O risco e o retorno pioraram?

28 de março de 2022
Na avaliação de investimentos, quanto mais riscos em uma conjuntura, maior a possibilidade de retorno. Mas a realidade é que isso nem sempre acontece. Entenda no Relatório de hoje.

Caro(a) leitor(a),

Na avaliação de investimentos, a relação entre risco e retorno tem um peso fundamental para o investidor racional. Supondo que as outras variáveis, diversas e em constante mutação, fossem estáticas, apenas para o nosso exercício mental, em um mesmo cenário, um preço mais caro deveria atrair menos capital. Logo, um ativo mais barato deveria atrair mais investimento.

Ao mesmo tempo, quanto mais ameaças em uma conjuntura, maior a possibilidade de retorno. No entanto, a realidade é que isso nem sempre acontece porque, de forma fundamental, raramente os riscos mudam muito ou deixam de existir.

Obviamente, com novos fatos, criam-se novas possibilidades, mas o risco real é normalmente diferente do risco percebido pelas pessoas, e isso vale tanto para momentos de pessimismo quanto de otimismo.

Por exemplo, o mercado em meados do ano passado (quando a bolsa fazia suas máximas e com a febre dos IPOs), mesmo com os problemas fiscais já ocorrendo, com o BC fazendo uma alta da taxa Selic e com os juros futuros mais longos saindo de 6% ao ano para 9% ao ano, entrou num momento de excesso de otimismo. Entretanto, meses depois, vimos o índice cair 30% e algumas favoritas caindo 80%. Na época, sugerimos posição em caixa, títulos de inflação curta e ficamos fora de todos dos IPOs.

Poucos meses depois, nossa bolsa fazia as mínimas contra uma bolsa americana que atingia suas máximas. De repente, o pessimismo local virou consenso e vimos um fluxo de saída de recursos para compra de criptoativos e BDRs como nunca visto antes. Não só era óbvio que o mercado externo e tudo que fosse estrangeiro não iria parar de subir, assim como nossas ações não iriam parar de cair.

O que aconteceu foi, de novo, o contrário: nossa bolsa se tornou a melhor do mundo enquanto a americana, em alguns casos, chegou a cair 20% de suas máximas. Novamente, na época, sugerimos vender bolsa nos Estados Unidos e, principalmente, depois de meses conservadores, entrar na bolsa aqui.

Desde então, a nossa visão não mudou muito, mas voltamos a ficar mais conservadores diante de um cenário do qual os preços se tornaram piores e os riscos aumentaram.

Nas últimas três semanas tivemos mudanças extremas nos preços, e com isso, surgiram várias narrativas diferentes para justificá-las. Já se diz que não existe mais risco eleitoral para o mercado financeiro, pois ambos os candidatos serão pró-mercado, apesar de um deles ter dito exatamente o contrário.

Além disso, o mercado começou a se portar como se o conflito entre Ucrânia e Rússia estivesse superado. Colocando no preço que, com o final próximo da guerra, as coisas voltariam ao normal, quando, na verdade, sabemos que teremos consequências no comércio exterior e nas relações entre os países que jamais serão as mesmas.

Também tivemos as maiores altas nas taxas de juros americanas em quase 40 anos, mas isso não teve efeito nas bolsas porque uma vez que elas subiram, da mesma forma, devem cair, o que seria positivo.

E, mesmo em um mundo onde houve tanta destruição de riqueza, as pessoas estão se alavancando e tomando mais risco migrando de ativos mais seguros para os mais arriscados, chegando ao ponto de estarmos vendo as pessoas tomando empréstimos em Yen para fazer investimentos de risco no mundo. Tudo isso acontece em um momento, que além de tudo, o banco central americano começa sua alta de juros num ambiente inflacionário não visto em décadas, como falamos acima.

Com tudo isso, o risco aumentou e o retorno se reduziu. Em um momento como esse, por mais que ainda seja razoável ter ações brasileiras, avalio que vale reduzir as posições e se preparar para uma reprecificação dos mercados, um fenômeno que tem o potencial de ser tão agressivo quanto o movimento que vimos recentemente.

Acertar o timing correto desse tipo de virada é quase impossível, mas a ideia mais importante é que nem sempre um movimento recente vai se replicar no futuro e muitas vezes, principalmente na história, o consenso tem se provado errado.

Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv Publicações

 

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Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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