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Hoje, vamos observar o poder de uma frase solta, algo que pode impactar mais do que falas do comitê ou comunicados de um órgão oficial; neste caso, o Banco Central.
Na semana passada, em um evento privado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que no combate à inflação, o Banco Central estaria preparado para continuar usando todos os instrumentos possíveis, mas que o atual ritmo parecia apropriado, dando a entender que na próxima reunião do Copom, que acontece em 21 e 22 de setembro, irá subir a taxa 1%.
Essa fala foi reproduzida em um ambiente privado com 50 pessoas e teve muito mais repercussão e poder do que a própria reunião do Copom.
Isso porque nas últimas reuniões do Copom, o mercado estava em consenso ou entre duas alternativas. E as diferenças são ajustadas no dia seguinte à reunião. Em um Copom dividido, seus resultados possuem o poder de mudar a precificação dos ativos em até 10 vezes basis points (pontos base, que apontam variações como mudanças nas taxas de juros, comparações entre taxas, medidas de risco, etc.).
O comentário de Roberto Campos teve o poder de alterar a curva em 75 basis points, foi 7 vezes mais impactante. Conforme a inflação foi subindo, chegamos a ter uma curva 135 basis points.
Quando o mercado entendeu que agora esse número será 100, com o risco de ainda ser um pouco maior, eles retiraram 75 basis points da curva, ou seja, a curva que hoje em dia coloca 100 basis em 3 reuniões, com os juros para o final do ano chegando a 8.25%; chegou a bater 9%. Alguns bancos chegaram a declarar que nas próximas reuniões poderíamos ter altas de até 1,5%.
Apesar de tudo isso ser extremamente impactante, o efeito esperado sobre o mercado não aconteceu, afinal, todo esse evento não era esperado.
Isso remete ao assunto do nosso último vídeo, em que falei sobre um evento que todos esperávamos, as manifestações de 07 de setembro.
Nesse evento, aconteceu algo simples, mas com reações totalmente complexas. As pessoas não conseguiram interpretar o que aquilo queria dizer e o mercado sentiu. Evento esperado, simples, que obteve uma reação complexa e o mercado reagiu de forma sensível.
Na semana passada, a fala de Roberto Campos foi um evento inesperado, pois, de uma certa forma, adiantar o assunto da reunião que está para acontecer gera suposições. Foi uma fala simples, indicando que os juros serão menores, e uma interpretação sobre isso não exige complexidade para quem é atuante no mercado e compreende que juros baixos deveriam fazer o dólar e a bolsa subir.
Em comparação com as outras edições do Copom, o que aconteceu desta vez foi muito mais impactante e o dólar não teve altas expressivas, o mercado praticamente permaneceu estável.
Tudo isso revela que dissonâncias cognitivas existem sempre que ocorre algo inesperado.
Obviamente, a situação pode se reverter, o dólar pode se reverter. Mas é interessante observarmos que em um dia que o mercado andou 75 basis points de precificação, a reação foi praticamente zero. E a repercussão de uma fala do presidente do Banco Central foi alta por ter sido um evento inesperado.
Um abraço,
Rodrigo Natali