principais bancos centrais do mundo nos trouxeram até aqui.
Agora temos inflação em alta, bancos centrais iniciando desmontagem de balanço e juros começando a subir. Se isso se confirmar, estamos entrando em um período de incertezas.