Investir em futebol: razão ou coração?
Por Ivan Sant'Anna
No início de junho de 1973, viajei para Amsterdã, na Holanda, com o Antonio José de Almeida Carneiro, que o mercado sempre conheceu como Bode, para contratarmos o Ajax (então o melhor time de futebol do mundo) para jogar dois amistosos no Brasil: um contra o Flamengo, outro contra o Corinthians.
Não chegamos a discutir cifras e datas, pois o Ajax já tinha seu calendário comprometido para os próximos dois anos.
Como no dia seguinte, sábado, 9 de junho, a seleção brasileira iria enfrentar a Azurra, no estádio Olímpico de Roma, viajamos de Amsterdã para lá. Antes da partida, almoçamos com o Zagallo, técnico do Brasil. Falamos do Ajax e da seleção holandesa, a Laranja Mecânica, que tinha como grande atração o astro Johan Cruijff.
“Conversa fiada” disse o ‘Velho Lobo’. “Quando eles encararem a camisa amarelinha, vão tremer nas pernas.”
Pois bem, em 1974 veio a Copa e topamos com os holandeses na semifinal.
Como achava a Holanda uma barbada, apostei 50 mil dólares contra um verdadeiro sindicato de operadores de pregão da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Claro que torci pela Holanda. Afinal de contas, 50 mil dólares de 1974 equivalem a mais de 1 milhão e 600 mil reais em valores de hoje. Com gols de Neeskens e Cruijff, eles venceram por 2 a 0 e nos eliminaram.
Agora as páginas esportivas dos jornais dão conta de que o Ronaldo Fenômeno está constituindo uma empresa para administrar o Cruzeiro, assumindo inclusive as dívidas do clube. O Globo de hoje relata que o Botafogo está se transformando em S.A.
Acredito que num horizonte não muito longe alguns clubes brasileiros se tornarão empresas de capital aberto, com ações negociadas na B3.
Quando, e se, isso acontecer, quem souber investir ou especular com a razão, deixando o coração de lado, vai ganhar muito dinheiro.
Ou vocês, caros amigos leitores, acham que um corintiano roxo vai comprar ações do Palmeiras?